terça-feira, 6 de maio de 2014

Mulheres da Paraíba reclamam de violência na hora do parto normal

Grupo denuncia falta de estrutura adequada para partos naturais.
Diretora de maternidade diz que 'assédio deve ser combatido'.

Grupo de apoio para mulheres sobre parto e maternagem na Paraíba promove mobilização em defesa do parto natural (Foto: Gestar & Maternar / Wagner Araújo) 
Grupo de apoio para mulheres sobre parto e maternagem na Paraíba promove mobilização em defesa do parto natural (Foto: Gestar & Maternar / Wagner Araújo)
Da violência obstétrica explícita à falta de estrutura mais adequada para a realização de partos naturais, um grupo de apoio e luta pela humanização do parto da Paraíba lista vários problemas que as gestantes enfrentam nas maternidades públicas e privadas no estado. Segundo o grupo Gestar & Maternar, o problema começa no pré-natal: ou com excesso de solicitação de exames ou com a precariedade na forma como ele é realizado na rede pública.
Juliana Sallenave é uma das criadoras do grupo e afirma que no Sistema Único de Saúde (SUS), o trato às gestantes não é acolhedor como deveria. “No SUS, a violência obstétrica é mais explícita e marcante, desde a agressão verbal até o uso rotineiro de procedimentos proscritos na medicina há mais de trinta anos, como a manobra de Kristeller, em que é feita pressão no fundo do útero para forçar a saída do bebê no período expulsivo”, afirmou.
O parto suplementar, segundo Juliana, chega a inexistir na rede suplementar. “Não há sequer sala de parto. As mulheres que desejam dar à luz assim são levadas para o ambiente do bloco cirúrgico onde a claridade e a frieza não colaboram com o andamento de um parto natural. Uma de nossas lutas é a reivindicação por suítes de parto normal”, frisou.
A aceitação pela cirurgia cesariana, segundo o Gestar & Maternar, acaba sendo uma indução que atinge principalmente as mulheres que estão mais vulneráveis por conta da dor provocada pelas contrações do parto e das preocupações com a saúde do bebê. “Nas enfermarias não há privacidade e muitas de nós, como doulas voluntárias no SUS, presenciamos todo tipo de agressão, é muito triste. A mulher passa a temer pela própria vida e a do filho e permite ser separada do acompanhante, cortada e empurrada. Por isso muitas imploram para a aparente dignidade de se submeter a uma cesariana”, frisou.
Assédio deve ser combatido na hora do parto, diz diretora da Frei Damião
O tempo entre o começo do trabalho de parto até o nascimento do bebê são horas cruciais de resistência e dor, relatadas pelas participantes do Gestar & Maternar que podem ser atenuadas com uma série de preparações físicas e psicológicas da gestante e até de seu acompanhante. Em média, um parto normal pode levar de duas até 72 horas, o que requer da paciente tranquilidade e da equipe que a acompanha paciência.
Ouvir de uma profissional que quando foi fazer não sentiu dor, nem gritou é uma violência sem tamanho para quem está num trabalho de parto"
Paciente
Uma mulher que prefere não se identificar destacou que o que viu e viveu na Maternidade Frei Damião em nada se parece com parto humanizado, por conta do assédio de profissionais. “Ouvir de uma profissional que quando foi fazer não sentiu dor, nem gritou é uma violência sem tamanho para quem está num trabalho de parto, sentindo dores e preocupada com a saúde do bebê”, disse. Por receio, ela optou por não denunciar.
A justificativa é de que, mesmo após o parto, ela retornaria à unidade por conta do acompanhamento, por isso, o receio em formalizar a denúncia. “Esse tipo de tratamento está tão normalizado na socidade e nas maternidades e hospitais que a maioria das mulheres nem identifica isso como contrário à humanização do serviço”, avalia.
A diretora geral da Maternidade Frei Damião, Ana Márcia Fernandes, enfatizou que em 2013 não houve nenhuma denúncia desse tipo formalizada junto ao serviço social e à ouvidoria da maternidade. Ela enfatizou que a Maternidade Frei Damião é referência no parto humanizado e  possui o selo 'Amigo da Criança'.
Atitudes que se confrontam com o atendimento humano, caso seja denunciado, segundo Ana Márcia Fernandes, serão investigados e punidos. “Todas as denúncias são recebidas pela ouvidoria da maternidade, mas é preciso que a paciente que se sentir constrangida ou mal atendida formalize a denúncia para que possamos tratar o caso de forma individual, específica e pontual", diz.

Mário Luiz (Carioca) com G1

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