Mais de 3.600 pessoas morreram e 13.540 foram internadas em hospitais vítimas de acidentes de trânsito na Paraíba entre janeiro de 2004 e julho deste ano. Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde, mais de 80% das vítimas fatais morreram no local do acidente.
O rombo nos cofres da saúde do Estado, gerado pelas despesas com internações destes pacientes, superaram os R$ 16 milhões, um média de R$ 8.047 por dia. As cinco cidades com mais acidentes, João Pessoa, Campina Grande, Santa Rita, Patos e Bayeux foram as responsáveis por 43% do total de internações nos municípios paraibanos, com 5.901 pacientes internados.
Órgãos de trânsito revelaram os pontos mais críticos em que os índices de acidentes são mais alarmantes e especialistas apontaram o trânsito como um problema de saúde pública e social, que deve ser resolvido a partir da educação para o trânsito.
“Investir na educação e prevenção teria um retorno maior do que criar hospitais de Trauma para receber os acidentados”, afirmou o especialista em trânsito, Nilton Pereira.
Para o especialista, encarar o problema como questão de saúde pública e se preocupar com a educação para o trânsito, é o primeiro passo para, em longo prazo, diminuir o número de acidentes. De acordo com Nilton Pereira, nem mesmo a Lei 11.705, mais conhecida por Lei Seca, instituída em junho do ano passado, conseguiu modificar a realidade das estradas paraibanas e nacionais.
A imprudência, excesso de velocidade e o álcool continuaram matando mais que outras doenças na faixa etária de 20 a 29 anos, sendo a causa externa que mais provoca mortes. “Nos primeiros meses de Lei Seca, percebeu-se uma redução porque a fiscalização foi intensa, mas o Governo relaxou, não cumpriu o que prometeu e os acidentes voltaram a crescer”, disse.
Se o que mais mata no país são as doenças cardíacas e o câncer, Nilton Pereira afirmou que isso ocorre após os 60 anos, enquanto que a média geral de mortes nos acidentes de trânsito está na faixa dos 33 anos. O número de homens no trânsito, por ser maior, também faz com que eles sejam os mais envolvidos em acidentes, no entanto, são eles também que mais excedem a velocidade e desrespeitam a sinalização. Nos últimos dez anos, mais de 83% das vítimas fatais de acidentes (5.565) eram do sexo masculino.
Entre os jovens de 20 a 29 anos, o número de mortos foi de 1.455, de 30 a 40 anos, a média foi de 1.054, de 40 a 49 anos, foi de 714. Mas o que preocupa é que também morreram 569 adolescentes na faixa etária de 15 a 19 anos, ou seja, descumprindo o Código de Trânsito Brasileiro, muitos adolescentes pegaram o carro de seus pais e se envolveram em acidentes.
Rotas perigosas
Existem alguns pontos do Estado que são considerados os mais perigosos e onde ocorre a maior parte dos acidentes de trânsito. As mortes após a internação, este ano (107), já superaram o número de óbitos de anos como 2004, com 101 óbitos, e 2005, com 65. Além das rodovias federais, estas mortes ocorreram também nas principais vias das grandes cidades, que são apontadas como locais onde os acidentes já se tornaram mais comuns.
Para os motoristas que trafegam pelas ruas de João Pessoa, as avenidas são as que mais registram acidentes de trânsito. A Avenida Epitácio Pessoa, já conhecida pelos inúmeros congestionamentos nos horários de pico, é também considerada, junto com a Avenida Cruz das Armas, as avenidas dos acidentes de trânsito na Capital. No primeiro semestre deste ano, ocorreram nas duas vias, respectivamente, 146 e 94 ocorrências.
Em Campina Grande, o ponto de maiores acidentes de trânsito é o cruzamento da Rua Rodrigues Alves com a Rua Nilo Peçanha, no bairro da Prata, a Rua Vidal de Negreiros, no Centro; A Avenida Floriano Peixoto, nas proximidades do Teatro Municipal Severino Cabral, no Centro e os sinais da Avenida Canal, também na região central de Campina.
“Os acidentes são causados pela falta de atenção do condutor, por dirigir atendendo ao celular e também pelo strees do dia-a-dia, além disso, a principal causa que é a embriaguês ao volante”, afirmou o capitão da CPTran, Adeildo Clementino.
Nas rodovias
De acordo com o chefe da 3ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal em Patos, Eraldo Maciel, nas rodovias o número de acidentes é maior. Ele apontou os pontos de maior frequência de acidentes, dentre eles a Serra de Santa Luzia, onde os acidentes envolvem caminhões e veículos de carga.
“Durante a descida, muitos caminhoneiros não obedecem a sinalização e descem em alta velocidade e o freio muitas vezes falham”, disse. Eraldo afirmou ainda que no trecho entre Santa Luzia e Patos, na BR-230, no trecho de 42 km, os acidentes mais comuns envolvem veículos de passeio e é onde mais tem vítimas fatais. Outro ponto levantado pelo policial é a BR-361, na saída da cidade para Piancó, em apenas 2 km, ocorrem muitos acidentes entre motociclistas.
De acordo com a PRF, somente nas BRs, neste ano até quinta-feira passada, 125 pessoas já morreram. Segundo o chefe do Núcleo de Comunicação Social da PRF, Genésio Vieira, os atropelamentos são responsáveis por 25% das mortes nas rodovias, sobretudo nos trechos urbanos. A área em que há o maior número de casos está compreendida entre o quartel do Corpo de Bombeiros, em Marés, e a entrada do bairro de Tibiri.
João Pessoa
Na área da Grande João Pessoa, de acordo com dados da Companhia de Policiamento de Trânsito (Cptran), foram 2.388 acidentes, apenas no primeiro semestre deste ano. Segundo o subcomandante, capitão Arilson Valério, os principais motivos para o alto número de acidentes são desrespeito à sinalização, excesso de velocidade e falta de educação. Ele afirmou que a média diária de acidentes é de 12 casos, número que dobra nos finais de semana e feriados. O sábado é o dia em que há o maior registro de acidentes.
No último feriadão, por exemplo, foram registrados 51 acidentes, número considerado satisfatório por estar abaixo da média em dias considerados normais. O capitão atribui a redução à maior presença do efetivo nas ruas, inclusive com uma operação especial realizada na sexta-feira, antecedendo ao feriado.
Na área das praias de Lucena e Jacumã, onde ocorre, por exemplo, a maioria dos acidentes no período de folga dos motoristas, não houve registro de acidentes. A Cptran pretende intensificar as blitzen nas cidades litorâneas para coibir o desrespeito às leis de trânsito, sobretudo a não ingestão de bebida alcoólica antes de dirigir. A Cptran tem área de abrangência nos municípios de Bayeux, Santa Rita, Conde, Caapora, Alhandra, Pitimbu, Pedras de Fogo, Lucena e João Pessoa.
Campina Grande
Os seis primeiros meses deste ano tiveram uma redução de aproximadamente 7% no número de acidentes em Campina Grande, se comparado ao mesmo período do ano passado. De acordo com o comandante da 10ª Companhia de Policiamento de Trânsito (CPTran), capitão Adeilton Clementino, a queda no número de veículos envolvidos em abalroamentos, atropelamentos e colisões, entre outros, é explicado, pela conscientização da população e aumento do pessoal da companhia em campanhas educativas.
Segundo o capitão, os acidentes são mais freqüentes no período noturno. É a partir das 19h que os motoristas passam a respeitar menos a sinalização e acelerar os carros nas vias da cidade. Mais de 1.244 veículos já se envolveram em acidentes este ano, contra 1.337 em 2008. Junto com a redução nos acidentes, o número de vítimas, incluindo as fatais, também teve uma queda de aproximadamente 8%. De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado (SES), 202 pessoas foram internadas nos hospitais da cidade, após se envolverem em acidentes de trânsito e 13 delas morreram.
Trauma: 5.685 acidentados em 2009
Os acidentes de trânsito foram responsáveis por quase 5.700 atendimentos no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, em João Pessoa. Do total de vítimas, 1.013 tiveram de ser internados devido à gravidade dos ferimentos e 15 morreram ainda na emergência. No mesmo período do ano passado, foram 5.670 atendimentos, com 967 internações e 28 óbitos.
Os números referentes ao Trauma são baseados nas internações, independente do município onde residem os internados. Por ser um hospital de referência, o Trauma acaba recebendo pacientes de todas as regiões do Estado. No total, o número de vítimas de acidentes que se internaram em hospitais da Capital, no primeiro semestre deste ano, foi de 1.238, mas destes, apenas 560 são residentes em João Pessoa.
O tipo de acidente que mais chama a atenção na estatística do Hospital de Trauma é o que envolve motocicletas, com 58% das vítimas do trânsito. Automóveis 15%, atropelamentos 14% e bicicletas 13%.
Números dos acidentes de trânsito
Cidades que lideraram o ranking de internações nos últimos 5 anos
1ª João Pessoa – 3.171
2ª Campina Grande – 1.421
3ª Santa Rita – 474
4ªPatos – 450
5ª Bayeux – 385
Séries históricas de mortes no trânsito no Estado
2004 – 624
2005 – 624
2006 – 736
2007 – 824
2008 – 824
2009 – 75 (até abril)
Mortes por faixa etária
20 a 29 anos – 1.455
30 a 39 anos – 1.054
40 a 49 anos – 714
15 a 19 anos - 569
REPORTAGEM: MARIO CARIOCA
EDIÇÃO DE TEXTO:RAFAELA SOARES
FOTOS: CENTRAL CONDE DE JORNALISMO