terça-feira, 6 de setembro de 2011

Assentados da Zona da Mata Sul na cidade do Conde participam de capacitação em turismo rural


Aproveitar as potencialidades das áreas dos assentamentos da reforma agrária para desenvolver o turismo rural e gerar renda extra para os assentados. Este foi o objetivo da capacitação sobre turismo rural que reuniu, na manhã da última segunda-feira (5), no assentamento Gurugi II, representantes dos assentamentos Dona Antônia e Rick Charles, localizados no município do Conde, na Zona da Mata Sul paraibana. A ação foi promovida pela Consultoria e Planejamento de Projetos Agropecuários (Consplan) – entidade que presta assistência técnica a vários assentamentos paraibanos através de contrato com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) na Paraíba – e contou com a participação do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-PB), da Prefeitura Municipal do Conde e da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Paraíba (Emater-PB).

Os participantes assistiram palestras sobre turismo rural e sobre as ações voltadas para este segmento no município do Conde, além de um vídeo produzido pelo Ministério do Turismo e pelo Sebrae sobre a experiência do Vale do Café, no vale do Paraíba do Sul Fluminense, localizado a cerca de 120 km da cidade do Rio de Janeiro.

De acordo com a turismóloga e consultora do Sebrae-PB Juliana Gondim, a Zona da Mata Sul paraibana tem muito potencial para atrair turistas nacionais e internacionais por possuir bonitas paisagens naturais – incluindo praias como a naturista Tambaba, que sediou, em 2008, o 31º Congresso Internacional de Naturismo –, por estar a apenas 22 km da capital paraibana e, principalmente, por se encontrar a 120km de Recife e a 180km de Natal – cidades que irão sediar jogos da Copa do Mundo de Futebol de 2014.

Entre as características do turismo rural, Juliana destacou a valorização da gastronomia, dos saberes e fazeres locais, do patrimônio cultural e artístico, das manifestações folclóricas e religiosas, da música, das atividades recreativas e das atividades equestres e de pescaria.
A consultora do Sebrae-PB enfatizou a necessidade de a comunidade que se propõe a receber os turistas rurais manter, além das manifestações culturais, a produção agropecuária.

“Esta categoria de turismo valoriza a cultura e o modo de vida das pessoas do campo, que devem manter sua autenticidade. Geralmente, quem procura o turismo rural são pessoas com raízes na zona rural mas que atualmente moram nas cidades, pessoas de outras áreas rurais que querem conhecer realidades semelhantes ou pessoas com estilo de vida urbano que querem conhecer estilos de vida totalmente diferentes daquele que possuem”, afirmou Juliana Gondim.

Ela destacou ainda que manifestações artísticas encontradas nos três assentamentos, como o coco de roda, a ciranda, o artesanato, a culinária e outros aspectos da cultura quilombola – cultivada, sobretudo, em Gurugi II –, são fortes atrativos para o turismo rural.
“A região do Conde já conta com um bom fluxo turístico, mas precisa diversificar os atrativos, que hoje são as praias. O município é conhecido inclusive no exterior e vem sendo procurado para a construção da segunda casa pelos europeus. No Conde já existem cerca de 500 casas de veraneio construídas por estrangeiros, sendo 300 delas pertencentes a suecos”, disse Juliana Gondim.

Cascas de coco
A presença de turistas nas áreas de assentamento deve beneficiar pessoas como Izequias Miguel da Silva, assentado em Dona Antônia. Há um ano o assentado concilia a produção de feijão, de milho e de manga com a comercialização do artesanato feito a partir da casca do coco seco, encontrada em abundância no assentamento, que possui 1,3 mil coqueiros produzindo e outros 600 em início de produção – totalizando de 35 a 40 mil cocos a cada três meses.

As cascas, que antes serviam apenas como adubo, são transformadas por Izequias em flores, pessoas e animais, como gatos, cachorros, pássaros, saguis, jacarés, tartarugas-marinhas e tatus. As peças são vendidas na Feira Agroecológica do bairro do Bessa, na orla de João Pessoa, e na recém-criada Feira do Produtor Familiar em Jacumã, município vizinho do Conde.
“Desde criança queria trabalhar com arte e um dia, quando estava em cima de um coqueiro, olhei para o chão e enxerguei um coco com aparência de tatu. Então eu transformei essa casca e, depois de receber elogios da comunidade, fui aprimorando a técnica”, contou o assentado, acrescentando que todo o material usado nas peças, com exceção da cola, é produzido no assentamento.

Os elogios ao trabalho com as cascas de coco transformaram o antes tímido Izequias em uma pessoa realizada e, segundo ele, com mais traquejo social. “Era muito tímido e tinha medo que as pessoas falassem mal das minhas peças. Mas, isto nunca aconteceu. Onde chego as pessoas elogiam meu trabalho e dizem que nunca viram este tipo de trabalho com casca de coco. Isto me deixa feliz e o contato com as pessoas é como uma escola pra mim. Aprendi a ser mais educado, a entender mais a sociedade e até a tratar melhor meus filhos”, afirmou o assentado.

Gastronomia
Com o sonho de montar um restaurante aproveitando os alimentos produzidos no Assentamento Gurugi II, Daurenice Santos ouviu atentamente as orientações da consultora do Sebrae-PB sobre a estrutura física necessária para atender os turistas e sobre a higiene e a manipulação de alimentos e bebidas. “Seria uma renda extra e a realização de um sonho”, afirmou a assentada e presidente da associação do assentamento, que, além de ajudar o marido no cultivo de inhame, macaxeira, batata doce, feijão e milho, produz salgados e, principalmente, doces, geleias e frutas cristalizadas com o que é produzido na comunidade, como banana, goiaba, acerola e caju.

Ainda sem capital para iniciar o sonho, Daurenice pretende buscar uma linha de crédito junto aos Governos Federal e Estadual. Enquanto espera, a assentada comercializa seus produtos na Feira do Produtor Familiar do Conde, criada em agosto pela Emater-PB, pelo Sebrae-PB e pelo Programa Fome Zero, que também são responsáveis pela Feira de Jacumã. Para comercializar nas feiras, os assentados receberam, além das barracas e da farda completa, com luvas e toucas, caixas de isopor, freezers e balanças.

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