quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Justin Bieber e a lição do ídolo que mais odiei



Jovem, famoso, bonito, rebolativo, desejado pelas garotas de sexta série, odiado por todos os meninos da classe. Justin Bieber? Não, Peter Frampton.
Peter, aos 26 anos, tinha dez anos de carreira quando se tornou o homem mais desejado pelas adolescentes do planeta, e de Piracicaba, meu mundo. Era 1976. Ouvindo hoje, até que as músicas eram bem boas. Seu rostinho pálido, peito peludo e cachinhos dourados eram melhores.
Peter Frampton: uma diva pré-rafaelita com calças boca-de-sino. Frampton Comes Alive, o álbum duplo, era presença obrigatória em todas as festinhas, na hora da lenta. Eu tinha blusa cacharel cor de vinho e camiseta Lighthing Bolt, mas morria de vergonha de tirar as meninas para dançar.
As revistas publicavam fotos de Peter de todo jeito. Paparazzi o seguiam pelo mundo afora. Todas as imagens viravam colagens nos cadernos das menininhas, nas pranchetas, nos armários. Nós nos doíamos de inveja. Bicha com certeza, rosnávamos.
Não sabíamos dos quinze anos de currículo de Frampton, de seus cinco discos com o Humble Pie, de seus créditos em All Things Must Pass, o único álbum de George Harrison que todo mundo deve ter. E quem sabia? Não perdoava também.
Os irmãos mais velhos dos meus amigos - que, aos 15 anos, já nos pareciam velhos vividos e gurus do rock - estavam em outras: rock pauleira, Deep Purple, Kiss; rock progressivo, Genesis, Yes. Isso em casa.
Nas brincadeiras dançantes (!), no clube Coronel Barbosa, a discoteca imperava soberana, e se dava bem quem usasse camisa havaiana e soubesse dançar. John Travolta? Embalos de Sábado à Noite? Só um ano depois.
Frampton não tinha perdão para os machos, e não tinha defeito para as meninas. Estou em você, sussurrava nos ouvidinhos das garotas, você está em mim.
E depois? Logo depois de Peter veio Leif Garrett, ainda mais bonito, zero de talento. Hoje é a vez de Justin Bieber. Entre eles Jon Bon Jovi, Duran Duran, e outros talentosos, que ficaram. E New Kids on The Block, Backstreet Boys, N'Sync, Hanson, Zac Efron, tantos outros.
É normal que os garotos adolescentes gritem revoltados: Justin Bieber é um viadinho e a música dele é uma porcaria! Eu estava lá em 1976. Falava a mesma coisa. Algumas coisas nunca mudam. Ídolos adolescentes, por exemplo, e seu efeito em garotos e garotas.
Entre Frampton e Bieber foram muitos ídolos, uns talentosos, outros não; uns construíram carreiras, outros se foram rapidamente. Mas mesmo estes estão nas memórias das meninas e meninos que os amaram e odiaram.
Para as meninas, eles foram a primeira paixão e o primeiro tesão, amor perfeito e êxtase sem risco, o príncipe encantado, delicado, andrógino, ideal - porque impossível. Para os meninos, tudo que eles não seriam jamais.
E Peter Frampton? Bateu todos os recordes e queimou rápido como uma estrela cadente. Ainda toca por aí, carequinha, a cara do Paulo Coelho, melhor músico que nunca.
Neste 2010, lançou seu 14º disco solo, abriu para o Yes em uma excursão americana, tocou semanas atrás em São Paulo. Vive de glórias passadas - quem não aos 60 anos, ou mesmo aos 40? Mas vive, e manda bem.
Que Justin Bieber possa ter tanto talento e fãs tão devotados quando for coroa e feioso.
Eu? Nunca serei fã de Peter Frampton. Só eu sei o mal que ele me fez aos doze anos. Mas já o perdoei faz tempo. Foi quando ele atirou pela janela os cachinhos, a pose de gatinho, e uma fortuna.
Lição para os jovens, ídolos ou não: o sucesso tem suas regras. Mas chega uma hora na vida que você tem que quebrar todas as regras.

Da Redação com  André Forastieri
Jornalista

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