terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Mário Luiz Barbato


Mário Luiz Barbato


Este profissional jamais deverá ser esquecido. Ele inventou o Rádio moderno e escreveu sua história  na Rádio Globo do Rio de Janeiro. Mário Luiz Barbato ou apenas Mário Luiz. Seu nome é Rádio e os Marinhos deveriam ser eternamente gratos por tudo o que ele fez.
Mário tinha um jeito particular de planejar a programação de uma emissora, que aliava sua intuição a transformação de ideias apresentadas. De 1960 a 1996, colocou a Rádio Globo e posteriormente a Mundial 860, entre as emissoras mais copiadas do país. Com importantes acertos e pouquíssimos erros, moldou formatos que subsistem até os dias de hoje. Formatos definitivos. Durante muitos anos ouvi aquela Rádio ágil, sempre atualizada, com música boa, informação, esporte e prestação de serviço. Não tenho dúvidas em afirmar para os leitores do Site Show do Rádio, que Mário Luiz foi o INVENTOR DO RÁDIO MODERNO, um gênio que mais que insubstituível, se tornou para mim INESQUECÍVEL.
Dos amigos de outrora apenas  alguns que trabalharam no SGR não o abandonaram , José Carlos Araújo, Kleber Leite, Guilherme de Sousa e José Cláudio Barbedo, o Formiga e outro amigo dos bons tempos que foi Artur Sendas(infelizmente morreu de forma trágica). Ninguém mais.
O Site Show do Rádio guardou arquivos e documentos históricos deste ícone  da comunicação e relembra agora um pouco de sua trajetória.
Com 22 anos, filho de metalúrgico e costureira, de família simples e honrada, Mário foi trabalhar para ajudar no sustento de casa. Os estudos de Engenharia financiados por uma tia, lhe permitiram um emprego na Empresa de Engenharia Hidráulica e Elétrica da Rua Bueno Aires,  SILVA PANTOJA ENGENHARIA LTDA.
Em casa o ambiente era de Rádio ou melhor da Rádio Nacional, emissora que Mário Luiz ouvia desde a infância e era fã de Cesar Ladeira, ,um dos maiores locutores da época.
Torcedor do América, Mário Luiz gostava de futebol e foi na Rádio Mauá com o Narrador Orlando Batista que teve sua primeira chance. Orlando gostou da sua voz e lhe deixou ler a Resenha do programa.
A Super Tupi do Rio era uma Rádio respeitadíssima nos anos 40 pelo cast que possuía e segurava o Segundo lugar. Carlos Frias um grande nome da Tupi o ouviu e lhe fez a proposta, imediatamente aceita. Mário ainda fascinado com tanta grandeza, se encantava com ARY BARROSO e seu estrelismo e mais tarde revelou como Ary era temperamental e chato. E foi na Tupi  que conheceu DOALCEY BUENO DE CAMARGO que por ter um irmão trabalhando na Rádio Globo (o Wolney Camargo) acabou o encaminhando pra lá.
A Rádio Globo ficava  na Av. Rio Branco, no Edifício sul-rio-grandense e lá Mário  Luiz bem cedo, ajudava na produção daquele programa de Ginástica ao vivo.
Mas, ginástica mesmo, era o que  Mário tinha que fazer para continuar na Firma de engenharia Silva Pantoja  e trabalhar no que mais gostava …Rádio.
Sapato tinha apenas um, e o gastava até o fim. As vezes chegava  as 2 da manhã em casa e tinha que acordar  as 7 para começar a luta diária.
E foi ali na Globo do Rio , ouvindo programas como CONVERSA EM FAMÍLIA de Urbano Loes, Raul Brunine e outros, que o maior diretor de Rádio deste país foi aprendendo,  para escrever  o capítulo mais importante do SGR.
Eram os anos 50 e Mário Luiz ganhou a oportunidade de ajudar um locutor chamado REINALDO DIAS LEMES em um  programa de informação onde , os dois liam algumas notícias, até o dia  em que o experiente Reinaldo tropeçou engasgando e disparando a rir com um nome japonês. Resultado? A corda arrebentou do lado mais fraco, Mário Luiz foi demitido.
O diretor artístico  da época, era um cara de confiança do Dr. Roberto Marinho, um tal de Henrique Tavares, que depois ficou sabendo que a risada no programa não era de Mário e sim do outro locutor. Recontratado, ganhou o programa e passou a vender patrocínios. Mas Mário ainda muito novo, sonhava com o horário noturno da Rádio (NAQUELA ÉPOCA O HORÁRIO NOBRE ERA A NOITE) e a chance veio porque Jonas Garret fora acusado de praticar  JABÁ, no programa das 10 da noite, o Clube do Toca Disco ou seja, cobrar de artistas para tocar música, atitude que irritou profundamente LUIS BRUNINE o grande diretor da época. Conta-se que certo dia, Luis Brunine demitiu quase 20 funcionários de uma só vez por suspeita da prática de Jabá dentro da Rádio Globo.
No Clube do Toca disco, Mário encontrou uma forma de prestigiar as gravadoras, conseguindo, inclusive bons patrocínios para a Rádio.
Os anos 50 foram tumultuados, principalmente em 1954, quando a Rádio Globo em oposição a Getúlio Vargas abria espaços generosos para o polêmico Carlos Lacerda descer o sarrafo no Presidente até a sua morte. O prédio da Av. Rio Branco foi cercado pela população revoltada com a Rádio.
Mário viveu tudo isso, ainda novo.
Chegaram os anos 60  e a Rádio Nacional ainda mandava na audiência, seguida ao longe pela Mayrink Veiga e Tupi, a Globo ficava ali pelo sétimo lugar. Começo dos anos 60 e Mauricio Quadros dirigia a programação, o gringo tinha talento, mas era desorganizado, o contrario de Mário Luiz, que, ao cobrir as férias de Maurício, organizou a casa e agradou geral.
Na volta, o próprio diretor não quis mais continuar e ali começou a história do homem que mudou a cara do Rádio carioca e brasileiro.
Mal começou e já foi mexendo com a grande vedete, o maior nome da Rádio na época, o Luiz de Carvalho (durante muitos anos Mário brigava com Luis de Carvalho e a reconciliação viera anos depois). Mais uma vez Mário foi afastado do cargo, para ser efetivado, com moral e autonomia a partir de 1966, por Luis Brunine.
Em viagem aos EUA Mário Luiz e Luis Brunine chegaram a conclusão que o Rádio divertimento acabara.
Divertimento agora era da Tv e o Rádio precisava tomar outros rumos. Eles, Mário e Brunine fizeram a leitura correta, já a Rádio Nacional não, e por isso foi despencando na audiência.
A Globo era a Terceira colocada a Mayrink Veiga a segunda e a Nacional ainda Primeira.
Mesmo com os programas da Rádio Nacional sendo engolidos pela Tv, a emissora tentava  a mesma programação que a consagrara nos anos passados e foi exatamente aí  onde a queda se deu. A Globo crescia e a Nacional despencava. Em 1966 a emissora de Roberto Marinho já sairá do sétimo para a segunda posição no Ibope e a Mayrink Veiga a primeira. O Governo no entanto fechou a Mayrink Veiga e a GLOBO saltou para a liderança para não mais deixar, até aos dias de hoje, exceto em alguns horários.
A partir de 1966 o papel de Mário Luiz foi sem dúvida nenhuma o mais importante para história do Rádio. Aqui começou a grande transformação do Rádio Brasileiro.
Mário implantou  na Globo por sugestão de um grande amigo e homem ligado a música, o tripé MÚSICA-ESPORTE-NOTÍCIA.
Tratava-se de MIGUEL GUSTAVO, aquele mesmo que compôs a música da Copa de 70(Pra frente Brasil, salve a seleção).
Começava ali uma época de ouro para Rádio Globo. O Rádio teatro e de auditório perdia espaço para um novo jeito, uma nova visão, nova abordagem, comunicação coloquial, Rádio diálogo e o Comunicador Amigo. Prestação de serviço, Jornalismo forte  e uma nova  roupagem sonora. As vinhetas imitadas dos americanos, algumas gravadas por eles e terminadas aqui.
Mário Luis exigiu o noticiário de hora em hora como era feito na Nacional  com o Repórter Esso. Agora O GLOBO NO AR  nas horas cheias e não se permitia atraso. Em 1962 com mais uma idéia de  Miguel Gustavo, um novo noticiário já estava no ar, desta vez em dupla, a Meia Noite, O SEU REDATOR CHEFE (A idéia era expressar exatamente o que ROBERTO MARINHO era).
Pouco depois, O Repórter Esso chegou para a Globo e a Esso contratou Roberto Figueiredo como locutor oficial.
Nesse Tempo falava na Globo locutores noticiaristas como ARSÊNIO ATAS, BERTO FILHO, CARLOS NORONHA, LUCIANO ALVES, SÉRGIO MORAES, VOLNEY SILVA, dentre outras belas vozes.
Os comunicadores  Luis de Carvalho, Mário Luiz, Roberto Muniz, Haroldo de Andrade (recém chegado), Paulo Moreno, Jonas Garret, Adelzon Alves (recém chegado do Paraná) e Paulo Diniz  o locutor de Recife que virou cantor de sucesso  depois. (Pingos de amor, Chop pra distrair e outros)
Com a saída de Luis de Carvalho para a Rádio Clube do Brasil, Mário Luis efetivou Haroldo de Andrade das Nove ao Meio Dia e assumiu  ele mesmo o Chá das três, que ganhou por motivos de justiça  um novo nome , agora era o NOSSO CHÁ.

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No  Esporte Waldir Amaral comandava  e o garotinho José Carlos Araújo, ainda moço, começava na Globo.
A Globo comandava a audiência em 1.180 e Mário Luiz cada  vez mais prestigiado, como diretor e brilhando como comunicador. Seu Programa, NOSSO CHÁ, tinha um quadro de piano, onde as atrações eram ao vivo e por lá passaram grandes nomes, como Geraldo Vandre e Sérgio Ricardo. Outro quadro do NOSSO CHÁ de Mário Luis era o BOA TARDE SENHORITA, que tinha a colaboração de uma bela voz na interpretação, a de CARLOS NORONHA ( você vê na foto Mário Luiz e Carlos Noronha ).
Chegaram os anos 70. Brasil Campeão e ano de grandes mudanças na Rádio Globo, sempre líder. Contratado da Nacional, para o esporte, o reforço de Jorge Cury e João Saldanha e começava a aparecer comunicadores até então desconhecidos que se tornariam ícones na emissora.
Valdir Vieira começou no SHOW DA NOITE para concorrer com tal de Paulo Giovanni na Tupi. Giovanni  hoje um dos maiores publicitários do Brasil, apareceu bem, quando DUDU DA LOTECA ao aceitar a sugestão do programa na Tupi, ganhou sozinho na Loteria Esportiva. A Globo contratou Paulo Giovanni e o colocou a tarde, para ser o Comunicador simpatia do Rádio Carioca. Valdir Vieira também a tarde e Roberto Figueiredo com o Fim do Repórter Esso se torna comunicador e assume o SHOW DA NOITE. Mudanças todas feitas pelo gênio Mário Luiz. Haroldo brilhava de manhã, Luciano Alves acordava o Rio, Adelzon Alves era definitivamente O AMIGO DA MADRUGADA. A Globo do Rio ainda tinha no timaço de Mário Luiz, Moacir Bastos com seu jeito caipira, Sidney Teixeira, O Cidinho em alta velocidade e Edmo Zarif A VOZ PADRÃO.
Em  26 de Outubro de 1976 a Rádio Globo mudava de frequência e passava dos 1.180 para 1220, UM CANAL INTERNACIONAL e a Rádio alcançava o Brasil inteiro a partir das 5 da tarde. A Rádio feita por Mário Luiz era poderosa e a audiência indiscutível.
Padrão de voz e de qualidade dos profissionais, vinhetas geniais, noticiaristas fabulosos como: Guilherme de Sousa, Izac Zaltman, Luiz de França, José Lino, Carlos Bianchini, Dirceu Rabelo, Oduvaldo Silva, Léo Batista, Reinaldo Costa e outros. Depois vieram Gilberto Lima, Antonio Leal e o próprio Zarif virando comunicador.

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Anos 80, cresce mais e mais o poder de Mário Luiz no SGR, respeitado, conhecido e consagrado, Mário é chamado para salvar uma das empresas do Dr. Roberto Marinho. A Mundial 860 e quem conhece essa história pode dizer o quanto, o homem que inventou o Rádio moderno era mesmo um Gênio. A Super Jovem Mundial foi a grande escola dos Fms, linguagem ousada e inovadora. Um sucesso extraordinário!
Chegaram os anos 90.
Mário já tinha feito tudo ou quase tudo. Trazia dentro de si, o sentimento do dever cumprido, mas apaixonado pela Rádio que construiu com seu imenso talento e liderança, viu crescer dentro do SGR o poder do filho de Roberto Marinho… o Sr. José Roberto.
Mudanças a vista, desconstrução de um sonho.
Mário já tinha visto Haroldo de Andrade A PERSONALIDADE DO AR, o maior comunicador do país tentar uma saída frustrada para BANDEIRANTES RIO e por fim Mário percebeu que era hora de sair definitivamente. A Rádio seria administrada lá da TV Globo.
O maior diretor de Rádio de todos os tempos ainda arriscou  continuar na Rádio Tupi do Rio ao lado do amigo Alfredo Raimundo, com ele tambem foi Guilherme de Sousa e outros.
Brilhou…brilhou sim na Tupi , mas porque era brilhante, pois na verdade sua paixão pela Rádio Globo não lhe permitiu continuar.
Aposentado, ganhava prêmios e reconhecimento por todos os lados, menos pela Rádio que fez e consagrou.
A Rádio Globo de hoje, não é nem sombra do que foi, nas mãos de Mário Luiz, que deixou imensa saudade  em seus fãs por todo o país. Acidentado, parou, cansou, chorou, sorriu, viveu, conviveu com os seus e partiu ,marcando profundamente  seus familiares. Os jornais  publicaram pequenas notas da sua morte e da importância da sua arte. Na Rádio Globo poucas menções (dentre elas a bonita homenagem  do programa GLOBO ESPORTIVO).
A mesma emissora que se esqueceu de Mário Luiz, depois de sua saída (Mário foi substituído por um tal MARCOS LIBRETE), também demitiu Haroldo de Andrade, sem lhe dar a chance de se despedir de seus ouvintes cativos a 40 anos, é também a mesma que mandou embora, líder disparado de audiência, Jorge Curi.
Só nos resta chorar e se emocionar com tudo isso!

EXISTEM HOMENS IMPORTANTES E OUTROS QUE SÃO IMPRECINDÍVEIS.
EXISTEM PROFISSIONAIS QUE MARCARAM PELO SEU TALENTO E OUTROS QUE SE TORNARAM INESQUECÍVEIS E MÁRIO LUIZ FOI UM DESSES.

Mário Luiz (Carioca) com  Show da Rádio

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