Enquanto equipes travam uma batalha inglória contra risco de fusão nuclear, os estrangeiros abandonam o país. Helicópteros não resfriam os reatores da usina
Fuyo Murakami e seu marido Yoshiro se despedem de um
parente na partida rumo a Hokkaido, no extremo norte do Japão. Eles são
da região de Iwate, próxima da área de Fukushima, afetada pela crise
nuclear
(Jiji Press/AFP)
Diante da ameaça de um acidente nuclear de grandes proporções, muitas
embaixadas recomendaram a seus cidadãos que se afastem da região da
capital e sigam para o sul, na área de Osaka
A quinta-feira dos japoneses foi marcada por uma rara boa notícia na complicada operação para conter a crise nuclear. Pela primeira vez, quatro helicópteros das Forças de Defesa do Japão conseguiram lançar jatos d'água sobre os reatores de Fukushima. Os alvos foram os reatores mais danificados, especialmente o número 3. O objetivo principal era encher a piscina de combustível usado que foi avariada por uma explosão e por uma série de incêndios. A boa notícia, no entanto, não durou tanto assim: a operadora Tepco informou que não tinha condições de calcular a quantidade de água que entrou na piscina, já que os funcionários não conseguiam observar o local.
Na avaliação dos especialistas estrangeiros, a piscina do reator 4 está praticamente seca - o que deverá provocar níveis "extremamente elevados" de radiação, de acordo com o presidente da Autoridade Americana de Regulamentação Nuclear (NRC), Gregory Jaczko. A fusão do combustível pode disparar partículas radioativas, provocando assim uma catástrofe como a de Chernobyl. Diante das dúvidas sobre a eficácia da operação com os helicópteros, entraram em cena caminhões equpados com tanques e canhões d'água. Com o auxílio de bombeiros e policiais, funcionários da Tepco iniciaram uma tentativa, mas tiveram de retornar - o nível de radiação era elevado demais.
A Tepco espera restabelecer nas próximas horas a corrente de energia elétrica da central nuclear, o que permitiria ativar as bombas para resfriar os reatores e encher as piscinas. Os sistemas de resfriamento falharam na sexta-feira, depois do terremoto. O presidente americano Barack Obama ofereceu o envio de mais especialistas nucleares ao Japão, numa conversa telefônica com o primeiro-ministro japonês, Naoto Kan. A França também propôs uma cooperação. Para o Instituto Francês de Radioproteção e Segurança Nuclear (IRSN), as 48 horas contadas a partir da madrugada desta quinta serão cruciais e decisivas para o desfecho da crise japonesa.
Zona de risco - Diante da ameaça de um acidente nuclear de grandes proporções, muitas embaixadas recomendaram a seus cidadãos que se afastem da região da capital e sigam para o sul, na área de Osaka - ou, ainda, que deixem o Japão de vez. Grã-Bretanha, Alemanha, Suíça, Itália e Austrália também aconselharam seus cidadãos a deixar o norte e a região de Tóquio. França, Bélgica e Rússia enviarão aviões para retirar as pessoas que querem deixar o país. O governo da China, por sua vez, pediu às autoridades japonesas informações "pontuais e precisas" para acalmar a opinião pública, preocupada com a eventual chegada ao país de emissões radioativas.
A embaixada americana anunciou que considera "zona de risco" toda a área num raio de 80 quilômetros ao redor da central nuclear. Até o momento, as autoridades japonesas fixam seu perímetro de segurança num raio de 30 quilômetros, e se dizem convencidas de que a radiação fora da zona de exclusão de 20 quilômetros de raio "não representa perigo imediato à saúde". Enquanto no exterior a sensação geral ameaça passar da inquietação para o pânico completo, a população local, principalmente em Tóquio, se mostra serena e disciplinada, à espera de novas instruções do governo - confirmando a reputação ordeira do povo japonês, não há tumultos na metrópole.
Da Redação com Veja
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