Maioria de parlamentares assina pedido para que CPI mista investigue conexões de Cachoeira.
Com
a adesão de 90% dos senadores e de 75% dos deputados, a Comissão
Parlamentar Mista de Investigação (CPMI) do Cachoeira foi criada ontem
no Congresso Nacional. O tamanho do apoio é proporcional à atenção que
os partidos estão dando à comissão neste momento. Os líderes da base
aliada resolveram seguir o que já havia sido feito pela oposição e
estão indicando alguns de seus parlamentares mais experientes para
integrar a comissão de investigação sobre as suspeitas relações do
bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos e
empresários - por enquanto, a empreiteira Delta figura no inquérito da
Polícia Federal como parceira do esquema. A CPI mista será instalada
na próxima terça-feira, e deve começar a funcionar já na semana que
vem.
Até o PMDB, que no início não queria se envolver no caso,
pode rever nos próximos dias as indicações que havia feito na Câmara. O
PMDB já decidiu que o senador Vital do Rêgo , da Paraíba, será o
presidente da comissão. A sensação disseminada é que os rumos que a
comissão tomará são imprevisíveis e que, portanto, é bom todos estarem
preparados.
- O número de assinaturas inédito e o volume de
acusações com fatos documentados colocam o Congresso diante de uma
tarefa decisiva. Uma CPI que acabe em pizza vai ser a maior
desmoralização da nossa história - disse o líder do PSOL, Chico
Alencar, ao discursar na sessão do Congresso que criou a comissão.
Na
última parcial divulgada ontem à noite pela Secretaria Geral do
Senado, 385 deputados e 72 senadores haviam assinado o requerimento da
CPI mista. Mas esse número poderia ser alterado até meia-noite.
Segundo líderes dos partidos, no PT, 80 dos 85 deputados da bancada
assinaram. No PMDB, 60 dos 79. No PSDB 50 dos 53 e todos os 27 do DEM.
Assinatura enviada até pelo correio
A
preocupação em figurar entre os que assinaram levou o deputado Otávio
Leite (PSDB-RJ), que estava fora de Brasília, a mandar sua assinatura
por Sedex. O líder do PSDB, Bruno Araújo (PE), pregou transparência e
efetividade nas apurações:
- Esperamos que essa CPMI possa
dividir com o país, em pleno processo eleitoral, as entranhas do crime
organizado, as entranhas das empresas que participam de forma nada
republicana, de forma absolutamente abusiva e invasiva nas relações com
o poder público.
Palavras semelhantes foram usadas pelo líder do
PT, Jilmar Tatto (SP), que defendeu serenidade e profundidade na
condução da CPMI, lembrando o poder de quebra de sigilos fiscal e
telefônico de empresas e pessoas. Ele afirmou que o PT está disposto a
investigar tudo, sem prejulgar e dando direito de defesa.
- Não
se preocupe a oposição. Aqui não há caça às bruxas. E não vai ter
pizza! Não vamos aceitar condenar o PT. Não vamos aceitar condenar o
governo. Não vamos aceitar condenar ninguém. Vamos trabalhar com
prudência, muita seriedade, e aqueles que estiverem ligados a esse
crime organizado vão ter que pagar. De nossa parte, não se preocupem,
vamos apurar e, doa a quem doer, vamos ter de passar a limpo este país -
disse Tatto.
O tom de Tatto é bem diferente do adotado pelos
petistas mais afinados com o Palácio do Planalto. Mas esse desencontro
no próprio PT, somado à distância e ao silêncio adotados pela
presidente Dilma Rousseff sobre a CPI mista, vem deixando
desorientados os parlamentares mais experientes da base aliada. Muitos
não sabem que tipo de requerimento deverá ser evitado e se há
interesse real de pôr a oposição na mira.
- Ninguém sabe o que a Dilma quer, cada um diz uma coisa - reclamou um senador aliado.
PT
e PMDB, os dois maiores partidos do Congresso, vêm enfrentando o
mesmo problema. Até agora nenhum deles definiu quais serão seus
representantes na CPI mista. Mesmo o PMDB da Câmara, que já anunciara
seus nomes, deve fazer mudanças.
O fato de a oposição ter
indicado seus nomes mais experientes levou os caciques do PMDB a se
movimentarem para que o líder Henrique Eduardo Alves(RN) reveja as
nomeações de Íris de Araújo (GO) e Luiz Pittman (DF). Os dois são
considerados inexperientes. A saída de Pittman já é quase certa, pois
os peemedebistas temem que sua presença dê a entender que o partido
está trabalhando para derrubar o governador do Distrito Federal,
Agnelo Queiroz (PT). O vice de Agnelo é Tadeu Filipelli, do PMDB.
O
deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), que integrará a CPI mista, lembrou
sua participação em duas CPIs: do Collor e dos Anões do Orçamento.
Para ele, essa CPI mista de agora se diferencia por já começar com
inquéritos prontos e o Ministério Público pedindo ao Supremo Tribunal
Federal (STF) a abertura de processo.
- Estamos empenhados na
verdade do que se passa no Brasil. Não estamos empenhados em jogos de
perseguição, jogos partidários, jogos eleitorais - disse Miro.
Rafaela Soares com Click PB