Protesto apartidário, sem líder único, via internet e com pauta aberta tem futuro imprevisível
Rio - Desenhar o cenário de qual será o rumo do
movimento que arrasta multidões de norte a sul do Brasil é uma tarefa
que sociólogos, por enquanto, preferem não arriscar. O modelo de
mobilização — apartidário, conectado à internet e com pauta de demandas
aberta — é novo e intriga, positivamente, quem vem estudando o
comportamento da sociedade brasileira.
Teóricos ouvidos pelo DIA concordam em outro ponto: não há como encaixar o que acontece atualmente com eventos passados da história como 64, Diretas Já, os caras-pintadas e outras manifestações que surgiram no mundo.
A democracia participativa, que parece ser reivindicação quase unânime no furacão plural de pedidos dos manifestantes, tem um novo formato na internet. Não só as convocações para as marchas ganham velocidade com a ferramenta virtual.
Grupos partidários são hostilizados
Se nas passeatas ocorridas até quarta-feira era possível ouvir o coro dos ‘sem partidos’, na marcha de ontem grupos partidários e sindicâncias firmaram presença caracterizados. Alguns militantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), PCdoB e PSTU foram hostilizados.
“Os partidos não têm o direito de comandar a manifestação, mas de participar, sim”. Integrante do Movimento Passe Livre (MPL), o professor de História Gabriel Siqueira disse que ‘o movimento é apartidário, e não antipartidário. “Respeitamos todas as causas”.
Psicanalista define: é catarse coletiva
O conceito é usado pela Psicanálise, mas pode explicar em parte o que vem ocorrendo nas ruas do país. A catarse coletiva — termo usado por Sigmund Freud — está na pauta dos estudiosos que buscam entender o comportamento da multidão com cartazes e faixas que tem parado as cidades quase que diariamente.
E, neste sentido, o governante é visto como algoz, que, ao ser confrontando pela massa, provoca uma sensação coletiva de libertação psíquica.
“É como se eles (as pessoas que estão no protesto) expelissem um sentimento que estava oprimido. No inconsciente coletivo, esses governantes representam uma figura de autoridade que eles querem desafiar”, afirmou a psicanalista Roberta Bueno, que é da Escola Lacaniana de Psicanálise (RJ).
É resgatando Freud novamente e sua “psicologia das massas” que pode-se encontrar mais reflexões sobre o fenômeno brasileiro “vem para as ruas”. Trata-se de uma aglomeração formada por indivíduos com históricos e demandas diferentes, mas que alimentam uma espécie de alma coletiva de revolta.
“As pessoas estão indo para as ruas cada uma com uma questão pessoal, mas que têm o governo como foco central. As massas vão se formando como se alinhadas a um mesmo sentimento”, explicou a psicanalista.
Teóricos ouvidos pelo DIA concordam em outro ponto: não há como encaixar o que acontece atualmente com eventos passados da história como 64, Diretas Já, os caras-pintadas e outras manifestações que surgiram no mundo.
“É o primeiro movimento em que a
população está politizada, e não permite ser conduzida por por partidos e
autoridades. Não adianta diminuir o valor da passagem. O povo quer ser
ouvido. Quem disse que não tem liderança? Cada grupo que forma aquela
multidão tem sua liderança: é o pessoal a favor do aborto, contra, que
quer casamento gay, que não quer....É uma multiplicidade de lideranças. O
recado é claro: queremos participar, ser respeitados e ouvidos. E o
foco é o poder público”, explicou o sociólogo e professor da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ufrj), Paulo Baia.
Sem novo partido
Para o sociólogo Orlando Júnior, do
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano Regional (Ippur), da Ufrj,
não deve emergir desses atos um novo partido, mas pode surgir um novo
paradigma de mobilização, que é fundado em redes e alguma forma de
articulação que vem da multiplicidade de demandas.
Vídeo: Polícia persegue manifestantes no Centro
“Criar um partido seria repetir um
antigo modelo. O movimento tem uma agenda que não se fecha. Está aberta e
em construção. O que está acontecendo é um alerta, um grito, para que
se amplie o espaço de participação popular e se fortaleça a democracia”,
afirmou o estudioso.
De acordo com o juiz e cientista
político João Batista Damasceno, a tendência é que a mobilização se
esvazie em breve. Ele também não acredita que vá surgir uma nova legenda
política a partir dos atos. “Existe um clima de insatisfação geral, que
vem se acumulando. Mas o movimento está muito desorganizado”, opina.
Democracia participativa na Internet
A democracia participativa, que parece ser reivindicação quase unânime no furacão plural de pedidos dos manifestantes, tem um novo formato na internet. Não só as convocações para as marchas ganham velocidade com a ferramenta virtual.
É lá que o cidadão se sente incluído no
movimento. Nos fóruns virtuais sobre os protestos, os jovens participam
de votações para escolher o trajeto das passeatas e as novas demandas
comuns. “No mundo virtual, a hierarquização é mais horizontal. Por isso,
parece realmente ser mais participativo e inclusivo”, afirmou o
sociólogo e professor da UFRJ Paulo Baía.
Não é de hoje que as novas tecnologias de
informação vêm motivando teses sobre os atuais movimentos na sociedade. O
sociólogo espanhol Manuel Castells já defendeu que as relações humanas,
cada vez mais, vão acontecer no ambiente de multimídia. É a Era da
Informação, que permite reproduzir em vários países protestos que
acontecem aqui.Grupos partidários são hostilizados
Se nas passeatas ocorridas até quarta-feira era possível ouvir o coro dos ‘sem partidos’, na marcha de ontem grupos partidários e sindicâncias firmaram presença caracterizados. Alguns militantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), PCdoB e PSTU foram hostilizados.
Na altura da prefeitura, na Cidade
Nova, rapaz que carregava bandeira do PSTU foi agredido. Na Candelária,
10 militantes que vestiam camisas da CUT tiveram suas bandeiras
quebradas. Logo depois, manifestantes vaiaram representantes da União da
Juventude Socialista e do PCdoB.
Para evitar polêmica e confrontos, o
presidente regional do Partido dos Trabalhadores (PT) no Rio, Jorge
Florêncio, preferiu não aderir ao ato ‘Onda Vermelha’, criado em São
Paulo pelo presidente nacional Rui Falcão.
O manifesto pedia que filiados fossem às ruas de
vermelho e com bandeiras do partido. “A orientação é não levar bandeiras
e ir vestido normalmente”, disse Florêncio. O deputado estadual Marcelo
Freixo (Psol) disse que a participação partidária é legítima, mas não
defende comando político nas manifestações.“Os partidos não têm o direito de comandar a manifestação, mas de participar, sim”. Integrante do Movimento Passe Livre (MPL), o professor de História Gabriel Siqueira disse que ‘o movimento é apartidário, e não antipartidário. “Respeitamos todas as causas”.
Psicanalista define: é catarse coletiva
O conceito é usado pela Psicanálise, mas pode explicar em parte o que vem ocorrendo nas ruas do país. A catarse coletiva — termo usado por Sigmund Freud — está na pauta dos estudiosos que buscam entender o comportamento da multidão com cartazes e faixas que tem parado as cidades quase que diariamente.
E, neste sentido, o governante é visto como algoz, que, ao ser confrontando pela massa, provoca uma sensação coletiva de libertação psíquica.
“É como se eles (as pessoas que estão no protesto) expelissem um sentimento que estava oprimido. No inconsciente coletivo, esses governantes representam uma figura de autoridade que eles querem desafiar”, afirmou a psicanalista Roberta Bueno, que é da Escola Lacaniana de Psicanálise (RJ).
É resgatando Freud novamente e sua “psicologia das massas” que pode-se encontrar mais reflexões sobre o fenômeno brasileiro “vem para as ruas”. Trata-se de uma aglomeração formada por indivíduos com históricos e demandas diferentes, mas que alimentam uma espécie de alma coletiva de revolta.
“As pessoas estão indo para as ruas cada uma com uma questão pessoal, mas que têm o governo como foco central. As massas vão se formando como se alinhadas a um mesmo sentimento”, explicou a psicanalista.
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