No quebra-cabeças da morte de Felipe Fernandes de Mello, de 21 anos,
algumas peças-chave ficaram pela trilha do Parque Lage, no Jardim
Botânico, onde ele foi encontrado, quase sem vida, no início do mês
passado. Embora a polícia descarte a possibilidade de crime e trate o
caso como um acidente, o medo de amigos e conhecidos do rapaz em falar
sobre o caso, somado ao desejo da família de encerrar as investigações, o
fato de o jovem estar sem emprego e com dívidas e os rumores de que
estaria vendendo rifas em Rio das Pedras — favela dominada pela milícia —
fazem crer que há mais nos últimos passos de Felipe do que um mero
tropeço no meio da mata.
O EXTRA ouviu parentes, amigos e vizinhos de Felipe, além de policiais, bombeiros, seguranças e frequentadores do Parque Lage — algo que a polícia, até o momento, não fez — para tentar decifrar o mistério que ronda o desaparecimento e a morte do rapaz, que só foi identificado pela tatuagem com o nome "Joana" no braço direito.
— Ainda não temos ideia do que aconteceu — resume o estudante Thiago Serafim, de 24 anos, amigo de infância de Felipe, com quem chegou a dividir um apartamento, no Rio, há um ano.
Dívida de R$ 200 no bar
O enigma começou na segunda-feira, 28 de maio, às 7h. Felipe desceu os nove degraus do quitinete de 10 metros quadrados que dividia com um primo e um amigo na Rua do Amparo, em Rio das Pedras, Zona Oeste do Rio, e passou no bar onde bebera uma garrafa de cerveja na noite anterior. Pediu R$ 10 emprestados a Antônio Matias Mendes, de 29 anos, dizendo que iria à favela do Vidigal, em São Conrado, onde moram amigos seus. Mas nem pôs a mão no dinheiro.
— Fui dar café aos últimos clientes. Quando me virei para responder, ele tinha ido embora. Não entendi nada — lembra Antônio, que não tinha razões para emprestar qualquer quantia: Felipe deixou uma dívida de mais de R$ 200 em bebida no bar.
Depois de sair de Rio das Pedras, porém, o paradeiro do rapaz é incerto. O balconista Paulo Henrique Marinho, de 22 anos, amigo de Felipe que mora no Vidigal, diz que ele não passou por lá.
— Ele não aparecia há muito tempo. O que ouvi dizer é que se envolveu numa briga perto de casa. Mas não sei de mais nada — disse, evitando dar mais detalhes.
Até quarta-feira, dia 30, Felipe ainda falou por telefone com Thiago, que vive hoje na Paraíba. Dizia estar "vendo as contas" no Barra Grill, onde era churrasqueiro:
— Ele pediu que eu conseguisse um carro para buscá-lo no aeroporto de Campina Grande. Estava tudo certo.
Envolvimento com rifa
Vizinhos e ex-colegas de trabalho suspeitam que um envolvimento do jovem com venda de rifas no Rio das Pedras tenha provocado sua morte. Pelo menos duas pessoas próximas a ele — que preferiram não ter o nome associado ao assunto — disseram que Felipe começou a vender rifas após ficar desempregado. Nem a 32 DP (Taquara) nem a Delegacia de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), porém, têm investigação sobre alguma irregularidade envolvendo rifas na favela.
Alguns afirmam que ele não teria prestado contas. Outros dizem que o jeito do rapaz, descrito como "marrento" e "abusado", e o hábito de beber podem ter instigado uma briga. O patrão de um primo de Felipe acredita que o vício com drogas — algo que pessoas próximas ao jovem dizem desconhecer — tenha sido responsável pela morte do paraibano.
A história de Felipe teve a marca da perda. O primeiro emprego foi um bico como entregador de água mineral num mercado próximo à casa da mãe, em São Paulo. A doméstica abandonara seu caçula, aos 2 anos, com os avós maternos para tentar a vida na cidade grande.
O pai, mecânico, morreu quando um ônibus que consertava o esmagou, há dez anos. Felipe se apegou tanto à avó que tatuou seu nome no antebraço direito. No ano passado, o desenho foi aumentado e ganhou um pergaminho ao redor.
— Ele gostava muito dessa avó. Sempre dizia que queria voltar pra lá (Paraíba) por saudades que tinha dela — conta o cozinheiro Augusto Diogo Dias, que trabalhou com o jovem no Cervantes.
— Quando sair do hospital quero que ele venha para minha casa, com vida e saúde — desejou a aposentada Joana Fernandes, de 86 anos, em entrevista ao "G1".
Felipe voltou, mas não como a avó queria. Está enterrado em Remígio, perto, enfim, da avó que amava.
Mário Luiz (Carioca) com Extra
O EXTRA ouviu parentes, amigos e vizinhos de Felipe, além de policiais, bombeiros, seguranças e frequentadores do Parque Lage — algo que a polícia, até o momento, não fez — para tentar decifrar o mistério que ronda o desaparecimento e a morte do rapaz, que só foi identificado pela tatuagem com o nome "Joana" no braço direito.
— Ainda não temos ideia do que aconteceu — resume o estudante Thiago Serafim, de 24 anos, amigo de infância de Felipe, com quem chegou a dividir um apartamento, no Rio, há um ano.
Dívida de R$ 200 no bar
O enigma começou na segunda-feira, 28 de maio, às 7h. Felipe desceu os nove degraus do quitinete de 10 metros quadrados que dividia com um primo e um amigo na Rua do Amparo, em Rio das Pedras, Zona Oeste do Rio, e passou no bar onde bebera uma garrafa de cerveja na noite anterior. Pediu R$ 10 emprestados a Antônio Matias Mendes, de 29 anos, dizendo que iria à favela do Vidigal, em São Conrado, onde moram amigos seus. Mas nem pôs a mão no dinheiro.
— Fui dar café aos últimos clientes. Quando me virei para responder, ele tinha ido embora. Não entendi nada — lembra Antônio, que não tinha razões para emprestar qualquer quantia: Felipe deixou uma dívida de mais de R$ 200 em bebida no bar.
Depois de sair de Rio das Pedras, porém, o paradeiro do rapaz é incerto. O balconista Paulo Henrique Marinho, de 22 anos, amigo de Felipe que mora no Vidigal, diz que ele não passou por lá.
— Ele não aparecia há muito tempo. O que ouvi dizer é que se envolveu numa briga perto de casa. Mas não sei de mais nada — disse, evitando dar mais detalhes.
Até quarta-feira, dia 30, Felipe ainda falou por telefone com Thiago, que vive hoje na Paraíba. Dizia estar "vendo as contas" no Barra Grill, onde era churrasqueiro:
— Ele pediu que eu conseguisse um carro para buscá-lo no aeroporto de Campina Grande. Estava tudo certo.
Envolvimento com rifa
Vizinhos e ex-colegas de trabalho suspeitam que um envolvimento do jovem com venda de rifas no Rio das Pedras tenha provocado sua morte. Pelo menos duas pessoas próximas a ele — que preferiram não ter o nome associado ao assunto — disseram que Felipe começou a vender rifas após ficar desempregado. Nem a 32 DP (Taquara) nem a Delegacia de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), porém, têm investigação sobre alguma irregularidade envolvendo rifas na favela.
Alguns afirmam que ele não teria prestado contas. Outros dizem que o jeito do rapaz, descrito como "marrento" e "abusado", e o hábito de beber podem ter instigado uma briga. O patrão de um primo de Felipe acredita que o vício com drogas — algo que pessoas próximas ao jovem dizem desconhecer — tenha sido responsável pela morte do paraibano.
A história de Felipe teve a marca da perda. O primeiro emprego foi um bico como entregador de água mineral num mercado próximo à casa da mãe, em São Paulo. A doméstica abandonara seu caçula, aos 2 anos, com os avós maternos para tentar a vida na cidade grande.
O pai, mecânico, morreu quando um ônibus que consertava o esmagou, há dez anos. Felipe se apegou tanto à avó que tatuou seu nome no antebraço direito. No ano passado, o desenho foi aumentado e ganhou um pergaminho ao redor.
— Ele gostava muito dessa avó. Sempre dizia que queria voltar pra lá (Paraíba) por saudades que tinha dela — conta o cozinheiro Augusto Diogo Dias, que trabalhou com o jovem no Cervantes.
— Quando sair do hospital quero que ele venha para minha casa, com vida e saúde — desejou a aposentada Joana Fernandes, de 86 anos, em entrevista ao "G1".
Felipe voltou, mas não como a avó queria. Está enterrado em Remígio, perto, enfim, da avó que amava.
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