Um
surpreendente calote - mais conhecido como “xexo”, na linguagem popular
- produzido pela prefeita do Conde, Tatiana Correa (PTdoB), corajosa e
incrivelmente denunciado na página dela no Facebook pela vítima, o
maestro Marcos Vidal, engrossa nesse começo de maio o mar de lama que
envolve a atual gestão do rico Município do litoral sul paraibano,
envergonhando ainda mais a população local.
O maestro (de preto) caloteado em quase R$ 18 mil
“Fiz
toda a minha obrigação como maestro de orquestra de frevo, realizei um
maravilhoso trabalho no Carnaval de Conde e Jacumã e no final das contas
só recebi uma parte do contrato, e ainda fui obrigado a assinar recibo
do valor total”, revela o maestro informando ter sido caloteado em R$
17.600,00.
A
Orquestra de Frevo Paraíso Tropical foi contratada para diversos
eventos, começando no dia 11 de fevereiro ao tocar para o bloco “Melhor
Idade”. No dia seguinte (13/02) acompanhou os blocos “Pimentinhas de
Gurugi” e “Pipoquinhas de Jacumã”. No sábado (14/02), tocou para os
blocos “Eternamente Flamengo” e “Me leva jacumã”. No domingo (15/02),
acompanhou “Mundicinhas de Jacumã”, “Marujo do amor”, “Os canalhas de
Jacumã” e “Virgens de Jacumã”.
A postagem, no perfil de Tatiana
Seguiram-se
várias outras apresentações, conforme contrato ao qual APALAVRA teve
acesso: “Bloco do Nandão (Tabatinga)”, “Xiclete cum batata”, “Galo do
mar e sol”, “Pega na Biluca”, “Timbus de Carapibus”, “Vovô garoto
(Carapibus)”, “Transbêbado”, “Boca de litro”, “Perdidos em Jacumã”,
“Descabaçadas de Conde”, dentre outras, culminando pós Carnaval com o
‘Limpa Jacumã”, onde a orquestra animou o trabalho e a festa dos garis
que recolheram o lixo da quadra.
O
maestro avisa em sua postagem que está passando por sérias dificuldades
financeiras por conta da dívida não honrada pela prefeita e conclui com
uma fina dúvida: “não sei como vocês ainda tem a coragem de botar a
cabeça em um travesseiro e dormir tranquilos sabendo que prejudicaram
uma pessoa que não merecia”.
TERCEIRIZAÇÃO
Mais
intrigante ainda do que o calote é o vínculo contratual do negócio. Do
modo como foi feito o acerto da orquestra com o Município, o maestro na
realidade não poderia cobrar a dívida da prefeita, salvo se exista algo
mais que APALAVRA não tomou conhecimento, como se permite especular
diante da gravidade da denúncia postada no perfil de Tatiana.
Fac-simile de parte da capa do contrato com a Bred
O
Carnaval do Conde foi terceirizado, ficando a cargo da empresa
pernambucana de Igarassu, Bred Viagens e Eventos, pelo valor global de
R$ 874 mil, tudo que diz respeito à festa, tais como contratação de
cantores, orquestras e bandas, além da logística do evento, aí incluídos
gastos com pessoal, locação de palcos e tendas, etc.
Conforme
o contrato, a Orquestra de Frevo Paraiso Tropical está na relação das
atrações contratadas pela Bred. Só ela, segundo a lista, teria direito a
receber em torno de R$ 70 mil, valor não muito distante daquele que
teria sido pago à principal atração da festa, a cantora baiana Margareth
Menezes - em torno de R$ 120 mil.
Lista dos contratos do maestro
E
aí é onde aparece a grande e curiosa questão, somente agora revelada
quando APALAVRA localizou o contrato da terceirização. No Sagres, do
Tribunal de Contas do Estado, o contrato de R$ 847 mil foi lançado,
presumindo-se que também já tenha sido feito o pagamento, dúvida que
somente será dirimida quando os balancetes do primeiro trimestre de 2015
forem disponibilizados.
Ocorre
que, segundo o contrato firmado, a despesa com o Carnaval será honrada
em 10 longas e suaves prestações de R$ 84 mil, ficando várias outras
perguntas sem resposta: a primeira delas, por exemplo, remete logo ao
maestro, que disse ter assinado o recibo total do serviço, sem a devida
contrapartida numerária. Outra coisa: se ele está cobrando da prefeita e
não da empresa, teria havido uma outra negociação à parte entre Tatiana
e o maestro? E Margareth Menezes, estrela de primeira constelação,
aceitou dividir seu cachê também em módicas 10 parcelas?
Esse
é o mistério, para o qual mais uma vez se impõem investigações da
Câmara Municipal do Conde, do Ministério Público e do Tribunal de Contas
do Estado.
Mário Luiz (Carioca) com A Palavra on Line
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