“Ao descer do avião (com a mala de dinheiro), era indagado por Geddel a respeito da quantia que estava sendo entregue. Geddel demonstrava naturalidade ao receber os valores”, diz Funaro. “Recorda-se de ter entregue dinheiro para Geddel em São Paulo, no Hotel Renaissense, na Alameda Santos, e uma vez em Salvador, no Hotel Pestana, no dia em que a filha de Geddel estava fazendo uma festa para comemorar seus 15 anos”, complementa o doleiro.
Geddel voltou a ser preso em regime fechado, pela Polícia Federal, na manhã desta sexta-feira. Ele foi detido no último dia 3 de julho, por decisão do juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, tendo sido transferido para a prisão domiciliar nove dias depois, por decisão do desembargador Ney Belo. Agora, o ex-ministro será levado de volta para Brasília, onde cumprirá a nova detenção preventiva, também assinada por Vallisney. O juiz ainda determinou a prisão do advogado Gustavo Ferraz e mandados de busca e apreensão nas casas de Geddel, da mãe dele, e de Ferraz.
A ação acontece três dias depois da Operação Tesouro Perdido, a descoberta de um apartamento que serviria de “bunker” para o ex-ministro. Após uma denúncia anônima, a PF fez no imóvel maior apreensão de dinheiro em espécie da história do país: 51 milhões de reais. Segundo os policiais, as digitais do ex-ministro foram encontradas nas cédulas e nas caixas que guardavam o valor dentro do apartamento.
No acordo de delação, o doleiro Lúcio Funaro apresentou aos investigadores da Procuradoria-Geral da República (PGR) registros de trocas de mensagens de celular com Geddel, históricos de voos do jatinho que fazia o “delivery” das malas para o ex-ministro, planilhas de pagamentos e, em alguns casos, até extratos bancários das operações. Amigo pessoal de Temer, Geddel foi ministro da Secretaria de Governo e tinha aval do presidente para comandar as relações do Planalto com o Congresso. Na delação, o doleiro narra em detalhes como funcionou o propinoduto na Vice-Presidência de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, entre 2011 e 2015, período em que Geddel comandou a repartição. Funaro descreve o ex-ministro, “amigo e interlocutor de Temer”, como um “forte arrecadador de doações e propinas”.
Em 2014, por exemplo, Funaro diz ter feito nove entregas de dinheiro vivo a Geddel. Uma de 600.000 reais e outra de 500.000 reais em fevereiro, uma de 800.000 reais em março, 1 milhão em maio, mais 1 milhão em julho, 1,5 milhão em agosto, 3,2 milhões em setembro, 1,2 milhão em outubro e 500.000 em dezembro. Em 2015, foram duas entregas de 500.000 reais cada.
Durante os governos do ex-presidente Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff, o grupo do PMDB da Câmara apoderou-se de cargos estratégicos no banco. Funaro conta que os peemedebistas usavam a influência política para favorecer empresários dispostos a pagar milionárias propinas para acessar as linhas de financiamento da Caixa.
Funcionava assim. Ora Lúcio Funaro ora Eduardo Cunha faziam os contatos com empresários interessados em obter empréstimos junto ao banco. Depois de negociar os valores da propina, Cunha negociava a liberação dos recursos com Geddel, que ocupava a vice-presidência de Pessoa Jurídica do banco. Quando o dinheiro saia, a propina era paga às empresas do doleiro Lúcio Funaro, que providenciava a partilha da propina.
No período em que o PMDB comandou o esquema na Caixa, cerca de 5 bilhões de reais, a sua maioria extraídos do FI-FGTS, um fundo de investimentos em infraestrutura administrado pela Caixa, foram liberados para empresas que pagaram aos peemedebistas mais de 170 milhões de reais em propinas.
Lúcio conta que conheceu Geddel por intermédio de Eduardo Cunha. O doleiro pagou propina pela primeira vez a Geddel depois de o peemedebista ter favorecido o empresário Joesley Batista, da J&F, em um negócio de 300 milhões de reais. O primeiro encontro ocorreu no hangar da Ibero Star, no aeroporto de Salvador. Funaro desceu com a mala recheada de dinheiro, conversou com Geddel por menos de dez minutos e voltou para o avião. Um encontro frio e rápido.
Com o tempo, porém, as entregas tornaram-se cada vez mais frequentes e Geddel, perdeu a cerimônia. Lúcio passou a entregar malas de dinheiro para o peemedebista em hotéis de São Paulo e Salvador e até no aniversário de 15 anos da filha de Geddel. O doleiro lembra que era comum, nas entregas de propina, ser recebido por um Geddel ansioso no aeroporto. Segundo o doleiro, durante os minutos que estava com o ex-ministro no hangar para repassar as malas, os dois “conversavam brevemente sobre política e sobre as próximas operações vislumbradas”. Lúcio diz no acordo que
A rotina de entregas seguiu firme e forte mesmo depois da deflagração da Operação Lava-Jato. Lúcio conta que não interrompeu o esquema porque ele e Geddel acharam que as investigações da Lava-Jato na Petrobras não iriam se expandir para outros setores do governo. O esquema mudou quando Lúcio passou a figurar como potencial alvo da polícia. O delator conta que, um pouco antes de ser preso, recebeu um recado de Geddel para que interrompesse os pagamentos. “Não… Para. Dá uma segurada e depois nós acertamos isso aí”, disse Geddel.
A última operação realizada por Geddel na Caixa ocorreu em 2015 e rendeu 20 milhões de reais em propina. O empresário Joesley Bastista pediu a Funaro a liberação de um crédito de 2,7 bilhões de reais, para a compra da Alpargatas, combinando o pagamento de uma comissão de 3% pela operação. Lúcio pediu a Geddel a liberação do crédito no banco. Antes de receber a propina, no entanto, Funaro foi alvo de mandados de busca e apreensão da Polícia Federal, o que assustou Geddel, que avisou: “Deixa esse dinheiro aí com você, não quero saber desse dinheiro, não sei o que pode lhe acontecer, se precisar você já tem dinheiro contigo”
Da Redação com Resumo PB
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