sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Casos de crianças assassinadas chocam os argentinos

Candela Rodríguez (AP)
Meia dúzia de casos como o de Candela Rodríguez viraram notícia nos últimos dois meses
Nos últimos dois meses, uma série de assassinatos de crianças comoveu a sociedade argentina, que acompanha com espanto os detalhes da investigação de cada um dos casos.
É difícil ligar a televisão sem se inteirar de alguma novidade do "caso Nicole", do "caso Tomás" ou do "caso Gastón", para citar apenas três dos crimes que colocaram em foco a violência contra crianças.
Os assassinatos não têm relação entre vi e cada um tem um contexto próprio, mas a criminologista María Laura Quiñones Urquiza disse à BBC que todos têm algo em comum: as vítimas foram assassinadas "corpo a corpo" (por asfixiamento, golpes ou facadas), sem o uso de armas de fogo.
Para a especialista, isto mostra que os agressores viam essas crianças como "coisas" sobre as quais descarregaram sua violência, aproveitando sua supremacia física e a vulnerabilidade de suas vítimas.
Outra característica presente na maioria desses crimes é que o assassino atuou por vingança contra os pais das vítimas.
Essa é uma das principais teorias por trás do assassinato de Candela Sol Rodríguez, a menina de 11 anos cujo sequestro e morte em agosto parece ter sido o primeiro de série de homicídios de crianças.
Assim como esse crime, a morte de Nicole Milagros Rodríguez, 5 anos, no início de novembro, também foi atribuído a uma vingança contra o pai da menina.

"Feminicídios vinculados"

Mas, além desses casos, os especialistas asseguram que a maioria dos crimes cometidos por vingança contra os pais não são contra a figura paterna, e sim contra a mãe.
"Nós o chamamos de 'feminicídio (assassinato de mulheres por questões de gênero) vinculado', já que é uma forma de violência contra a mulher que é levada a cabo indiretamente, por meio da figura do filho", disse à BBC Fabiana Tuñez, coordenadora geral da Associação Civil Casa do Encontro, que apoia vítimas de abuso doméstico.
Segundo um relatório do Observatório de Feminicídios, criado pelo organismo em 2008 para monitorar casos de abuso, 17 menores foram mortos na Argentina em 2011 com o objetivo de "castigar" as mães.
Mas por que atacar os filhos, em vez das mulheres? "Porque isto é pegá-la onde mais lhes dói", diz Tuñez, com quem concorda a criminologista Quiñones Urquiza.
O caso mais famoso que aparentemente se enquadra neste tipo de crime é o de Tomás Dameno Santillán, 9 anos, que foi morto a golpes em meados de novembro.
O único detido e principal suspeito do crime é o ex-companheiro da mãe do menino.

Sem estatísticas

Os especialistas concordam que um dos maiores problemas para combater a violência contra crianças é que não existem dados oficiais que deem conta do problema.
O relatório do Observatório de Feminicídios é elaborado com base no que publicam cerca de 130 veículos de mídia argentinos. Entretanto, os próprios autores do estudo admitem que os números reais são muito maiores, já que a mídia somente relata alguns dos casos.
Para aumentar a prevenção desses crimes, o deputado Julio César Martínez, do partido União Cívica Radical (UCR), apresentou recentemente no Congresso argentino um projeto de lei que propõe a criação do Programa de Prevenção da Violência Familiar, no âmbito do Ministério Público.
Em sua argumentação, Martínez citou os casos de Tomás, Candela e Nicole, além das 17 vítimas de "feminicídio vinculado" denunciados pela Casa do Encontro.
Segundo o parlamentar, os maus-tratos contra as crianças costumam ocorrer em um contexto de violência dentro da família e pode ser controlado.

Contágio

Quiñones Urquiza acredita que um programa de prevenção pode ajudar a detectar os sintomas de abuso e pode prevenir a morte de crianças.
A especialista também diz que a grande cobertura da mídia que os últimos infanticídios receberam pode ajudar a melhorar a visibilidade de um problema que muitas vezes passa despercebido.
No entanto, a criminologista também ressalta um aspecto negativo do interesse da mídia: a possibilidade de que tanta exposição gere um "efeito de contágio criminal", inspirando pessoas com tendências violentas a reproduzir aquilo que veem na TV.

Da Redação com BBC

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