Divisão da cidade de Berlim foi o maior símbolo da Guerra Fria
Montagem AP e AFP
Muro
do Berlim em cinco momentos (da esq. para a dir.): muro sendo
construído (1961); crianças da parte capitalista tentando espiar o lado
comunista (1972); muro pintado com grafites (1982); dia 9 de novembro de
1989, a queda do muro; partes demolidas do muro são restauradas e
leiloadas (2011)
Há exatos 50 anos, a então Alemanha Oriental surpreendeu o mundo ao erguer uma parede de 162 km em apenas 24 horas. O Muro de Berlim, como ficou conhecido, foi construído para impedir que os moradores da parte comunista do país fugissem para o lado capitalista. Mas o paredão de 4 m de altura, que simbolizou a divisão do mundo em dois blocos, também cortou o país ao meio, separando famílias inteiras e deixando feridas que continuam abertas até hoje na Alemanha, mais de 20 anos após a sua queda.
A construção do muro começou na madrugada de 13 de agosto de 1961. As Forças Armadas da Alemanha comunista derrubaram postes e colocaram barricadas de arame farpado pelas ruas de Berlim para separar os dois lados da cidade.
Principal símbolo da Guerra Fria, o muro dividiu por 28 anos a Alemanha em dois blocos: a República Democrática da Alemanha - que seguia o regime socialista liderado pela União Soviética - e a República Federal da Alemanha - sob o regime capitalista.
O objetivo da construção era evitar a fuga de alemães do lado comunista para o mundo capitalista, caminho feito por quase 3 milhões de pessoas desde o final da 2ª Guerra Mundial - eles tentavam escapar de problemas de abastecimento e da situação econômica cada vez pior na Alemanha oriental.
Após a construção do muro, o fluxo de migração caiu drasticamente: estima-se que cerca de 5.000 pessoas conseguiram atravessar a barreira entre 1961 e 1989, ano da queda do paredão.
Para o professor de Ciências Políticas e Relações Internacionais da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Tullo Vigevani, “dividir a cidade de Berlim ao meio simbolizava a divisão do mundo em dois blocos” completamente isolados entre si.
- Cada parte tinha suas próprias regras. O muro não respeitou nada. Ele dividiu ruas, prédios e famílias.
A barreira foi reforçada diversas vezes ao longo dos anos e chegou a possuir não apenas um, mas dois muros de 162 km de extensão, separados por um corredor de 100 m de largura extremamente militarizado. A zona ficou conhecida como “corredor da morte”.
De acordo com Vigevani, o muro era tão vigiado que, quem tentasse mudar de lado, era recebido com tiros. Segundo estimativas oficiais do governo alemão, 136 pessoas morreram tentando cruzar a barreira.
“Muro da vergonha” segue vivo
A construção do muro só foi possível por causa da “apatia” da sociedade alemã na época, segundo o professor de História Contemporânea da PUC de São Paulo, Amaílton Magno Azevedo. Humilhados pela derrota na 2ª Guerra Mundial, a população não realizou protestos nem manifestações contra o muro. Muitas famílias terminaram separadas por décadas sem que nada fosse feito, diz ele.
A maior consequência do “Muro da Vergonha”, como era chamado no ocidente, foi o desenvolvimento desigual entre as duas regiões do país. Até hoje, a parte mais ao leste da Alemanha sofre com indicadores sociais e econômicos muito abaixo do restante do país, que viveu um verdadeiro “milagre econômico” durante os anos de reconstrução no pós-guerra.
A diferença é tanta que o contribuinte alemão chega a pagar um imposto conhecido como “taxa de solidariedade” para ajudar na reconstrução da economia no lado oriental. O que vai durar pelo menos até o ano de 2019.
E mesmo após 22 anos da reunificação da Alemanha, Azevedo afirma que ainda há “feridas abertas” no país.
Em uma pesquisa publicada em 2010 pelo jornal Bild, um dos mais lidos da Alemanha, 23% dos alemães do leste e 24% dos moradores do lado ocidental disseram que gostariam que o muro ainda existisse. Na mesma pesquisa, outros 16% afirmam que seria melhor se a Alemanha voltasse a se dividir. Enquanto isso, 10% dos cidadãos de Berlim afirmaram que a decisão de separar os dois lados da cidade foi “absolutamente adequada”.
Azevedo explica que isso é reflexo de que ainda existem diferenças profundas que só podem ser curadas com o tempo. Para ele, há “um sentimento de vitoriosos e derrotados” e de “ressentimento” entre as duas regiões.
Da Redação com R7
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