Apresentador
do Cidade Alerta lutava contra um câncer desde abril
O jornalista Marcelo Rezende morreu neste sábado (16), aos 65 anos, na
zona sul de São Paulo. Um dos maiores nomes do jornalismo brasileiro, o
apresentador da Record TV lutava contra um câncer no pâncreas e no
fígado desde o final de abril. A informação foi confirmada pelo Hospital
Moriah, onde estava internado desde terça-feira (12).
Ainda não foram divulgadas informações sobre velório e enterro.
Com a coragem que o acompanhou ao longo da vida, o jornalista anunciou
em rede nacional que estava com a doença. Durante uma entrevista ao Domingo Espetacular no início de maio, horas antes de ser internado pela primeira vez, Rezende disse que encararia a doença de frente.
O câncer agressivo o obrigou a deixar repentinamente o comando do Cidade Alerta ,
jornalístico que apresentava desde 2012. Foi nessa última etapa da
carreira que Marcelo Rezende se reinventou como apresentador.
Entre denúncias e notícias sobre violência urbana, Marcelo Rezende
encontrou espaço para o bom humor. Transformou os repórteres em
personagens, deu apelidos à equipe técnica, colocou o comentarista
Percival de Souza sentado num trono. Criou bordões que ganharam as ruas e
já entraram para a história da TV brasileira. Um deles, o “corta pra
mim”, virou título de sua autobiografia (Editora Planeta, 2013). Um
breve resumo de uma vida rica de histórias.
Marcelo Rezende nasceu no Rio de Janeiro, em 12 de novembro de 1951,
fruto de um casal de baixa renda. Filho de um bancário e uma funcionária
da aeronáutica, decidiu, aos 16 anos, se mudar para a Bahia e viver em
uma comunidade hippie.
Um ano mais tarde, ingressou no jornalismo por acaso, durante uma
visita à redação do Jornal dos Sports, no Rio de Janeiro. Rezende tinha
apenas 17 anos e foi convidado para trabalhar como repórter na cobertura
de futebol. Foram o talento e as amizades que conquistou lá que o
levaram para a Rádio Globo e, na sequência, O Globo. No jornal carioca,
onde trabalhou por sete anos, teve a chance de ficar próximo do ídolo,
Nelson Rodrigues.
Antes de chegar à televisão, o jornalista ainda passou pela revista
Placar. Só então, em 1987, foi contratado como repórter esportivo pela
TV Globo. Com pouco tempo na emissora carioca, migrou para o jornalismo
investigativo – área que marcou a sua carreira profissional. Participou
de coberturas importantes e saiu na frente em várias delas. Um exemplo é
a investigação sobre a fuga de PC Farias, tesoureiro da campanha de
Fernando Collor, em 1993. Mas a matéria de maior repercussão na carreira
do apresentador foi um caso de violência policial na Favela Naval, em
Diadema, na grande São Paulo. A denúncia feita por Rezende em 31 de
março de 1997 no Jornal Nacionalcausou indignação no País, rodou o mundo
e colocou os direitos humanos na pauta da sociedade. Pelo trabalho,
Rezende recebeu os prêmios APCA (Associação Paulista de Críticos de
Arte) e o Líbero Badaró.
No ano seguinte, o jornalista voltou a ser premiado no Líbero Badaró
por uma denúncia de vendas de armas, também exibida no Jornal Nacional.
Ele já havia conquistado, em 1994, o diploma de honra ao mérito do
Festival de Filme e Televisão de Nova York pela reportagem Trabalho do
Menor, exibida no Globo Repórter.
A estreia como apresentador foi no Linha Direta , em 27 de
março de 1999. O jornalista participou ativamente do projeto que colocou
o programa policial que reconstituía crimes praticados por foragidos da
justiça de volta à grade da Globo – a primeira versão, feita em 1990,
durou só quatro meses no ar. De acordo com a emissora carioca, Rezende
dizia que “a proposta do Linha Direta era, desde o princípio,
condenar a impunidade e retratar os casos policiais com o máximo de
verossimilhança”. Isso era possível pois, além de contar histórias, a
atração incentivava os telespectadores a denunciar o paradeiro dos
criminosos ou fornecer pistas que ajudassem na solução dos casos. O
jornalista trabalhou sete meses montando uma equipe de 50 profissionais
para colocar o programa no ar.
Rezende deixou a Globo e, em 2002, foi para a Rede TV!, onde assumiu a apresentação do telejornal policial Repórter Cidadão .
Em 2004, foi contratado pela Record TV, como apresentador da primeira versão do Cidade Alerta . Ficou até 2006, quando foi contratado novamente pela Rede TV! para ancorar o RedeTV!News ,
principal jornalístico da casa. Deixou a emissora em 2008. Dois anos
depois, estreava na Band no comando do Tribunal na TV – atração nos
mesmos moldes do Linha Direta .
Ainda em 2010, Rezende voltou para a Record TV, como repórter especial do Domingo Espetacular . No ano seguinte, virou apresentador do Repórter Record . Mas, em 2012, Marcelo Rezende reassumiu o comando do Cidade Alerta
e, com uma dose de irreverência, mudou o jeito de fazer programa
policial na televisão brasileira. A inovação deu certo e fez história.
Em setembro de 2015, o vespertino venceu por pelo menos três vezes o Jornal Nacional , fato até então inédito na televisão. Quando não ficava na frente, por várias vezes o Cidade Alerta empatava no período de confronto direto entre os dois noticiários. Um marco histórico, já que, desde a estreia, em 1969, o Jornal Nacional sempre teve a liderança isolada de audiência.
O sucesso foi interrompido pela descoberta do câncer agressivo, em
exame realizado em 28 de abril. Mesmo após o diagnóstico, Marcelo
Rezende apresentou três edições do programa e fez questão de não
abandonar a legião de fãs. Durante o período em que esteve fora do ar,
usou as redes sociais para se manter em contato com o público. Em todas
as mensagens, passou demonstrações de confiança e fé.
Marcelo Rezende deixa cinco filhos e uma neta.
Marcelo Rezende começou a carreira em jornais
impressos esportivos, mas foi na televisão, com matérias investigativas, que o
apresentador se destacou ao longo de 30 anos dedicados à telinha.
Da Redação com R7
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