terça-feira, 27 de maio de 2014

Traficante de São Paulo desbancou Fernandinho Beira-Mar no domínio do Narcosul

Marcos Herbas Camacho, o Marcola Foto: Divulgação / Arquivo
A maior facção criminosa para o tráfico de drogas do país atropelou nos últimos 12 anos os rivais do Rio de Janeiro — em especial Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar — e, adotando uma estratégia diferente para cada país vizinho, planeja dominar o Narcosul. Desde o último domingo, o EXTRA conta como funciona o maior bloco de drogas do mundo e quem são os homens que baixaram as armas e passaram a agir em conjunto com operações em Bolívia, Brasil, Paraguai e Peru.
 O traficante Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, durante depoimento em Comissão Parlamentar de Inquérito, em Brasília

Marcos Willians Herbas Camacho, de 46 anos, é um dos embaixadores do Narcosul (veja aqui o perfil de Marcola). E o Primeiro Comando da Capital (PCC), a sua organização.
Segundo o Ministério Público de São Paulo, o chefe da única facção brasileira com tentáculos nacionais comanda de dentro do presídio paulista de Presidente Prudente a operação do “partido”. É dessa forma que os membros se referem à organização, que já atua no Paraguai e na Bolívia e planeja como será seu crescimento no Peru.
O país, maior produtor mundial de cocaína, é hoje a fronteira de expansão do grupo. O EXTRA confirmou a informação, considerada há anos algo inevitável, após entrevistar cinco fontes, da Polícia Federal brasileira e da Diretoria Antidrogas do Peru (Dirandro). Dois emissários da facção já estiveram em Beni, no interior daquele país, tentando fazer contatos com fornecedores locais e, assim, comprar a cocaína e a pasta base diretamente do produtor, pagando até 150% menos do que na fronteira.
O comandante da Dirandro, general Vicente Romero, disse ter atenção redobrada com os brasileiros:
— Monitoramos traficantes brasileiros porque não queremos ser surpreendidos pela chegada da facção.



A Estrada do Pacífico, que liga o Brasil ao Peru: área de expansão
A Estrada do Pacífico, que liga o Brasil ao Peru: área de expansão Foto: Cléber Júnior
No Brasil, eles já dominam há pelo menos dez anos, desde que Marcola implantou uma estrutura de pirâmide e métodos copiados da gestão empresarial. A partir dos presídios — a primeira célula foi em Taubaté, em 1993 — cresceram para quase todo o país. O Ministério Público de São Paulo estima que existam 11.800 membros. O grupo implantou regras como o pagamento de uma mensalidade — a chamada cebola — e arregimenta presos em cadeias de todo o país. Cometem assassinatos, incendeiam ônibus e foram responsáveis pelo sequestro do repórter Guilherme Portanova e a ameaça de morte ao governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB). O objetivo é mostrar o poder a todo custo.
Na Bolívia, a tática é a da violência. A facção contrata sicários (matadores de aluguel, em espanhol) para intimidar e matar adversários. Um dos pistoleiros é Mauro Vazquez, criminoso da boliviana Cobija. Misto de líder comunitário e bandido, Vázquez hoje está preso. Com isso, os brasileiros estão expulsando bolivianos do tráfico.
A estrutura de células independentes, em que um emissário não conhece o outro, dificulta o trabalho da Força Especial de Luta contra o Tráfico (Felc-N), a polícia antidrogas da Bolívia. Um desses emissários, o brasileiro Marcos Romagno, já foi preso. Dizia estudar Medicina em Santa Cruz de la Sierra. Mentira, segundo a Felc-N: representava os interesses de Marcola.
Picapes recheadas com maconha
O Paraguai, melhor do que nenhum outro país, mostra como a facção se sobrepôs aos concorrentes do Rio. Hoje, os contatos de criminosos cariocas ocorrem principalmente na paraguaia Salto del Guayrá, cidade gêmea de Guaíra (PR), e no departamento Alto Paraná. Em alguns casos, o tráfico do Rio depende da facção paulista para abastecer seu mercado. Os emissários do “partido” preferem evitar confrontos em busca de refúgio. É o caso de Wilson Roberto Cuba, condenado a 30 anos de prisão. Ele é hoje, segundo o MP paulista e a PF, um dos representantes da facção no país.
Além de comprar dos principais fornecedores no país, o grupo montou estruturas próprias para conseguir traficar. Uma delas, por exemplo, é alvo de uma investigação da PF. Uma rede de oficinas de carro foi criada para adaptar carros de modelo Hilux para o tráfico de maconha.
A droga sempre é levada por terra, pois nenhuma rota aérea seria viável economicamente devido ao baixo preço da maconha (mil reais o quilo, segundo a PF). Esses carros muitas vezes são próprios da facção. Uma mula dirige do Paraguai até uma cidade no Mato Grosso do Sul, onde o estaciona. Em seguida, sem se encontrar com a primeira, outra pessoa pega o carro e leva até São Paulo.

Mário Luiz (Carioca) com Extra

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