Em entrevista ao G1, Amanda, de 32 anos, explicou que nasceu com órgãos sexuais femininos e masculinos, mas que nunca passou por exames genéticos que efetivamente determinassem seu gênero. "Sou intersexual, o que quer dizer que estou em ambos os espectros, entre masculino e feminino.
"Embora identificada como do sexo masculino, ela diz que desde os primeiros anos de idade já se identificava também com o sexo feminino. "Eu sabia que algo era diferente desde os quatro ou cinco anos. Foi difícil perceber, porque eu não tive uma criação marcada pela distinção de gênero, então gostava de brincar tanto de casinha quanto de carrinhos. Mas a maioria das atividades masculinas tinham um enfoque feminino", disse.
A reação ao fato de ser identificada como um garoto levou Amanda a uma conclusão inicial: todos os meninos querem ser meninas. "Por causa do meu histórico médico, me disseram que eu era um menino desde tão cedo que eu acabei achando que todos os meninos queriam ser meninas, usar maquiagem e vestidos, e gostavam de meninos, já que eu não tinha outro tipo de referência."
Vida dupla
Foi na faculdade que Amanda decidiu assumir sua identidade com o sexo feminino, mas ela diz que nunca se preocupou com a mudança do nome nos docuementos legais.
"Meus amigos, parentes e pessoas que conheço profissionalmente, mas fora do trabalho, sabiam há anos", diz ela. "O mais difícil em fazer a transição em uma sala de aula é que é muito público. Em um ambiente de trabalho normal, talvez dez ou 20 pessoas precisem saber, e nenhuma tem pais que podem entrar com um processo, ou se preocupar com a influência que você tem na vida deles. Por isso levei tanto tempo para chegar a esse ponto", explicou.
A vida dupla foi possível porque Amanda morava em uma cidade a cerca de 50 quilômetros de distância de onde trabalhava. "Quando mudei para a mesma comunidade em que moram as famílias dos meus alunos, ficou difícil esconder."
Por isso, Amanda conversou com a diretoria da escola e a data em que ela assumiria sua identidade como mulher foi agendada para depois das férias de verão, no segundo semestre deste ano.
Porém, ao ser flagrada com o namorado em uma sala de cinema por alguns de seus estudantes, durante um fim de semana em meados de março, ela decidiu acelerar o processo. "O dia 16 de março foi o meu primeiro dia oficial me apresentando como mulher na sala de aula."
Teste genético
Ao fazer um teste genético, a americana diz que, depois de muitos anos confusa, conseguiu descobrir sua condição. "Tenho a maior parte dos órgãos reprodutores femininos, mas sem um canal vaginal totalmente formado", disse ela. A professora também tem síndrome de Kallmann, que afeta a produção de hormônios sexuais e o olfato.
A falta de olfato impediu que Amanda seguisse sua primeira vocação profissional. "Eu queria inicialmente entrar para a polícia (como uma detetive), mas por causa da falta de olfato eu não me qualificaria. Quando eu estava no ensino médio, pude ensinar em algumas aulas de laboratório, e foi a partir daí que as coisas aconteceram", disse.
Atualmente, ela tem diplomas em química, biofísica e performance musical. Na escola em que trabalha desde 2008, em Chino, ela dá aulas preparatórias de química.
Segundo ela, há outros seis distritos escolares que já passaram por situações parecidas, com professores e professoras trans. Mas, na região da Califórnia em que vive, ela afirma que esses casos são raros. "A maioria mantém as coisas em silêncio. Ou se mudam para outro lugar durante o processo."
Apoio e alívio
Amanda, porém, permanece na mesma comunidade em que dá aulas há sete anos. Mesmo sem se assumir como mulher dentro da escola, a professora diz que a maior parte das pessoas já imaginava.
"É meio difícil esconder quem você é quando isso transparece todos os dias. Os rumores de que eu era gay, ou feminina, correram durante anos, e a maior parte das pessoas disseram 'finalmente'. Alguns estudantes têm tido problema com a transição, mas o apoio tem vindo de todas as partes."
Agora, ela diz que se sente incrível, e que, como o governo da Califórnia dá diversos direitos e proteções a professores e outros funcionários, foi ela quem definiu quando a transição ocorreria, como os pais seriam informados e quais seriam os procedimentos para lidar com a imprensa. Por isso, a escola não divulgou nenhum comunicado sobre o tema, que Amanda trata como pessoal. Ela diz estar contente com o resultado.
"É uma sensação maravilhosa poder finalmente acordar de manhã e vestir a roupa certa, e apenas ser quem eu sempre estava destinada a ser. Minhas interações sociais estão melhores, eu sou uma educadora melhor, mais feliz e produtiva. E sou parte do mundo", descreveu ela.
Mário Luiz (Carioca) com G1
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