MP aguarda conclusão de inquérito para dar andamento ao processo.
Reconstituição descarta participação de terceiro no caso, diz Nicolino.
“Se o menino corria perigo, ela pode ser responsabilizada por omissão.”
Essa é a afirmação do promotor de Justiça Marcus Túlio Nicolino sobre a
suposta participação da psicóloga Natália Ponte na morte do filho, o
garoto Joaquim Ponte Marques,
de 3 anos, em Ribeirão Preto (SP). Nicolino afirma que ainda não é
possível incriminar a mãe porque o inquérito policial não foi concluído,
mas os indícios, segundo ele, são cada vez mais claros de que a mulher e
o padrasto, o técnico em TI Guilherme Longo, são os responsáveis pelo
desaparecimento e morte da criança.
“Depois de todo o trabalho de reconstituição, de oitivas de
testemunhas, nós podemos concluir que não há possibilidade nenhuma de
terceiros terem participado do evento. Não é possível que pessoas tenham
entrado naquela casa e sequestrado o garoto. A casa é toda vedada, a
casa é toda fechada, o portão estava trancado na madrugada em que os
fatos aconteceram”, disse o promotor, que acompanha a investigação do
caso desde o início.
Nicolino explicou ainda que, mesmo que o padrasto seja apontado pela
Polícia Civil como principal responsável pela morte e indiciado por
homicídio doloso, uma vez que o delegado Paulo Henrique Martins de
Castro já afirmou ter provas suficientes para concluir o inquérito nesse
sentido, a mãe não deve ser inocentada e pode ser incriminada por
omissão.
“Se ela revelou à polícia que ele [o padrasto] era uma pessoa drogada,
desequilibrada, com problemas, já havia ameaçado ela de morte, que ele
dizia, segundo ela, que o menino era um empecilho na vida do casal, um
pedacinho do ex-marido na vida do casal, se depois de tudo isso ela
deixou o menino sozinho com essa pessoa, ela pode ser, em tese,
responsabilizada por essa omissão”, afirmou.
O promotor aguarda a conclusão do inquérito para dar andamento ao
processo judicial. "Se eu estiver satisfeito com aquilo que a polícia
produziu, com aquilo que o delegado reuniu, eu ofereço denúncia contra
quem eu achar que foi o responsável pela morte do garoto", disse
Nicolino.
Marcus Túlio Nicolino diz que aguarda conclusão do
inquérito policial para dar andamento ao processo
judicialmente (Foto: Ronaldo Gomes/EPTV)
Natália e Longo permanecem presos há 15 dias, desde que o corpo de
Joaquim foi encontrado boiando no Rio Pardo, em Barretos (SP). O casal
deve continuar detido, pelo menos, até o dia 10 de dezembro, quando
vence o prazo da prisão temporária expedida pela Justiça.
Investigação
Para o delegado Paulo Henrique Martins de Castro, que chefia a
investigação da morte de Joaquim, a reconstituição do desaparecimento,
realizada na última sexta-feira (22) com a participação apenas do
padrasto do menino, também reforçou a tese de que não houve sequestro.
O recurso foi marcado por tumulto, principalmente durante o trajeto
feito por Longo em direção ao local onde ele afirmou, em depoimento, que
teria ido comprar drogas, na madrugada do sumiço da criança. Populares
furaram o bloqueio feito pela polícia e por pouco não agrediram o
padrasto fisicamente.
Guilherme
Longo participa de reconstituição do sumiço de Joaquim na casa onde a
família morava em Ribeirão Preto (Foto: Érico Andrade/ G1)
Durante todo o tempo, Longo usou um colete à prova de balas. Natália
foi dispensada da reconstituição pelo delegado. "A reconsituição foi
favorável para esclarecer alguns detalhes, mas outras contradições
surgiram. Já descartamos a possibilidade de uma terceira pessoa", disse
Castro na sexta-feira, após a reconstituição.
Nesta segunda-feira (25), uma amiga da mãe do menino Joaquim prestou depoimento na Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Ribeirão Preto.
Além da mulher, dois policiais militares - os primeiros a chegar à casa
da família na manhã do sumiço do garoto - e um bombeiro - que realizou
as primeiras buscas pela criança - também serão ouvidos.
Delegado diz que reúne provas para esclarecer
participação de Natália na morte do filho
(Foto: Maurício Glauco/EPTV)
O delegado disse esperar que as declarações dos quatro envolvidos
ajudem a esclarecer contradições entre os depoimentos da mãe e do
padrasto. Ainda nesta segunda-feira, Castro afirmou que que pediu a
quebra de sigilo telefônico de outras pessoas ligadas à família do
garoto.
Até agora, o delegado teve acesso apenas a parte das ligações
telefônicas recebidas e realizadas por Natália e Longo, e por outros
dois familiares próximos ao casal, no dia do desaparecimento de Joaquim.
Castro disse esperar que o documento final com todos os registros -
concedido pela Justiça no dia 12 de novembro - seja entregue à polícia
esta semana.
O delegado também aguarda o resultado dos testes toxicológicos feitos
nos órgãos e no sangue da criança. O exame foi solicitado porque o laudo
inicial apontou que as únicas lesões encontradas na pele foram em
decorrência dos dias em que o corpo foi arrastado pelo rio. Além disso,
não foi encontrada água nos pulmões de Joaquim, o que indica que não
houve morte por afogamento.
Rafaela Soares com G1