Ayrton Senna da Silva viveu apenas 34 anos. Pouco antes de morrer na curva Tamburello, durante o Grande Prêmio de San Marino, o então piloto da Williams manifestou o desejo de promover uma ação beneficente, mas não teve tempo de conversar com a irmã Viviane sobre o assunto. Ainda assim, a família decidiu montar o Instituto que multiplica seu legado até os dias de hoje.
Dedicada à pesquisa e produção de conhecimento para melhorar a qualidade da educação em larga escala, a organização sem fins lucrativos capacita anualmente 75 mil educadores, e seus programas beneficiam diretamente cerca de 2 milhões de alunos em mais de 1.300 municípios nas diversas regiões do Brasil. O Instituto é financiado por recursos de imagem do próprio Ayrton, doações e parcerias com a iniciativa privada.
“A vitória mais bonita do Ayrton é o trabalho que é feito com as crianças, alunos de escolas públicas de todo o Brasil que a gente apoia através da capacitação dos professores e diretores. Atendemos mais gente que todas as faculdades de pedagogia do país, o que permite atingir uma grande massa de jovens. Todo esse processo tem o objetivo de oferecer a chance de ter educação e, portanto, de ter futuro”, disse Viviane, presidente da entidade.
Pela reconhecida produção e disseminação de conhecimentos e soluções para o desenvolvimento humano, o Instituto Ayrton Senna integra a rede mundial de cátedras da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) desde 2004. O trabalho da entidade é motivo de orgulho para Bruno Senna, sobrinho do tricampeão mundial.
“O Ayrton deixou vários legados para diferentes tipos de pessoas. Para quem é fã de automobilismo, deixou a impressão de ter sido o piloto mais rápido que já existiu, um dos melhores da história. Para todos os brasileiros, deixou o Instituto, que está há 20 anos na briga para melhorar o país a partir da educação das crianças e jovens”, afirmou Bruno, com passagem pela Fórmula 1.
Tricampeão mundial nas temporadas de 1988, 1990 e 1991, Ayrton Senna foi um dos maiores ídolos do esporte nacional. Curiosamente, muitos jovens nascidos no final dos anos 1980 e no começo da década de 1990, embora não tenham recordações do piloto na pista, perpetuam a admiração, fenômeno que chama a atenção da irmã mais velha do antigo competidor.
“É uma surpresa que as crianças que nem existiam na época da trajetória do Ayrton o conheçam e admirem. A gente descobriu que são os pais que contam para os filhos as peripécias e tudo que aconteceu na época. Quando lançamos o documentário sobre ele, os pais compravam o filme e passavam para os filhos, mostrando os valores que estavam por trás das vitórias”, contou.
Boa parte dos brasileiros lembra exatamente o que estava fazendo no dia 1º de maio de 1994. Viviane e Bruno Senna, como de costume, acompanhavam Ayrton em ação pela televisão. Vinte anos depois, com as recordações da comoção nacional provocada pelo acidente fatal ainda frescas na memória, os familiares do tricampeão do mundo preferem exaltar seus feitos.
“Vinte anos é muito tempo, mas agora parece tão pouco... É engraçado, porque quando falamos do Ayrton, as pessoas lembram exatamente onde estavam no momento do acidente. É uma memória afetiva que não muda. Ele trouxe algo muito especial. Não era apenas ganhar, mas sim a maneira de ganhar. Cada vez que corria, era um show com valores como carinho, amor e respeito”, disse Viviane.
Com oito títulos mundiais de Fórmula 1, o Brasil é superado apenas por Alemanha (11), impulsionada pela longa hegemonia de Michael Schumacher (7), e Inglaterra (9). Desde o falecimento de Senna, o máximo que o País conseguiu foram os vices de Rubens Barrichello e Felipe Massa. A escassez de glórias contribuiu não apenas com a diminuição do apelo da categoria, mas também com a mitificação em torno do tricampeão.
O currículo construído por Senna em menos de 10 temporadas na Fórmula 1 torna cruel qualquer tipo de comparação com seus compatriotas. Vinte anos após o acidente fatal, o piloto brasileiro ainda figura com destaque em algumas das principais estatísticas da categoria: é o terceiro colocado em número de vitórias (41), o segundo em pole positions (65), o líder em poles consecutivas (8) e o quarto em pódios (80).
O Brasil, campeão mundial oito vezes de 1972 a 1991, atualmente tem Felipe Massa, 33 anos, como seu único representante na Fórmula 1 pela Williams, equipe que conta com o jovem Felipe Nasr, 21, na função de piloto de testes. Diante da precariedade do automobilismo de base, o País que ainda se orgulha de Ayrton Senna vê sua tradição na principal categoria do esporte a motor em xeque.
Mário Luiz (Carioca) com PB Agora
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