Este
profissional jamais deverá ser esquecido. Ele inventou o Rádio moderno e
escreveu sua história na Rádio Globo do Rio de Janeiro. Mário Luiz
Barbato ou apenas Mário Luiz. Seu nome é Rádio e os Marinhos deveriam ser
eternamente gratos por tudo o que ele fez.
Mário
tinha um jeito particular de planejar a programação de uma emissora, que aliava
sua intuição a transformação de ideias apresentadas. De 1960 a 1996, colocou a
Rádio Globo e posteriormente a Mundial 860, entre as emissoras mais copiadas do
país. Com importantes acertos e pouquíssimos erros, moldou formatos que
subsistem até os dias de hoje. Formatos definitivos. Durante muitos anos ouvi
aquela Rádio ágil, sempre atualizada, com música boa, informação, esporte e
prestação de serviço. Não tenho dúvidas em afirmar para os leitores do Site
Show do Rádio, que Mário Luiz foi o INVENTOR DO RÁDIO MODERNO, um gênio que
mais que insubstituível, se tornou para mim INESQUECÍVEL.
Dos
amigos de outrora apenas alguns que trabalharam no SGR não o abandonaram
, José Carlos Araújo, Kleber Leite, Guilherme de Sousa e José Cláudio Barbedo,
o Formiga e outro amigo dos bons tempos que foi Artur Sendas(infelizmente
morreu de forma trágica). Ninguém mais.
O Site
Show do Rádio guardou arquivos e documentos históricos deste ícone da
comunicação e relembra agora um pouco de sua trajetória.
Com 22
anos, filho de metalúrgico e costureira, de família simples e honrada, Mário
foi trabalhar para ajudar no sustento de casa. Os estudos de Engenharia
financiados por uma tia, lhe permitiram um emprego na Empresa de Engenharia
Hidráulica e Elétrica da Rua Bueno Aires, SILVA PANTOJA ENGENHARIA LTDA.
Em casa o
ambiente era de Rádio ou melhor da Rádio Nacional, emissora que Mário Luiz
ouvia desde a infância e era fã de Cesar Ladeira, ,um dos maiores locutores da
época.
Torcedor
do América, Mário Luiz gostava de futebol e foi na Rádio Mauá com o Narrador
Orlando Batista que teve sua primeira chance. Orlando gostou da sua voz e lhe
deixou ler a Resenha do programa.
A Super
Tupi do Rio era uma Rádio respeitadíssima nos anos 40 pelo cast que possuía e
segurava o Segundo lugar. Carlos Frias um grande nome da Tupi o ouviu e lhe fez
a proposta, imediatamente aceita. Mário ainda fascinado com tanta grandeza, se
encantava com ARY BARROSO e seu estrelismo e mais tarde revelou como Ary era
temperamental e chato. E foi na Tupi que conheceu DOALCEY BUENO DE
CAMARGO que por ter um irmão trabalhando na Rádio Globo (o Wolney Camargo)
acabou o encaminhando pra lá.
A Rádio
Globo ficava na Av. Rio Branco, no Edifício sul-rio-grandense e lá
Mário Luiz bem cedo, ajudava na produção daquele programa de Ginástica ao
vivo.
Mas, ginástica mesmo, era o que Mário tinha que fazer para continuar na
Firma de engenharia Silva Pantoja e trabalhar no que mais gostava …Rádio.
Sapato tinha apenas um, e o gastava até o fim. As vezes chegava as 2 da
manhã em casa e tinha que acordar as 7 para começar a luta diária.
E foi ali na Globo do Rio , ouvindo programas como CONVERSA EM FAMÍLIA de
Urbano Loes, Raul Brunine e outros, que o maior diretor de Rádio deste país foi
aprendendo, para escrever o capítulo mais importante do SGR.
Eram os anos 50 e Mário Luiz ganhou a oportunidade de ajudar um locutor chamado
REINALDO DIAS LEMES em um programa de informação onde , os dois liam
algumas notícias, até o dia em que o experiente Reinaldo tropeçou
engasgando e disparando a rir com um nome japonês. Resultado? A corda
arrebentou do lado mais fraco, Mário Luiz foi demitido.
O diretor
artístico da época, era um cara de confiança do Dr. Roberto Marinho, um
tal de Henrique Tavares, que depois ficou sabendo que a risada no programa não
era de Mário e sim do outro locutor. Recontratado, ganhou o programa e passou a
vender patrocínios. Mas Mário ainda muito novo, sonhava com o horário noturno
da Rádio (NAQUELA ÉPOCA O HORÁRIO NOBRE ERA A NOITE) e a chance veio porque
Jonas Garret fora acusado de praticar JABÁ, no programa das 10 da noite,
o Clube do Toca Disco ou seja, cobrar de artistas para tocar música, atitude
que irritou profundamente LUIS BRUNINE o grande diretor da época. Conta-se que
certo dia, Luis Brunine demitiu quase 20 funcionários de uma só vez por
suspeita da prática de Jabá dentro da Rádio Globo.
No Clube do Toca disco, Mário encontrou uma forma de prestigiar as gravadoras,
conseguindo, inclusive bons patrocínios para a Rádio.
Os anos 50 foram tumultuados, principalmente em 1954, quando a Rádio Globo em
oposição a Getúlio Vargas abria espaços generosos para o polêmico Carlos
Lacerda descer o sarrafo no Presidente até a sua morte. O prédio da Av. Rio
Branco foi cercado pela população revoltada com a Rádio.
Mário viveu tudo isso, ainda novo.
Chegaram
os anos 60 e a Rádio Nacional ainda mandava na audiência, seguida ao
longe pela Mayrink Veiga e Tupi, a Globo ficava ali pelo sétimo lugar. Começo
dos anos 60 e Mauricio Quadros dirigia a programação, o gringo tinha talento,
mas era desorganizado, o contrario de Mário Luiz, que, ao cobrir as férias de
Maurício, organizou a casa e agradou geral.
Na volta, o próprio diretor não quis mais continuar e ali começou a história do
homem que mudou a cara do Rádio carioca e brasileiro.
Mal começou e já foi mexendo com a grande vedete, o maior nome da Rádio na
época, o Luiz de Carvalho (durante muitos anos Mário brigava com Luis de
Carvalho e a reconciliação viera anos depois). Mais uma vez Mário foi afastado
do cargo, para ser efetivado, com moral e autonomia a partir de 1966, por Luis
Brunine.
Em viagem
aos EUA Mário Luiz e Luis Brunine chegaram a conclusão que o Rádio divertimento
acabara.
Divertimento agora era da Tv e o Rádio precisava tomar outros rumos. Eles,
Mário e Brunine fizeram a leitura correta, já a Rádio Nacional não, e por isso
foi despencando na audiência.
A Globo
era a Terceira colocada a Mayrink Veiga a segunda e a Nacional ainda Primeira.
Mesmo com os programas da Rádio Nacional sendo engolidos pela Tv, a emissora
tentava a mesma programação que a consagrara nos anos passados e foi
exatamente aí onde a queda se deu. A Globo crescia e a Nacional
despencava. Em 1966 a emissora de Roberto Marinho já sairá do sétimo para a
segunda posição no Ibope e a Mayrink Veiga a primeira. O Governo no entanto
fechou a Mayrink Veiga e a GLOBO saltou para a liderança para não mais deixar,
até aos dias de hoje, exceto em alguns horários.
A partir de 1966 o papel de Mário Luiz foi sem dúvida nenhuma o mais importante
para história do Rádio. Aqui começou a grande transformação do Rádio
Brasileiro.
Mário
implantou na Globo por sugestão de um grande amigo e homem ligado a
música, o tripé MÚSICA-ESPORTE-NOTÍCIA.
Tratava-se de MIGUEL GUSTAVO, aquele mesmo que compôs a música da Copa de
70(Pra frente Brasil, salve a seleção).
Começava
ali uma época de ouro para Rádio Globo. O Rádio teatro e de auditório perdia
espaço para um novo jeito, uma nova visão, nova abordagem, comunicação
coloquial, Rádio diálogo e o Comunicador Amigo. Prestação de serviço,
Jornalismo forte e uma nova roupagem sonora. As vinhetas imitadas
dos americanos, algumas gravadas por eles e terminadas aqui.
Mário
Luis exigiu o noticiário de hora em hora como era feito na Nacional com o
Repórter Esso. Agora O GLOBO NO AR nas horas cheias e não se permitia
atraso. Em 1962 com mais uma idéia de Miguel Gustavo, um novo noticiário
já estava no ar, desta vez em dupla, a Meia Noite, O SEU REDATOR CHEFE (A idéia
era expressar exatamente o que ROBERTO MARINHO era).
Pouco
depois, O Repórter Esso chegou para a Globo e a Esso contratou Roberto
Figueiredo como locutor oficial.
Nesse Tempo falava na Globo locutores noticiaristas como ARSÊNIO ATAS, BERTO
FILHO, CARLOS NORONHA, LUCIANO ALVES, SÉRGIO MORAES, VOLNEY SILVA, dentre
outras belas vozes.
Os
comunicadores Luis de Carvalho, Mário Luiz, Roberto Muniz, Haroldo de
Andrade (recém chegado), Paulo Moreno, Jonas Garret, Adelzon Alves (recém
chegado do Paraná) e Paulo Diniz o locutor de Recife que virou cantor de
sucesso depois. (Pingos de amor, Chop pra distrair e outros)
Com a saída de Luis de Carvalho para a Rádio Clube do Brasil, Mário Luis
efetivou Haroldo de Andrade das Nove ao Meio Dia e assumiu ele mesmo o
Chá das três, que ganhou por motivos de justiça um novo nome , agora era
o NOSSO CHÁ.
No
Esporte Waldir Amaral comandava e o garotinho José Carlos Araújo, ainda
moço, começava na Globo.
A Globo comandava a audiência em 1.180 e Mário Luiz cada vez mais
prestigiado, como diretor e brilhando como comunicador. Seu Programa, NOSSO
CHÁ, tinha um quadro de piano, onde as atrações eram ao vivo e por lá passaram
grandes nomes, como Geraldo Vandre e Sérgio Ricardo. Outro quadro do NOSSO CHÁ
de Mário Luis era o BOA TARDE SENHORITA, que tinha a colaboração de uma bela
voz na interpretação, a de CARLOS NORONHA ( você vê na foto Mário Luiz e Carlos
Noronha ).
Chegaram
os anos 70. Brasil Campeão e ano de grandes mudanças na Rádio Globo, sempre
líder. Contratado da Nacional, para o esporte, o reforço de Jorge Cury e João
Saldanha e começava a aparecer comunicadores até então desconhecidos que se
tornariam ícones na emissora.
Valdir
Vieira começou no SHOW DA NOITE para concorrer com tal de Paulo Giovanni na
Tupi. Giovanni hoje um dos maiores publicitários do Brasil, apareceu bem,
quando DUDU DA LOTECA ao aceitar a sugestão do programa na Tupi, ganhou sozinho
na Loteria Esportiva. A Globo contratou Paulo Giovanni e o colocou a tarde,
para ser o Comunicador simpatia do Rádio Carioca. Valdir Vieira também a tarde
e Roberto Figueiredo com o Fim do Repórter Esso se torna comunicador e assume o
SHOW DA NOITE. Mudanças todas feitas pelo gênio Mário Luiz. Haroldo brilhava de
manhã, Luciano Alves acordava o Rio, Adelzon Alves era definitivamente O AMIGO
DA MADRUGADA. A Globo do Rio ainda tinha no timaço de Mário Luiz, Moacir Bastos
com seu jeito caipira, Sidney Teixeira, O Cidinho em alta velocidade e Edmo
Zarif A VOZ PADRÃO.
Em
26 de Outubro de 1976 a Rádio Globo mudava de frequência e passava dos 1.180
para 1220, UM CANAL INTERNACIONAL e a Rádio alcançava o Brasil inteiro a partir
das 5 da tarde. A Rádio feita por Mário Luiz era poderosa e a audiência
indiscutível.
Padrão de voz e de qualidade dos profissionais, vinhetas geniais, noticiaristas
fabulosos como: Guilherme de Sousa, Izac Zaltman, Luiz de França, José Lino,
Carlos Bianchini, Dirceu Rabelo, Oduvaldo Silva, Léo Batista, Reinaldo Costa e
outros. Depois vieram Gilberto Lima, Antonio Leal e o próprio Zarif virando
comunicador.
Anos 80,
cresce mais e mais o poder de Mário Luiz no SGR, respeitado, conhecido e
consagrado, Mário é chamado para salvar uma das empresas do Dr. Roberto
Marinho. A Mundial 860 e quem conhece essa história pode dizer o quanto, o
homem que inventou o Rádio moderno era mesmo um Gênio. A Super Jovem Mundial
foi a grande escola dos Fms, linguagem ousada e inovadora. Um sucesso
extraordinário!
Chegaram
os anos 90.
Mário já
tinha feito tudo ou quase tudo. Trazia dentro de si, o sentimento do dever
cumprido, mas apaixonado pela Rádio que construiu com seu imenso talento e
liderança, viu crescer dentro do SGR o poder do filho de Roberto Marinho… o Sr.
José Roberto.
Mudanças a vista, desconstrução de um sonho.
Mário já
tinha visto Haroldo de Andrade A PERSONALIDADE DO AR, o maior comunicador do
país tentar uma saída frustrada para BANDEIRANTES RIO e por fim Mário percebeu
que era hora de sair definitivamente. A Rádio seria administrada lá da TV
Globo.
O maior diretor de Rádio de todos os tempos ainda arriscou continuar na
Rádio Tupi do Rio ao lado do amigo Alfredo Raimundo, com ele tambem foi
Guilherme de Sousa e outros.
Brilhou…brilhou
sim na Tupi , mas porque era brilhante, pois na verdade sua paixão pela Rádio
Globo não lhe permitiu continuar.
Aposentado, ganhava prêmios e reconhecimento por todos os lados, menos pela Rádio
que fez e consagrou.
A Rádio
Globo de hoje, não é nem sombra do que foi, nas mãos de Mário Luiz, que deixou
imensa saudade em seus fãs por todo o país. Acidentado, parou, cansou,
chorou, sorriu, viveu, conviveu com os seus e partiu ,marcando profundamente
seus familiares. Os jornais publicaram pequenas notas da sua morte e da
importância da sua arte. Na Rádio Globo poucas menções (dentre elas a bonita
homenagem do programa GLOBO ESPORTIVO).
A mesma
emissora que se esqueceu de Mário Luiz, depois de sua saída (Mário foi
substituído por um tal MARCOS LIBRETE), também demitiu Haroldo de Andrade, sem
lhe dar a chance de se despedir de seus ouvintes cativos a 40 anos, é também a
mesma que mandou embora, líder disparado de audiência, Jorge Curi.
Só nos resta chorar e se emocionar com tudo isso!
EXISTEM
HOMENS IMPORTANTES E OUTROS QUE SÃO IMPRECINDÍVEIS.
EXISTEM PROFISSIONAIS QUE MARCARAM PELO SEU TALENTO E OUTROS QUE SE TORNARAM
INESQUECÍVEIS E MÁRIO LUIZ FOI UM DESSES.
Mário Luiz (Carioca) com Show da Rádio