A
estagiária de enfermagem Rejane Moreira Telles, de 23 anos, que no
último dia 14 aplicou café com leite na veia de Palmerina Pires Ribeiro,
de 80 anos, morta horas após o procedimento, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, declarou ao Fantástico
deste domingo (21) que nunca havia injetado qualquer tipo de medicação
antes. Rejane, que segundo o delegado da 64ª DP, Alexandre Ziehe estava
há apenas três dias no estágio,
disse ter consciência do risco de injetar na veia o que seria aplicado
em alimentação oral. "Mas, como tava junto, qualquer um se confunde",
defendeu-se (veja a reportagem no vídeo acima).
O médico
Armando Porto Carreiro, especialista em terapia nutricional do
Hospital Antonio Pedro, da Universidade Federal Fluminense (UFF),
discorda da afirmação de Rejane: "É bastante fácil de diferenciar um do
outro".
Neste sábado (20), a estudante voltou a frequentar as
aulas do curso técnico de enfermagem. Por telefone, o diretor da
escola, que se identificou apenas como Sérgio, disse que ela é uma
excelente aluna e que vai receber o diploma ao fim deste ano.
Em
entrevista, a estagiária conta que, quando percebeu o erro, pensou em
pedir ajuda. "Injetei o leite e botei pelo lugar errado. Me passou pela
cabeça chamar a supervisora. Sendo que a outra menina que estava do
meu lado, ela falou que sabia e que ia me ensinar. Ela pegou, falou pra
mim e pra outra estagiária que estava do meu lado para ir fazendo os
procedimentos. Mas não deu explicação nem de que e nem como. Continuou
sentada no posto de enfermagem, brincando no celular", completou, antes
de admitir que não tem preparo para o procedimento realizado. "Agora,
no momento, não."
Segundo os médicos, o café com leite foi direto
para o coração e o pulmão, e Palmerina parou de receber oxigênio. "É
como se o paciente estivesse sendo sufocado", explicou Armando
Carneiro.
O delegado informou que acredita que as estagiárias
receberam a ordem para fazer o procedimento. "Eu estou convencido que
elas receberam uma ordem pra fazer. Mas, no curso, durante o curso e
pelo supervisor da escola, também foi dito que elas não poderiam fazer
sem a supervisão."
A polícia indiciou quatro pessoas por homicídio
culposo, quando não há intenção de matar: as estagiárias Rejane e
Luciana, e as técnicas de enfermagem Rayane e Adriele.
Palmerina
morreu no Posto de Atendimento Médico (PAM) de São João de Meriti, na
Baixada Fluminense. A filha da idosa, Loreni, percebeu que a estagiária
estava aplicando o alimento pela sonda da medicação. "Eu vi minha mãe
se debater. Buscar o fôlego, ela buscava o fôlego assim, no ar", disse.
"A menina colocou café com leite na veia da minha mãe. Meio copo, meio
copo."
Loreni é uma das 16 filhas de Palmerina, que era viúva
havia 40 anos. Desde que a mãe morreu, os filhos se reúnem todos os
dias na casa de Palmerina. "Minha mãe lavava roupa. Minha mãe costurava
para fábrica, levava a gente pra escola e lutou por nós. Nenhum filho
ficou sem estudar", lamenta, dizendo não estar revoltada com o caso.
"Se os olhos delas fecharam dessa forma, com certeza foi pra que
houvesse uma grande mudança aqui no nosso município."
Outros casos
Os erros cometidos são comuns. No dia 10 deste mês, Ilda Maciel, de 88
anos, morreu em um hospital de Barra Mansa, no Sul do Estado do Rio,
depois de ter recebido sopa na veia,
injetada por uma técnica de enfermagem. "Foi um erro muito grande, né?
Isso não podia ter acontecido de jeito nenhum. Se ela fez isso com a
minha mãe, ela faz com mais pessoas, né?", lamentou a filha, Rute
Maciel.
Em São Paulo, Bruno, de 2 anos, está com a vida por um fio.
Em setembro, e, ele deveria ter recebido um sedativo para se acalmar
na hora de fazer um exame. O que deram pra ele tomar, no entanto, foi
ácido usado na remoção de verrugas. O que também aconteceu com Letícia,
de 4 anos, neste mesmo hospital da Região Metropolitana de São Paulo.
Ela não chegou a ingerir. Letícia conseguiu cuspir o ácido. Escapou das
lesões internas, mas ficou toda queimada.
Mário Luiz (Carioca) com G1
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