Despedida de Suassuna reuniu familiares, amigos e fãs, no Recife.
Escritor e dramaturgo morreu aos 87 anos, por complicações de um AVC.
Familiares
de Ariano Suassuna prestaram a última homenagem ao escritor no
Cemitério Morada da Paz, em Paulista, no Grande Recife (Foto: Vitor
Tavares / G1)
Após 16 horas de velório, o corpo do escritor, dramaturgo e poeta
Ariano Suassuna foi enterrado no Cemitério Morada da Paz, em Paulista,
no Grande Recife, nesta quinta-feira (24). O sepultamento foi precedido
pela leitura de dois poemas, a pedido da viúva, Zélia de Andrade Lima.
Um dos netos do casal, João Suassuna, recitou "Acahuan", que Ariano
escreveu em homenagem a seu pai, e "A mulher e o reino", feito para a
esposa. Todos os parentes acompanharam a leitura muito emocionados, e
Zélia foi amparada por eles.Durante a cerimônia, que durou aproximadamente uma hora, muitos fãs e amigos também prestaram suas últimas homenagens ao escritor. A neta Germana Suassuna, psicóloga, fez questão de destacar a importância da população no momento de despedida de seu avô. "Dentro da corda [que separava os familiares e amigos dos admiradores], está o Brasil oficial. Mas meu avô gostava mesmo era do Brasil real, que está fora da corda", disse, seguida de muitos aplausos.
O caixão chegou ao cemitério pouco antes das 17h, após ter desfilado em carro aberto, em um veículo do Corpo de Bombeiros, fazendo o percurso desde o Palácio do Campo das Princesas, local do velório. Ainda no palácio, no centro do Recife, os netos de Ariano carregaram o caixão até o carro, ao mesmo tempo em que os presentes aplaudiam e cantavam -- o frevo "Madeira que cupim não rói" e o grito de guerra do Sport, time do coração do autor. Um dos filhos de Ariano, o artista plástico Dantas Suassuna, acompanhou o caixão do pai durante o trajeto. A cerimônia de sepultamento contou ainda com salva de tiros, a execução instrumental da Ave Maria e da Oração de São Francisco e uma chuva de pétalas.
Dantas
Suassuna (de camisa azul) acompanha o caixão do pai no percurso entre o
velório e o cemitério (Foto: Kety Marinho / TV Globo)
No percurso de 40 minutos até o cemitério, muitas pessoas foram às ruas
do Recife e Olinda para acompanhar a passagem do corpo de Ariano Suassuna.
A população aplaudia quando o carro do Corpo de Bombeiros passava e
entoava o nome do escritor paraibano. No Cemitério Morada da Paz,
familiares e amigos também seguiram de perto o caixão de Suassuna até o
local onde foi enterrado.Desde a noite de quarta-feira (23), até a tarde desta quinta, foi grande o número de familiares, amigos e fãs que passaram pelo Palácio das Princesas, durante o velório. O caixão esteve o tempo todo coberto por bandeiras do Sport, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), de Pernambuco e do Brasil.
A presidente da República, Dilma Rousseff, passou cerca de 40 minutos no local, onde conversou com familiares do escritor e com políticos, como o governador de Pernambuco, João Lyra Neto, e o candidato a presidente pelo PSB, Eduardo Campos. Dilma deixou o local sem fazer declaração pública. Também estiveram presentes o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo; os governadores Ricardo Coutinho (Paraíba) e Jaques Wagner (Bahia); o senador Humberto Costa e o prefeito do Recife, Geraldo Julio.
Caixão com o corpo de Ariano Suassuna chegou ao cemitério pouco antes das 17h (Foto: Vitor Tavares / G1)
A missa de corpo presente foi celebrada pelo arcebispo de Olinda e
Recife, Dom Fernando Saburido, e acompanhada com muita emoção por
parentes, amigos e admiradores de Ariano Suassuna, no final da manhã . A
celebração durou cerca de uma hora e Saburido destacou que Ariano,
reconhecidamente espirituoso e assumido devoto de Nossa Senhora, era
conhecido por ser um homem de fé. Uma mensagem preparada pela
Arquidiocese especialmente para a ocasião foi lida. Em forma de poesia,
um trecho dizia: "A morte nunca é sina. É vida com outro nome". O texto
impresso foi entregue pelo arcebispo nas mãos da viúva, Zélia.Para a filha mais velha de Ariano, Maria das Neves, o carinho demonstrado pelas pessoas ao pai é o maior legado que ele deixa. "O maior legado que fica é o carinho que as pessoas têm por ele, não é nem tanto a obra. Esse carinho está vindo de todo o Brasil, estamos recebendo muitas mensagens", afirmou, agradecendo especialmente ao apoio que as pessoas têm dado à mãe, Zélia.
Durante o velório, um admirador de Ariano cantou o frevo "Madeira que cupim não rói", um dos preferidos do escritor, e chegou a arrancar aplausos dos familiares que estavam presentes. Enrolado em uma bandeira de Pernambuco e falando em voz alta, Jackson Nascimento lembrou a grande presença do Sertão nas obras do mestre, destacando que o povo da região sente muito orgulho de ser representado por um autor como ele. "O mestre não morre, ele permanece", resumiu.
Presidente
Dilma Rousseff com o governador João Lyra Neto e a viúva, Zélia de
Andrade Lima; fã homenageia Ariano cantando frevo; os diretores Guel
Arraes (D) e Luiz Fernando Carvalho (Fotos: Vitor Tavares, Renan Holanda
e Katherine Coutinho / G1)
O cineasta e diretor de televisão carioca Luiz Fernando Carvalho foi se
despedir do escritor, de quem adaptou três obras para a televisão.
"Você perguntava sobre a diferença entre jagunço e capanga e vinha uma
aula sobre geografia, sobre música sertaneja, sobre geologia, sobre
canto. [Ariano] É um tesouro, é um cometa raro", lamentou.O também cineasta e diretor de televisão Guel Arraes definiu Ariano como um grande humanista. "Eu tive o privilégio de conhecê-lo. Em diversas ocasiões, desde pequeno, no trabalho, convivi com ele. Ele é um homem que viveu de acordo com as suas ideias, um homem simples, que conversava com o povo, viveu sempre perto de suas origens e, assim, se tornou universal."
Suassuna morreu na quarta (23), aos 87 anos. Ele estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Português, onde foi submetido a uma cirurgia após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) do tipo hemorrágico, na segunda (21).
Em
março de 2010, Ariano Suassuna deu uma aula-espetáculo durante o
Festival de Teatro de Curitiba (Foto: Lenise Pinheiro / Folhapress)
Mário Luiz (Carioca) Com G1
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