segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Quem foi Cardoso Vieira na cidade de Conde


A inteligência superior nunca tem cor, sexo, religião e ideologia de qualquer espécie.
 
 Homem de instinto intelectual e forte em suas decisões. Nasceu Manoel Pedro Cardoso Vieira, em 1848, na Freguesia de Jacoca, atual município do Conde/PB, filho legitimo de Pedro Cardoso Vieira e Maria Severina Vieira. É importante mencionar de que “a sua família, em 1850, era proprietária de doze escravos e de dois imóveis: um, em Jacoca, o “sítio de terra” Congo (com 25 braças) e outro na capital, uma casa localizada na área central, para onde a família se mudou, no período que antecedeu a entrada do jovem Manoel no Curso de Direito, na Província de Pernambuco”, bem como “sua formação se deu entre os anos de 1863 e 1870”, de modo que “no ano seguinte, retornou à cidade da Parahyba, onde se dedicou à advocacia, ao magistério (foi professor particular de Matemática e, no Liceu, assumiu as cadeiras de Retórica e Geometria) e ao jornalismo, mantendo seu espírito controverso, questionador e com disposição de levar até as últimas consequências, seu ponto de vista político” , assim sendo, “fundou, inclusive, o panfletário Bossuet da Jacoca, para contestar o seu inimigo político, o ex-conversador e também liberal padre Lindolfo José Correa das Neves, diretor do jornal O publicador”, entenda-se que “o jornal Bossuet da Jacoca, irrevente semanário, teve seu primeiro número editado por Cardoso Vieira em 1875”, e que foi “num dos artigos escritos nesse jornal, atacou frontalmente o padre Lindolfo por mudar de partido, pois, esse sacerdote havia iniciado sua vida política no partido Conservador, mas mudara para o Liberal”, já havia naquele tempo padre metido em política partidária na Província da Paraíba, assim como atualmente, pois, escreveu um artigo fazendo a seguinte instigação: “quando se sentiu envelhecer num partido, foi bater as tendas de outro, e como essas prostitutas que mudam de praça, ei-lo, rejuvenescido, adulado e celebrado! Durará eternamente esta farsa?” (Martins, 1979, apud Rocha, 2009).
Ressaltamos que segundo Santana (1990, p.87) Cardoso Vieira, nasceu mesmo na freguesia de Jacoca, atual município do Conde/PB, em 1848. E a referida freguesia tinha apenas três engenhos em pleno Segundo Reinado, sendo o Engenho Congo pertencente aos Cardoso Vieira, o que vem justificar a presença de escravos como sua propriedade.
A historicidade do período da Monarquia Brasileira nos informa de que as eleições eram realizadas em dois turnos. Portanto, o termo dois turnos eleitorais no Brasil já vem de muito longe, apenas com metodologia diferente, assim como vivenciamos o sistema republicano. Assim sendo, antes que fosse realizado o primeiro turno do pleito municipal e ou geral, era nomeada uma junta qualitativa para organizar e elaborar a lista nominal dos cidadãos ativos, e ou seja, os que poderiam participar efetivamente do processo eleitoral, conforme Mattos (2000, p. 20-21), daí por diante, eram divididos em duas categorias, gradações e ou espécies de eleitores, a saber: o cidadão ativo votante, caracterizado pela renda suficiente para escolher o colégio de eleitores; e o cidadão ativo considerado eleitor e elegível, assim sendo, poderia participar de ambos os momentos eleitorais: como votante e como candidato. Isso acontecia a cada quatro anos, inclusive era assim escolhido o juiz de paz e os membros das câmaras municipais, e também não era diferente a eleição para os membros do Poder Legislativo a nível provincial (atualmente estadual) e central (atualmente federal: deputado e senador), segundo Graham (1997, p. 103 e 141). Diante do exposto, salientamos de que de 1852 a 1856, Jacoca, atual Conde/Paraíba era parte integrante do primeiro Colégio Eleitoral Provincial, composto pela Capital da Paraíba e as povoações de Nossa Senhora do Livramento, Santa Rita, Jacoca, Alhandra e Taquara, que tinha apenas 72 (setenta e dois) eleitores. Onde se observa que Jacoca tinha 2.396 habitantes e apenas cinco eleitores, conforme consta do Mapa dos Colégios Eleitorais da Província da Paraíba, no Ministério do Reino, p. 355, v. 10. NA/RJ, citado por Rocha (2009, p. 363).
Em resumo, Cardoso Vieira, foi eleito em 1878 deputado geral pela Paraíba, era pardo, porém livre e filho de senhor de engenho e foi advogado formada pela Faculdade Direito do Recife, professor e intelectual sem precisar de qualquer ajuda oficial e ou oficiosa, graça ao seu desempenho pessoal e intelectual. Ao contrário foi um dos precursores da ideia do abolicionismo na Câmara dos Deputados antes de 1880, no grupo liderado por Joaquim Nabuco e de tantos outros ilustres defensores da libertação dos escravos brasileiros. Sua trajetória política, advocatícia e do magistério foi interrompida aos trinta e dois (32) anos de idade, tendo em vista que faleceu de febre perniciosa em 10 de janeiro de 1880 na cidade do Rio de Janeiro, onde exercia o referido mandato legislativo. E a Paraíba reverência o ilustre filho dando o seu nome a ruas em diversas cidades, inclusive em Santa Rita tem a Rua Cardoso Vieira, assim como em Campina Grande e na Capital do Estado, bem como seu nome é o patrono da cadeira nº 10 da Academia Paraibana de Letras.

Enviado por Francisco de Paula Melo Aguiar
 

REFERÊNCIAS:
GRAHAM, Richard. Clientelismo e política no Brasil do século XIX. Tradução de Celina Brandt. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1997.
MARTINS, Eduardo. Cardoso Vieira e o Bossuet da Jacoca. Nota para um perfil
biográfico. João Pessoa: Secretaria da Educação e Cultura, 1979.
MATTOS, Hebe M. Escravidão e cidadania no Brasil Monárquico. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
SANTANA, Martha F. Nordeste, açúcar e poder. Um estudo da oligarquia açucareira na Paraíba. João Pessoa: Universitária/UFPB/CNPq, 1990.
ROCHA, Solange Pereira da. Gente negra na Paraíba oitocentista: população, família e parentesco espiritual. São Paulo: Editora UNESP, 2009. 332p.


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