A ação de ontem foi provocada por um rapaz que, nitidamente, tinha a personalidade perturbada. Mesmo assim, o massacre de alunos entre 12 e 14 anos expõe a insegurança das escolas do Rio de Janeiro e do Brasil. Professores com salas superlotadas têm que lidar com alunos sem assistência psicológica ou social, que convivem também com a violência em suas comunidades e acabam levando para a sala de aula o exemplo do dia a dia.
O assassino deixou uma carta mostrando que já planejava se matar após a ação e descrevia como gostaria de ser enterrado no túmulo de sua mãe. Ex-aluno da escola, esteve na semana passada no local para pedir seu histórico escolar.
O colégio comemorava 40 anos e estava convocando ex-alunos para darem palestras contando sua experiência. O assassino se identificou no porteiro eletrônico e pediu para falar com a professora Dorotéia. Foi autorizado a entrar. Ela reconheceu o ex-aluno. Os dois conversaram por instantes e ela pediu para ele aguardar. Wellington não esperou e seguiu ao primeiro andar, entrando na sala 5, onde estava uma turma da 8ª série.
O assassino colocou a bolsa que carregava sobre a mesa e disse: "Vim dar uma palestra para vocês". Em seguida, sacou duas pistolas e começou a atirar. Um dos alunos contou que ele mirava na cabeça das meninas para matar, e nos braços e pernas dos meninos apenas para ferir. Porém, poupou os professores. Entre os 12 mortos, 10 são meninas e 2 são meninos.
No meio do tiroteio, duas crianças feridas conseguiram fugir com ajuda de uma professora. Andaram três quarteirões e se depararam com policiais fazendo operação de trânsito. Os dois foram levados ao hospital enquanto dois PMs foram à escola. O terceiro-sargento Márcio Alexandre Alves entrou no colégio e abordou o criminoso, quando ele já havia feito disparos numa segunda sala e se preparava para subir ao terceiro andar, onde ficava o ensino fundamental. Wellington atirou contra o PM, que reagiu e acertou o abdômen do assassino. O ex-aluno correu para a escada e deu um tiro na cabeça.
O governador Sérgio Cabral (PMDB) e o prefeito Eduardo Paes (PMDB) estiveram na escola. Cabral, demonstrando indignação e revolta, se referiu a Wellington como "um animal psicopata". O governador, que decretou luto por sete dias, disse que é preciso investigar porque o assassino tinha tanto armamento, se referindo aos revólveres calibre 38 e 32 e ao cinturão de balas, que possibilitou que ele recarregasse as armas três vezes, dando mais de 30 tiros.
O massacre do Realengo deve reforçar o debate sobre a necessidade de nova campanha de desarmamento, que é defendida pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. "Temos de lutar contra a cultura do armamento", disse, após participar de evento na Paraíba.
Valor Econômico
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