Aproveitar
as potencialidades das áreas dos assentamentos da reforma agrária para
desenvolver o turismo rural e gerar renda extra para os assentados. Este
foi o objetivo da capacitação sobre turismo rural que reuniu, na manhã
da última segunda-feira (5), no assentamento Gurugi II, representantes
dos assentamentos Dona Antônia e Rick Charles, localizados no município
do Conde, na Zona da Mata Sul paraibana. A ação foi promovida pela
Consultoria e Planejamento de Projetos Agropecuários (Consplan) –
entidade que presta assistência técnica a vários assentamentos
paraibanos através de contrato com o Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra) na Paraíba – e contou com a participação do
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-PB), da Prefeitura
Municipal do Conde e da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
da Paraíba (Emater-PB).
Os participantes assistiram palestras sobre turismo rural e sobre as
ações voltadas para este segmento no município do Conde, além de um
vídeo produzido pelo Ministério do Turismo e pelo Sebrae sobre a
experiência do Vale do Café, no vale do Paraíba do Sul Fluminense,
localizado a cerca de 120 km da cidade do Rio de Janeiro.
De acordo com a turismóloga e consultora do Sebrae-PB Juliana Gondim, a
Zona da Mata Sul paraibana tem muito potencial para atrair turistas
nacionais e internacionais por possuir bonitas paisagens naturais –
incluindo praias como a naturista Tambaba, que sediou, em 2008, o 31º
Congresso Internacional de Naturismo –, por estar a apenas 22 km da
capital paraibana e, principalmente, por se encontrar a 120km de Recife e
a 180km de Natal – cidades que irão sediar jogos da Copa do Mundo de
Futebol de 2014.
Entre as características do turismo rural, Juliana destacou a
valorização da gastronomia, dos saberes e fazeres locais, do patrimônio
cultural e artístico, das manifestações folclóricas e religiosas, da
música, das atividades recreativas e das atividades equestres e de
pescaria.
A consultora do Sebrae-PB enfatizou a necessidade de a comunidade que
se propõe a receber os turistas rurais manter, além das manifestações
culturais, a produção agropecuária.
“Esta categoria de turismo valoriza a cultura e o modo de vida das
pessoas do campo, que devem manter sua autenticidade. Geralmente, quem
procura o turismo rural são pessoas com raízes na zona rural mas que
atualmente moram nas cidades, pessoas de outras áreas rurais que querem
conhecer realidades semelhantes ou pessoas com estilo de vida urbano que
querem conhecer estilos de vida totalmente diferentes daquele que
possuem”, afirmou Juliana Gondim.
Ela destacou ainda que manifestações artísticas encontradas nos três
assentamentos, como o coco de roda, a ciranda, o artesanato, a culinária
e outros aspectos da cultura quilombola – cultivada, sobretudo, em
Gurugi II –, são fortes atrativos para o turismo rural.
“A região do Conde já conta com um bom fluxo turístico, mas precisa
diversificar os atrativos, que hoje são as praias. O município é
conhecido inclusive no exterior e vem sendo procurado para a construção
da segunda casa pelos europeus. No Conde já existem cerca de 500 casas
de veraneio construídas por estrangeiros, sendo 300 delas pertencentes a
suecos”, disse Juliana Gondim.
Cascas de coco
A presença de turistas nas áreas de assentamento deve beneficiar
pessoas como Izequias Miguel da Silva, assentado em Dona Antônia. Há um
ano o assentado concilia a produção de feijão, de milho e de manga com a
comercialização do artesanato feito a partir da casca do coco seco,
encontrada em abundância no assentamento, que possui 1,3 mil coqueiros
produzindo e outros 600 em início de produção – totalizando de 35 a 40
mil cocos a cada três meses.
As cascas, que antes serviam apenas como adubo, são transformadas por
Izequias em flores, pessoas e animais, como gatos, cachorros, pássaros,
saguis, jacarés, tartarugas-marinhas e tatus. As peças são vendidas na
Feira Agroecológica do bairro do Bessa, na orla de João Pessoa, e na
recém-criada Feira do Produtor Familiar em Jacumã, município vizinho do
Conde.
“Desde criança queria trabalhar com arte e um dia, quando estava em
cima de um coqueiro, olhei para o chão e enxerguei um coco com aparência
de tatu. Então eu transformei essa casca e, depois de receber elogios
da comunidade, fui aprimorando a técnica”, contou o assentado,
acrescentando que todo o material usado nas peças, com exceção da cola, é
produzido no assentamento.
Os elogios ao trabalho com as cascas de coco transformaram o antes
tímido Izequias em uma pessoa realizada e, segundo ele, com mais
traquejo social. “Era muito tímido e tinha medo que as pessoas falassem
mal das minhas peças. Mas, isto nunca aconteceu. Onde chego as pessoas
elogiam meu trabalho e dizem que nunca viram este tipo de trabalho com
casca de coco. Isto me deixa feliz e o contato com as pessoas é como uma
escola pra mim. Aprendi a ser mais educado, a entender mais a sociedade
e até a tratar melhor meus filhos”, afirmou o assentado.
Gastronomia
Com o sonho de montar um restaurante aproveitando os alimentos
produzidos no Assentamento Gurugi II, Daurenice Santos ouviu atentamente
as orientações da consultora do Sebrae-PB sobre a estrutura física
necessária para atender os turistas e sobre a higiene e a manipulação de
alimentos e bebidas. “Seria uma renda extra e a realização de um
sonho”, afirmou a assentada e presidente da associação do assentamento,
que, além de ajudar o marido no cultivo de inhame, macaxeira, batata
doce, feijão e milho, produz salgados e, principalmente, doces, geleias e
frutas cristalizadas com o que é produzido na comunidade, como banana,
goiaba, acerola e caju.
Ainda sem capital para iniciar o sonho, Daurenice pretende buscar uma
linha de crédito junto aos Governos Federal e Estadual. Enquanto espera,
a assentada comercializa seus produtos na Feira do Produtor Familiar do
Conde, criada em agosto pela Emater-PB, pelo Sebrae-PB e pelo Programa
Fome Zero, que também são responsáveis pela Feira de Jacumã. Para
comercializar nas feiras, os assentados receberam, além das barracas e
da farda completa, com luvas e toucas, caixas de isopor, freezers e
balanças.
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