Ex-governadores e mais sete auxiliares são acusados de esquema fraudulento para arrecadação de caixa dois para campanhas políticas que envolve até uso de armas de fogo para intimidar pessoas
O ex-governador foi levado para exames de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML), no Centro. Ele chegou a ser levado para o Corpo de Bombeiros do Humaitá, onde permaneceria preso. Em seguida, a Vara de Execuções Penais enviou ofício ao secretário de Administração Penitenciária, coronel Erir Ribeiro da Costa, determinando a transferência do ex-governador para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, onde ficam os presos com curso superior. Manifestantes aglomerados na porta da cadeia pública atiraram ovos no carro em que o ex-governador foi transferido.
Rosinha Matheus está no presídio feminino Nilza da Silva Santos, em Campos dos Goytacazes.
Pelo menos 50 agentes cumprem nove mandados de
prisão e dez de busca e apreensão, expedidos pelo Juízo Eleitoral de
Campos, no Rio e em São Paulo. Nas investigações, a PF e o Ministério
Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) identificaram elementos que
apontam que "uma grande empresa do ramo de processamento de carnes
firmou contrato fraudulento com uma empresa sediada em Macaé para
prestação de serviços na área de informática".
Segundo
a polícia, há a suspeita de que os serviços não eram efetivamente
prestados e serviam para mascarar repasses irregulares para campanhas
eleitorais. O contrato era no valor de R$ 3 milhões. A PF informou ainda
que outros empresários denunciaram que o ex-governador cobrava propina
nas licitações da Prefeitura de Campos, exigindo o pagamento para que os
contratos "fossem honrados pelo poder público daquele município".
Garotinho
foi levado para a sede da Polícia Federal, na Zona Portuária, antes de
ser encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) para exame de corpo
de delito. Já Rosinha foi levada para a Polícia Federal de Campos.
Ex-secretário da Prefeitura de Campos na gestão de Rosinha, Suledil
Bernardio, também foi alvo de mandado de prisão nesta quarta-feira.
Organização de Garotinho tinha braço armado para intimidar pessoas
O
empresário delator André Luiz da Silva Rodrigues informou ao Ministério
Público Eleitoral que a organização criminosa do ex-governador usava
armas para viabilizar o esquema de dinheiro ilícito para campanha. O
empresário disse que, durante seus trajetos de veículo após fazer saques
em dinheiro, recebia a ligações do operador de Garotinho, Antônio
Carlos Ribeiro, de apelido Toninho, "o braço armado da organização
criminosa", dando conta que estava sendo seguido.
Toninho, que também teve mandado de prisão
preventiva expedido nesta quarta-feira, é ex-policial civil. Ele disse,
em seu depoimento, que "Toninho fazia questão de mostrar que estava
armado".
Para o juiz Glaucenir Silva de Oliveira, da
Justiça de Campos de Goytacazes (RJ), o suposto caso "demonstra de forma
clara a imposição do líder da Organização Criminosa, ora réu Anthony
Garotinho, através do réu Antônio Carlos Ribeiro da Silva, vulgo
Toninho, e que era o braço armado da Organização Criminosa, para que o
colaborador obedecesse suas ordens".
O magistrado
explicou que o grupo exerceria um poder intimidativo contra empresários
extorquidos e que mantinham contrato de prestação de serviços ou de
realização de obras públicas com o município de Campos. Já os outros
réus presos, Ney Flores Braga e Suledil Bernardino, tinham o papel de
negociar com empresários o pagamento de suas contribuições ilícitas via
"caixa 2". A denúncia aponta que os empresários eram obrigados a fazer a
contribuição, mediante ameaça de não receberem seus créditos lícitos.
Programa na rádio Tupi
Por
causa da prisão, o ex-governador não apresentou seu programa diário na
Rádio Tupi. O radialista Cristiano Santos entrou no ar no lugar de
Garotinho e explicou o caso.
"Vocês devem estar
estranhando eu aqui. A Polícia Federal prendeu nesta manhã o Garotinho
aqui no Rio e a sua esposa Rosinha, em Campos. A defesa vai se
pronunciar assim que tiver acesso aos documentos que embasaram a prisão,
o que ainda não ocorreu", completou.
Procurada pelo O DIA,
a assessoria de imprensa de Garotinho disse, por meio de nota que
"querem calar o ex-governador mais uma vez". Segundo a defesa, este é
mais um capítulo da "perseguição" que ele vem sofrendo desde que
"denunciou o esquema de [Sérgio] Cabral e as irregularidades praticadas
pelo desembargador Luiz Zveiter".
"O ex-governador afirma
que tanto isso é verdade que quem assina o seu pedido de prisão é o
juiz Glaucenir de Oliveira, o mesmo que decretou a primeira prisão de
Garotinho, no ano passado, logo após ele ter denunciado Zveiter à
Procuradoria Geral da República", diz a nota.
A assessoria do ex-governador destacou que nem
Garotinho e nenhum dos acusados cometeu crimes e que ele foi alertado
por um "agente penitenciário a respeito de uma reunião entre Sérgio
Cabral e Jorge Picciani, durante a primeira prisão do deputado em
Benfica. Na ocasião, o presidente da Alerj teria afirmado que iria dar
um tiro na cara de Garotinho. Agora, a ordem de prisão do juiz Glaucenir
é para que Garotinho vá com sua esposa para Benfica, justamente onde
estão os presos da Lava Jato. Cabe frisar que essa a operação à qual
Garotinho e Rosinha respondem não tem relação alguma com a Lava Jato",
diz a nota.
Histórico de prisões
A
última prisão de ex-governador ocorreu no dia 13 de setembro enquanto
ele apresentava seu programa na Tupi. Na ocasião, Cristiano Santos disse
que Garotinho ficou ausente por "problema na voz".
A
prisão temporária de Garotinho havia sido determinada pelo juiz Ralph
Manhães, da 100ª Zona Eleitoral de Campos dos Goytacazes, que o condenou
a 9 anos e 11 meses de prisão por corrupção eleitoral, associação
criminosa, coação de duas testemunhas e supressão de documentos.
A medida foi posteriormente convertida em prisão domiciliar, com uso de
tornozeleira eletrônica. No entanto, ele conseguiu um habeas corpus no
dia 26 do mesmo mês. O relator do caso, ministro Tarcísio Vieira,
entendeu ser ilegal o mandado de prisão, uma vez que a instrução do
processo já foi encerrada e que o entendimento do Supremo Tribunal
Federal (STF) é de que o cumprimento da pena só pode se dar após
condenação em segunda instância.
No dia 11 de novembro do
ano passado, Garotinho também já havia sido preso suspeito de
envolvimento em um esquema de compra de votos. Segundo a polícia, uma
associação criminosa foi montada para fraudar as últimas eleições no
município de Campos, em que foi eleita a ex-governadora Rosinha Matheus.
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