Contagem (Minas Gerais) -  Depois de três horas de atraso e muita confusão entre os defensores dos réus, a juíza Marixa Fabiane Rodrigues instaurou a sessão de julgamento do caso Eliza Samudio, às 12h01 desta segunda-feira. A magistrada estabeleceu prazo de 20 minutos para os advogados alegarem seus pedidos preliminares, alegando "respeito à pessoa humana".
Defensor do goleiro Bruno, Rui Pimenta questionou o prazo de 20 minutos estabelecido para as alegações das defesas dos réus. Ele afirmou que é imprescindível que Jorge Lisboa Rosa, que à época do crime contra a modelo tinha 17 anos e revelou a trama, participe do julgamento.

Primeiro dia de julgamento do goleiro Bruno


Houve discussão por lugares no plenário onde acontece o julgamento
Advogado de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, Ércio Quaresma ameaçou sair do julgamento. Ele insistiu que o prazo para as alegações estabelecido "não existe" e que a magistrada não poderia limitar o tempo da defesa. O defensor voltou a atrás e rebateu questionamento da juíza. "A senhora não vai dizer o que a defesa deve ou não fazer".
Francisco Simim, defensor de Dayanne e Bruno, disse que também acompanharia a decisão dos colegas de sair do julgamento. A magistrada perguntou se ele também estava abandonando o plenário, e ele disse que "ainda não".
Advogado de Bola tumultua sessão
Mais cedo, Ércio Quaresma voltou a tumultuar o plenário. "Se ela (juíza) continuar, vai fazer o julgamento sozinha. Vou embora", ameaçou. O defensor alega que, desde a sua entrada no plenário, o direito de defesa dos réus está sendo cerceado pela magistrada. O advogado disse que pode recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF). "Tenho a presença aqui de Luiz Flávio Gomes, não preciso de mais nada", disse Quaresma, referindo-se a um dos mais renomados criminalistas do País, que está presente na plateia do Tribunal de Justiça de Contagem.
Ércio Quaresma, advogado de Bola, chegou ao fórum causando polêmica | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Ércio Quaresma, advogado de Bola, chegou ao fórum causando polêmica | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Em sua última reclamação, Quaresma pediu que o tribunal disponibilize uma cópia da mídia usada durante o julgamento. O defensor alegou que precisa ter o equipamento disponível em seu computador para ter direito à defesa plena. A mídia solicitada pelo advogado é a transmissão em vídeo dos depoimentos dos réus e testemunhas.
Ele afirmou que, em ocasiões anteriores, a cópia não foi disponibilizada para a defesa. A juíza, por sua vez, afirmou que disponibilizou as imagens, de acordo com o direito de preservação de imagem das testemunhas. Caso quisessem, os advogados poderiam copiar tanto as filmagens dos interrogatórios dos réus, quanto das testemunhas. "Tem dois anos que o processo está em curso e a defesa poderia ter solicitado as imagens", afirmou, categórica, a juíza Marixa Fabiane, após nova tentativa do advogado de tumultuar o início da sessão.
Goleiro deixou o presídio e foi para fórum escoltado | Foto: Reprodução Internet
Goleiro deixou o presídio e foi para fórum escoltado | Foto: Reprodução Internet
Sete jurados que tinham conhecimento do processo e participaram da audiência anterior foram dispensados pela juíza. Ela alega que essas pessoas não podem participar do julgamento. Quaresma retrucou, pedindo a presença dos jurados. Ele prometeu recorrer ao Tribunal de Justiça de MInas Gerais, por meio de habeas corpus, contra a dispensa.
A magistrada então perguntou aos jurados, que participaram de outro júri que absolveu Bola, se eles estão aptos a participar do julgamento. Eles decidiram não participar e foram dispensados. A juíza anunciou ainda que cinco jurados pediram dispensa por motivos de saúde e trabalho. Os pedidos foram acatados por ela.
Quaresma sugeriu à juíza que autorizasse a transmissão ao vivo do julgamento, com objetivo de liberar alguns lugares na plateia ocupados por jornalistas. A magistrada, contudo, afirmou que uma equipe do Tribunal de Justiça está gravando a íntegra do julgamento e que os advogados terão acesso ao conteúdo posteriormente.
Macarrão é fotografado no momento da chegada ao Fórum de Contagem | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Macarrão é fotografado no momento da chegada ao Fórum de Contagem | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Julgamento começa com atraso
Com quase 50 minutos de atraso, a juíza Marixa Fabiane Rodrigues iniciou o julgamento dos réus acusados pelo desaparecimento e morte da modelo Eliza Samudio, no 2º Tribunal do Júri, em Contagem (MG). Jornalistas e cinegrafistas já fizeram imagens do plenário e deixaram a sala. Advogados de defesa não permitiram o registro dos réus, que ainda não estão no local.
A próxima etapa será a convocação dos réus e testemunhas de acusação, que serão as primeiras a depor. A promotoria convocou cinco testemunhas. O goleiro Bruno e Luiz Henrique Romão, o Macarrão, chegaram ao tribunal pela porta dos fundos.
O advogado Ércio Quaresma criou polêmica antes mesmo do início do julgamento. Ércio alegou que Rui Pimenta, representante de Bruno, estava no lugar reservado para ele. Houve princípio de confusão. A juíza Marixa pediu desculpas pelo desentendimento: "Não vamos causar estresse por coisas pequenas".
Minutos depois, Quaresma reclamou novamente. Ele disse que tem dificuldade para trabalhar porque está sem tomadas para ligar os computadores. Segundos magistrados que estão no local, a estratégia do advogado de Bola é tumultuar o ambiente.
O destino do goleiro vai ser selado por sete jurados, que vão condenar ou absolver Bruno e os outros suspeitos da morte de Eliza. Ela teria tido seu corpo retalhado e jogado a cachorros.
'Oramos e lemos a bíblia', diz noiva
Noiva de Bruno, a dentista Ingrid Calheiros chegou ao 2º Tribunal do Júri por volta das 8h04 desta segunda-feira. "Visitei ele (Bruno) ontem (domingo), oramos muito e lemos a bíblia. Se a justiça for feita, o Bruno vai ser absolvido. Não sei o que aconteceu com essa moça (Eliza). Jamais ficaria ao lado de um homem que fizesse tal coisa", afirmou Ingrid, que entrou no fórum acompanhada de advogados.
Creusa Aparecida, tia de Bruno, crê na absolvição do arqueiro. "A família tem esperança. A avó do Bruno é muito ligada a ele e está confiante que tudo vai dar certo. Encontramos conforto em Deus", disse. A movimentação é intensa no entorno do fórum, com a presença de curiosos e imprensa. Um forte esquema de segurança foi montado. Bruno vai responder por sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver.
A ex-mulher de Bruno, Dayanne Souza, chegou ao fórum acompanhada do irmão. Ela é acusada de sequestro e cárcere privado de Bruninho. Visivelmente nervosa antes do início do julgamento, Dayanne disse que está bem e tentando manter a calma. Ela foi colocada em uma sala perto do plenário, para evitar o assédio da imprensa.
A juíza Marixa Fabiane Rodrigues analisou vários pedidos por parte das defesas durante o final de semana. Todos foram indeferidos. Um deles, por parte da defesa de Bruno, pedia que os réus pudessem comparecer ao julgamento em roupas civis e sem algemas. A magistrada é reconhecida com excelente profissional, contudo, é rígida e "linha-dura".
Relembre o caso
A modelo paranaense Eliza Samudio teve um caso com o ex-goleiro do Flamengo. Depois de engravidar, afirmou que o pai da criança era Bruno. De acordo com a investigação da Polícia Civil, para se livrar das cobranças, Bruno teria planejado o assassinato de Eliza, então com 25 anos. A criança nasceu em 2010.
A vítima foi sequestrada em 4 de junho de 2010 na Barra da Tijuca. Dormiu na casa de Bruno no Recreio dos Bandeirantes e chegou ao sítio em Minhas Gerais dia 6. Ela teria sido assassinada no dia 10 do mesmo mês.
Serão julgados Luiz Henrique Romão, o Macarrão, amigo do atleta; o ex-policial civil Marcos Aparecido Santos, o Bola, Dayanne Souza, ex-mulher de Bruno, e Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do jogador.
De acordo com a investigação da Polícia Civil, partes do corpo de Eliza foram entregues para cachorros e os ossos da vítima, concretados no mesmo terreno em que ela teria sido assassinada, um sítio em Esmeraldas (MG), propriedade de Bruno. Nada foi encontrado até hoje.
Mário Luiz (Carioca) com O Dia