terça-feira, 28 de setembro de 2010

‘Quero meu rosto e sorriso de volta’, diz garota ferida no Playcenter

‘Meu nariz ficou torto’, afirma menino que também estava na montanha-russa.

Estudantes de Guarulhos querem conhecer ídolos do Palmeiras e Corinthians.

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Nathália mostra foto tirada antes do acidente (Foto:
Kleber Tomaz/G1)
Quase uma semana após o acidente que deixou 16 crianças e adolescentes feridos na montanha-russa do Playcenter, em São Paulo, a vítima mais grave da colisão entre os carrinhos do “Looping Star” ainda evita se olhar no espelho. “Quero meu rosto e sorriso de volta”, disse Nathália Lopes Costa na segunda-feira (27) ao G1 ao acordar do sofá na casa dos pais, na periferia de Guarulhos, na Grande São Paulo. A estudante de 11 anos quebrou o nariz e teve afundamento da face decorrentes do impacto da batida da última quinta-feira (23).
“Não me lembro de nada. Quando o carrinho em que eu estava não parou e bateu duas vezes seguidas no da frente, que estava parado, eu apaguei e só acordei no hospital”, afirmou Nathália, na segunda-feira (27). Ela e outras vítimas bateram o rosto contra a barra de proteção do brinquedo. Depois de ter recebido alta, na sexta (24), ela está de repouso.
Segundo o diagnóstico médico do Hospital Metropolitano, na capital paulista, Nathália havia sofrido “afundamento da parede anterior do antro maxilar direito em sua porção inferior” e ficou com o “septo cartilagíneo desalinhado”, além de uma “fratura cominutiva da base e orlas laterais da pirâmide nasal”. Em outras palavras, palavras da própria garota, isso tudo significa “muita tristeza e dor”.
“Quando eu voltar ao hospital para tirar os esparadrapos, espero que meu rosto não fique feio e eu possa ter o mesmo sorriso de antes. Agora não consigo sorrir porque dói muito. Está tudo inchado”, disse Nathália.
Desde quinta, o brinquedo do parque de diversões está interditado para análise da Polícia Técnico-Científica. Peritos buscam respostas para o que aconteceu. A Polícia Civil abriu inquérito para apurar a suspeita de negligência na manutenção ou operação do aparelho. Ainda nesta semana, deve ocorrer uma simulação do acidente.
Em repouso, sem poder frequentar as aulas, a aluna da quinta série da Escola Estadual Maria Dirce II, também em Guarulhos, deve voltar a estudar só em outubro, relata sua mãe, a dona de casa Rita de Souza Lopes Costa, de 50 anos. “O sonho dela é ser médica”, se orgulha.
O Playcenter arcou com todas as despesas da cirurgia e o coquetel de remédios que Nathália toma. Apesar da assistência médica e do tratamento pagos pelo parque, Rita ainda continua chateada por ter sido informada sobre o acidente com sua filha somente quatro horas após ele ter ocorrido. “As crianças se feriram por volta do meio-dia, mas só me ligaram às 15h”, falou a mãe da menina, que é a sua caçula de cinco filhos.
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Montanha-russa
Não foram só os pais das vítimas que foram alertados tardiamente sobre o acidente. Boletim de ocorrência registrado no 23º Distrito Policial, em Perdizes, na Zona Oeste, informa que as polícias Civil e Militar, além dos Bombeiros, só souberam do incidente seis horas depois ao assistirem a televisão.
“Vamos apurar tudo, inclusive essa demora em avisar as autoridades”, afirmou o delegado Marco Aurélio Batista, titular do 23º DP. Além de tentar ouvir as crianças e adolescentes vítimas da montanha-russa, ele pretende realizar ainda nesta semana uma espécie de reconstituição do acidente. “Uma simulação”.
Segundo a assessoria de imprensa do Playcenter, a montanha-russa passou por manutenções e testes periódicos. A respeito das causas do acidente, o parque informou que irá deixar a resposta para os peritos para depois se pronunciar sobre o assunto. Por enquanto, a suspeita da perícia é a de que os freios do segundo carrinho falharam.
“Eu já tinha ido no ‘Looping [Star]’ outras vezes, mas agora não vou mais. Estou com medo”, afirmou Nathália, que tinha saído com os colegas da escola para uma excursão ao Playcenter. “Meus pais pagaram R$ 55 para eu ir. Quando eu e meus amigos fomos estávamos muito felizes, mas voltamos feridos e tristes de lá”.
Nariz torto
Numa idade repleta de descobertas, o amigo da mesma escola de Nathália, Rodrigo do Nascimento Amaral, outra vítima do acidente no Playcenter, está preocupado como sua aparência irá ficar após a batida que sofreu. “Meu nariz ficou torto”, disse o garoto de 10 anos, com o indicador apontado para o curativo que tem no rosto. “Meu nariz ficou mais para a esquerda e meus olhos estão inchados”.
Assim como a colega de série, Rodrigo e as outras vítimas foram todos atendidos no Hospital Metropolitano. Lá, ele foi submetido a uma tomografia computadorizada da face e mandíbula. Resultado: trauma. Análise: “desalinhamento do ápice da pirâmide nasal esquerda. Soalho orbitário esquerdo discreto e assimetricamente infradesnivelado, porém sem indentificar-se descontinuidade óssea. Septo nasal alinhado”.
“Eu estava no segundo carrinho com a Nathália. Batemos duas vezes no primeiro carrinho. Na primeira, ele não freou e bateu. Depois voltou um pouco para trás e bateu mais forte ainda no primeiro carrinho. Nessa hora, minha cabeça foi para frente e bati na barra de ferro”, relatou Rodrigo, que não chegou a ficar internado como a amiga. “Estou em repouso, mas voltarei para as aulas na quarta-feira [29]. Vou estudar para ser bombeiro”.
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O corintiano Rodrigo e a palmeirense Nathália
querem conhecer seus ídolos no futebol
(Kleber Tomaz / G1)
Ídolos no futebol
Cerca de 300 metros separam as casas dos pais de Nathália e de Rodrigo em Guarulhos. A pedido do G1, o garoto acompanhou a reportagem à residência da amiga. Além de gostarem de estudar, ambos tem médias 7 na escola, adoram futebol.
Vestido com a camisa do Corinthians, ele brincou com a menina sobre o quadro do Palmeiras na parede da sala dela. “Ela é tímida, mas vou falar. O sonho dela é encontrar e conhecer o Valdívia [chileno que joga no ataque palmeirense]”, disse o extrovertido Rodrigo, acompanhado de seu pai, Valdevino do Nascimento Amaral, de 50  anos.
“Sou fã dele. É verdade”, disse Nathália, que afirma não perder um jogo do clube do coração na televisão.
E Rodrigo? “Ah! Eu nunca vi uma partida do Corinthians no estádio. Somos pobres, tenho mais sete irmãos e meu pai está desempregado e não tem dinheiro para pagar o ingresso e o transporte para nós irmos a São Paulo. Meu desejo é conhecer e pedir um autógrafo do Dentinho [atacante corintiano]”, disse o garoto, que é o dono da bola nas “peladas” da escola. “Sempre que jogamos lá sou o capitão do time”.
E quanto a rivalidade dentro de campo? "O fato de ela ser palmeirense e eu corintiano não afeta nossa amizade. Só tiramos um sarrinho um do outro de vez em quando", disse Rodrigo.

Da Redação Com G1

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