sábado, 9 de abril de 2011

Dor une milhares de pessoas no adeus às vítimas

Professora do assassino se aposentou no dia da tragédia. Ela acompanhou enterros de alunos da escola onde atuou 24 anos

Rio - Famílias unidas pela dor no adeus emocionado aos 11 adolescentes sepultados ontem nos cemitérios Jardim da Saudade, em Sulacap, do Murundu, em Realengo, e de Ricardo de Albuquerque. O primeiro dia de aposentadoria da professora de Português, Célia Maria de Carvalho, 51 anos, ontem, foi marcado pela tristeza devido à tragédia na escola onde lecionou.
>> FOTOGALERIA: Multidão vai a cemitérios para se despedir das crianças
 Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
Além de acompanhar os enterros de cinco estudantes, ela leva a lembrança de ter sido professora do assassino, Wellington Menezes de Oliveira. A quinta-feira, dia do massacre, foi o último em sua carreira. “Infelizmente, é esta a memória amarga que vai ficar, depois de 24 anos de luta pela educação”, desabafou.

Ela lembrou que Wellington foi um menino calado e, por causa da timidez, era atormentado pelos colegas. “Ele jamais teve comportamento que chamasse a atenção. Era de poucos amigos”, recordou.

INICIATIVA RECONHECIDA

Durante os enterros, ela foi cumprimentada por pais e alunos, pela iniciativa de ter levado 30 crianças para o auditório, no 3º andar, onde ficaram trancadas, rezando, durante ação do assassino.

Sob uma chuva de pétalas de rosa, jogadas por um helicóptero da Polícia Civil, o corpo de Laryssa Silva Martins foi o primeiro a ser enterrado, em Realengo. Ao mesmo tempo, Larissa dos Santos Athanázio, 13, era sepultada no cemitério da Sulacap.

A poucos metros, parentes e amigos de Karine Lorraine Chagas de Oliveira, 14, conduziam o caixão da adolescente até a cova. A avó, Nilza da Luz, 34, lembrou que a neta começava a se destacar no esporte. “Queria competir na Olimpíada”, disse. Depois desmaiou.

Fã de Ivete Sangalo, Luísa Paula da Silveira Machado, 14, foi homenageada pelos amigos com um dos sucessos cantados pela cantora: ‘Quando a Chuva Passar’. A mãe, Adriana, 38, só saiu de perto do caixão ao ser atendida por médicos.

O prefeito Eduardo Paes e a ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, prestaram solidariedade às famílias.

Sofrimento e desespero

Mais de duas mil pessoas compartilharam o sofrimento nos velórios dos jovens. Em todos eles, o silêncio era quebrado apenas pelos gritos desesperados dos parentes.

Mais de 240 pessoas tiveram que ser medicadas em três ambulâncias de plantão e na enfermaria dos cemitérios, com crises nervosas e de pressão arterial.

No Cemitério do Murundu, famílias velavam lado a lado os corpos de Mariana Rocha de Souza, 12, Bianca Rocha Tavares, 13, e Milena dos Santos Nascimento, 14. O corpo de Géssica Guedes Pereira, 15, foi velado na unidade e enterrado no Cemitério de Ricardo de Albuquerque.

Na Sulacap, o irmão Carlos Maurício se despediu de Rafael Pereira da Silva,14 anos. O último enterro foi de Igor Moraes da Silva, 13. De cabeça baixa e em silêncio, o irmão dele, Eduardo, 11, causou comoção ao chegar ao velório segurando flores para Igor.

Eduardo estuda no mesmo colégio, na sala 7, ao lado da 5, onde houve a matança. “Fiquei trancado na sala, ouvindo os tiros e rezando para meu irmão (não ser atingido)”, diz.

O corpo de Ana Carolina Pacheco da Silva, de 13, será cremado hoje.
Reportagem de Francisco Edson Alves e Diogo Dias

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