Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
Amigo de Patrick Machado chora durante velório | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
"Quero meu filho. Tem que matar esses assassinos", disse a mãe de Glauber, antes de desmaiar. Outra parente do jovem também passou mal e precisou receber atendimento médico. Alguns caixões foram cobertos com bandeira e camisa do Fluminense.
Os rapazes foram localizados nesta segunda-feira por funcionários de uma obra às margens da Rodovia Presidente Dutra, no bairro Jacutinga, em Mesquita.
O governador Sérgio Cabral disse nesta terça-feira que a chacina ocorrida na Favela da Chatuba, em Mesquita, na Baixada Fluminense, é uma tentativa do tráfico de afrontar o Estado. "A origem dessas ações é tentar enfraquecer a política de segurança implantada pelo governo. Mas assim como aconteceu em outras comunidades, o Estado não vai aceitar esse tipo de ação. Vamos responder como estamos fazendo", afirmou o governador durante o lançamento do projeto Dupla Escola, no Palácio Guanabara.

Morte de seis jovens choca o Rio


Bandidos matam seis jovens em Mesquita. Velório coletivo foi realizado em escola em Nilópolis, local onde o grupo morava.
Cabral disse ainda que não haverá alterações na política de segurança do Estado. "Ações de violências como essa são uma reação dos bandidos ao enfraquecimento e diminuição de seu poder", completou.
Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Parentes se emocionam durante velório das vítimas | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Ocupação da Chatuba tem 12 presos
Policiais já prenderam 12 pessoas durante operação realizada por policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Choque (BPchq) na Favela da Chatuba, em Mesquita e Nilópolis, na Baixada Fluminense, iniciada na madrugada desta terça-feira. Entre os presos estão Luiz Alberto Ferreira de Oliveira, o Beto Gordinho, de 29 anos, Ricardo Sales da Silva, 25, e Mônica da Silva Francisco, 20. Os presos serão interrogados sobre as mortes dos seis jovens no último fim de semana. Entre os capturados estão dois menores de idade.
De acordo com a polícia, Gordinho saiu da cadeia há cerca de uma semana, onde ficou preso por 27 dias. Ele teria sido preso por policiais militares do 20º BPM (Mesquita) após ser encontrado com munição de uso restrito. Com o suposto traficante, os policiais do Bope encontraram R$ 15.099 escondidos em uma lancheira infantil, além de 20 gramas de cocaína. O acusado só permitiu a entrada dos militares após a chegada de seu advogado.
Com Ricardo e Mônica, os policiais encontraram 933 papelotes de cocaína e 41 pedras de crack. As embalagens de drogas eram ilustradas com fotografias do jogador holandês Seedorf, no caso do crack, e da cantora inglesa Amy Winehouse, nos papelotes de cocaína.
Cerca de 250 PMs ocupam nesta terça-feira a Chatuba. Uma parte do efetivo foi levada para a região dentro de quatro blindados da Marinha, que logo deixaram a comunidade. O relações públicas da Polícia Militar, coronel Frederico Caldas, informou que a ocupação da Chatuba é definitiva. Os PMs estão em busca dos responsáveis pela morte de seis jovens, cujos corpos foram encontrados nesta segunda.
Também foram mobilizados homens da Companhia de Cães, da Coordenadoria de Inteligência da PM e da 3ª Companhia de Policiamento Aéreo. A PM começou a instalar nesta terça uma companhia integrada com 118 policiais. A sede será na localidade do curral, na parte da favela que fica em Mesquita. O local é considerado um ponto estratégico por estar próximo da parte alta da comunidade e do acesso à mata.
Policiais apreenderam 15 mil reais em espécie e drogas | Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia
Policiais apreenderam 15 mil reais em espécie e drogas | Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia
Os corpos são velados na manhã desta terça-feira no Ginásio Municipal de Nilópolis, no bairro Cabral, onde eles moravam. O enterro está marcado para as 13h, no Cemitério de Olinda, no município.
Enquanto as obras da sede da companhia não são concluídas, a PM vai instalar contêineres provisoriamente. Por volta de meia-noite, as tropas se concentraram no quartel do Corpo de Bombeiros de Guadalupe, de onde uma hora depois, seguiu em comboio até a favela. Mais de 40 carros do Batalhão de Choque chamaram a atenção de quem passava pela Avenida Brasil.
Crime pode ter sido cometido por 20 traficantes
O clima era de medo no bairro Cabral, em Nilópolis, nesta segunda-feira, local onde os corpos de Douglas Ribeiro, de 17 anos, Christian Vieira, 19, Victor Hugo Costa e Glauber Siqueira, 17, e Josias Searles e Patrick Machado, 16, foram encontrados na mata no bairro Jacutinga, às margens da Rodovia Presidente Dutra, em Mesquita.
A polícia investiga se as mortes teriam sido cometidas por ao menos 20 traficantes. PMs do 20º BPM (Mesquita) fizeram rondas pelas ruas. Duas escolas suspenderam as aulas à tarde, e viaturas da polícia fizeram plantão em frente aos colégios estaduais Bartlet James e Marechal Zenóbio da Costa.
Foto: Arte: O Dia
Arte: O Dia
Segundo moradores, alunos receberam mensagens pelo celular de que bandidos iam invadir as escolas.“Saímos assustados da escola. Mas não aconteceu nada. Parece que foi boato”, disse o estudante J.P., de 14 anos, da Bartlet James.
Na Marechal Zenóbio da Costa, professores preferiram deixar os estudantes na escola, no turno da tarde, por questões de segurança. Porém, os pais foram buscá-los, e as aulas acabaram suspensas.

“Achamos que era mais seguro deixá-los aqui. A polícia está patrulhando, mas os pais os buscaram”, disse uma professora que não quis se identificar.

“Precisamos de policiamento urgente. O bairro está tomado por medo”, disse um morador que não quis se identificar. Em estado de choque, uma tia e o pai de Glauber pouco falavam durante esta segunda-feira, no IML do Rio, para onde os corpos foram levados. “Neste momento não sei o que dizer e ou o que fazer”, disse a tia.
Foto: Fábio Gonçalves / Agência O Dia
Moradores fizeram protesto em rua onde jovens moravam | Foto: Fábio Gonçalves / Agência O Dia
Mortes brutais

Desaparecidos desde sábado, quando saíram de um festival de pipas para se refrescar na cachoeira do Parque de Gericinó, os rapazes — entre 16 e 19 anos — foram localizados nesta segunda-feira por funcionários de uma obra.

Condenadas a sessão de tortura, as vítimas foram amarradas, baleadas na cabeça e, logo depois, abandonadas sem roupa. O mesmo grupo de bandidos pode ser responsável pela morte de um cadete e um pastor, que estaria com um amigo, que desapareceu.

Foi a segunda chacina em menos de 24 horas na Baixada. No domingo, quatro pessoas foram mortas em uma casa em Japeri. Os criminosos também fizeram terror psicológico com parentes dos garotos. Ao pai de uma das vítimas, um dos bandidos disse por telefone: “Melhor fazer outro filho porque esse aqui já era”.
Foto: Fábio Gonçalves / Agência O Dia
Corda usada para amarrar um dos jovens em terreno onde corpos foram encontrados | Foto: Fábio Gonçalves / Agência O Dia
A confirmação das mortes acabou com a esperança das famílias. “Passamos dois dias de angústia. Os criminosos nos impediram de ir até a mata para procurá-los. Eu só queria meu sobrinho vivo”, desabafou a tia de um deles.

Para investigadores, o motivo da barbárie ainda não foi esclarecido, mas os responsáveis pelos assassinatos são traficantes da Favela da Chatuba, em Mesquita, comandados pelo chefão Remilton Moura da Silva Júnior, o Juninho Cagão.

Uma linha de investigação indica que os jovens foram mortos porque moravam em um bairro com quadrilha rival à da Chatuba. A polícia ressalta que nenhuma das vítimas tinha passagem pela polícia.

“Há relatos de que moradores do Cabral não podiam atravessar para a área da Chatuba”, disse o delegado Júlio da Silva Filho, da 53ª DP (Mesquita).

“O crime foi demonstração de poder dos traficantes para demarcar território. Isso é uma barbaridade injustificável”, disse a delegada Sandra Ornelas, da 57ª DP (Nilópolis), que iniciou as investigações.

Manifestação fecha rua

Parentes e amigos dos jovens fecharam por 30 minutos a Rua Coronel França Leite, no bairro Cabral, onde eles moravam, em sinal de protesto. Os manifestantes seguravam cartazes e gritavam por justiça.

“Meu filho não era envolvido com o crime. Foi uma maldade o que fizeram”, disse Janaína de Castro, 42, mãe de Glauber Siqueira, de 17.

Segundo a mãe, o adolescente combinou o passeio até a cachoeira com os amigos em sua página de relacionamentos na Internet. Namorada do jovem, Yasmim da Silva, 14, disse que o grupo foi alertado. “Amigos falaram para eles não irem até lá, que a área é muito perigosa”, disse.
Vítimas podem chegar a nove
O tráfico na Favela da Chatuba, em Mesquita, pode estar envolvido em outras duas execuções e um desaparecimento na região no fim de semana: o cadete PM Jorge Augusto Alves, o pastor evangélico Alexandro Lima e o amigo dele José Aldeci da Silva, que está sumido desde sábado. Dez pessoas foram ouvidas nesta segunda-feira.
Uma hipótese investigada sugere que bandidos torturavam o cadete quando o pastor e Aldeci passaram pelo local do crime. Eles teriam sido alertados a não seguir adiante, mas, por estarem com fone de ouvido, não obedeceram à ordem e foram mortos.
Foto: Fábio Gonçalves / Agência O Dia
Dois suspeitos de tráfico são presos. Participação em crime será investigada | Foto: Fábio Gonçalves / Agência O Dia
Nesta segunda, policiais das delegacias da Baixada, da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), do 20º BPM e do Batalhão de Choque, fizeram buscas na mata do parque de Gericinó para tentar encontrar o desaparecido.

Em uma trilha, que fica a uma hora de caminhada a partir da cachoeira, agentes encontraram roupas, chinelos, óculos de sol, relógio, almofada e cartuchos de fuzil. Parentes dos seis jovens assassinados serão chamados para tentar reconhecer o material.

Romário Aguiar Vieira, 18 anos, e Henrique José de Oliveira, 32, foram presos com drogas na Chatuba. A polícia acredita que os rapazes podem ter sido mortos e enterrados na região antes de serem abandonados perto da Dutra.

Outra informação investigada é a de que um deles estaria ouvindo no celular um funk que citava o ‘bairro rival’. O pai de uma vítima teria ouvido que há a possibilidade de eles terem sido confudidos.

Bando tem ligação com o Chapadão

Apesar de considerado sanguinário pelos investigadores, Remilton Moura da Silva Júnior, o Juninho Cagão, nunca foi preso por homicídio. Em sua ficha, constam condenações por receptação, roubo e tráfico, crime pelo qual ele figura em inquérito da 53ª DP (Mesquita) que já passa de cinco volumes.
Dois rabecões foram usados para remover os corpos | Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia
Dois rabecões foram usados para remover os corpos | Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia
A polícia ressalta que nenhum assassinato é cometido na área da Chatuba sem aval do chefão. “Ele mata sem motivo, banaliza a vida”, contou um agente. Integrantes da mesma facção criminosa, o bando da Chatuba mantém contato com criminosos de um dos redutos mais violentos do Rio atualmente: o Chapadão, em Costa Barros, Zona Norte.

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Mário Luiz (Carioca) com O Dia