Foram 123 dias de paralisação das atividades. Mais de três meses depois do fim da greve das universidades públicas brasileiras - a mais longa da história do ensino superior - professores, alunos e funcionários seguem tentando recuperar o tempo perdido. Nada de praia durante a semana ou tempo livre para a família. Dessa vez, as férias vão ficar para depois. O verão só vai dar espaço a livros e apostilas.
A estudante de Relações Econômicas Internacionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Cecília Cury vai ter de voltar aos corredores da faculdade. De 28 janeiro a 8 de fevereiro, tem compromisso com a semana de recuperação. Ela acredita que teve seu desempenho prejudicado pela ritmo acelerado do segundo período do ano. "Parece que tivemos que correr muito mais. Fizemos as provas sem as notas das avaliações dos professores, porque não deu tempo para corrigir", diz. Segundo a universitária, muitos docentes tentaram encontrar alternativas para garantir que as aulas não se estendessem verão adentro.
Entre as possibilidades, a jovem destaca as aulas em sábados e combinações para que o conteúdo fosse ministrado com maior dinâmica. "Foi uma combinação entre professores e alunos. Todos concordaram, ninguém queria ter aulas no verão. Mas não conseguimos fugir das provas finais", acrescenta. As datas se referem ao curso de Relações Internacionais. Graduações que tiveram maior tempo de paralisação devem estender ainda mais o calendário.
De acordo com a reitoria da UFMG, em setembro o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) estabeleceu 5 de outubro como a data limite para encerramento do primeiro semestre de 2012, cujas aulas tinham sido interrompidas por conta da greve. Os cursos da universidade tiveram de dar início às aulas do segundo semestre até 8 de outubro de 2012, com encerramento previsto para, no máximo 16 de fevereiro de 2013. O início do primeiro período do próximo ano está previsto para 4 de março - sem alterações significativas depois disso.
RS: comerciantes comemoram movimento ao redor da UFPel
Em Pelotas, no Rio Grande do Sul, comerciantes e donos de bares e casas noturnas comemoram a previsão de movimento intenso durante o verão. Isso porque as aulas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) também devem se estender. O estudante de Design Digital Artur Cunha, 22 anos, conta que o recesso entre Natal e Ano-Novo - que também vai acontecer na UFMG e demais universidades brasileiras - vai ser a oportunidade para que os universitários aproveitem um pouco do verão antes da rotina voltar ao normal. Mas ele não se importa.
"Todo mundo já sabia que não teria outro jeito. Ter aulas no verão era a única forma de recuperar. Como todos vão estar aqui, vai ter muita coisa para fazer à noite. Nos finais de semana, ir para a praia do Cassino é um bom programa", diz. Natural de Viamão (RS), Artur deve receber a visita dos pais para as festas de final de ano. Durante o resto da temporada, vai se dividir entre as aulas pela manhã, trabalho à tarde e lazer à noite.
Na Universidade de Brasília (UnB), a solução encontrada foi diminuir os intervalos entre o primeiro e o segundo semestre de 2012. Mas a medida não foi suficiente para evitar que os 35 mil alunos tenham aulas durante o verão. Segundo o diretor da Secretaria de Administração Acadêmica, Arnaldo Carlos Alves, as aulas seguem até 8 de março. "Vamos fechar os 200 dias letivos previstos por lei", diz. Alves reconhece que a paralisação pode ter prejudicado o desempenho dos alunos. "Quando você interrompe um semestre, pode haver algum tipo de dificuldade em disciplinas de cálculo, por exemplo. Mas são casos pontuais", diz.
Com início em 17 de maio, a greve de 57 das 59 universidades federais brasileiras tinha entre os objetivos rever plano de carreira, condições de trabalho e infraestrutura. Em 16 de setembro, o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino (Andes) decidiu pelo fim da paralisação.
Mário Luiz (Carioca) com Terra
Nenhum comentário:
Postar um comentário