sexta-feira, 1 de abril de 2011

Um Rio de Janeiro de pixels e samba

Por Maurício Meireles
O Rio de Janeiro pode até não sair de moda, ser famoso pelas belezas naturais e objeto de desejo de turistas de todo o mundo. Mas o Rio que vai ficar famoso nas próximas semanas não é obra conjunta da natureza e do homem. Foi esculpido em Connecticut, nos Estados Unidos, por 300 animadores sob a batuta de um carioca radicado em Nova York: Carlos Saldanha. Rio, a nova animação dirigida por ele, chega aos cinemas na sexta-feira (8) e tem potencial para repetir o último sucesso do diretor, Era do Gelo 3, que chegou ao topo da bilheteria mundial de 2009, com renda de 900 milhões de dólares.
O filme conta a história da arara-azul Blu, dublada por Jesse Eisenberg (de A Rede Social), que foi parar no frio Estado de Minnesota, nos EUA, onde foi domesticado por uma simpática nerd. Além de não saber voar, Blu é cheio de tiques nervosos e manias. Os dois são abordados pelo ornitólogo Túlio (Rodrigo Santoro), que conta ser Blu o último macho de sua espécie e convence sua dona a levá-lo ao Rio de Janeiro para acasalar com Jewel (Anne Hathaway), a última fêmea. Na Cidade Maravilhosa, onde Blu se descobre um estrangeiro em sua própria terra, a dupla é sequestrada por traficantes de animais e precisa dar um jeito de fugir. Os dois são perseguidos pela cacatua Nigel, capaganga dos traficantes dublada por Jemaine Clement, um dos pontos altos do filme. Todo o enredo se desenrola durante o carnaval.

Se o Rio de Saldanha tem a mágica das animações dos antigos filmes dos estúdios Disney — hoje relegados à memória da era 2D — isso se deve ao olhar estrangeiro do seu diretor. Há mais de 20 anos fora do Brasil, Saldanha, sempre que volta ao Rio, olha a cidade como um turista. “Adoro a sensação de ver o Rio pela primeira vez. Me sinto um turista, presto atenção em detalhes que passariam batido. Quis passar essa sensação para quem assistir ao filme”, afirmou em visita ao Brasil. Ele conseguiu. Embora artificial, o Rio que o diretor criou em Connecticut tem as cores e as paisagens de tirar o fôlego da cidade real. O uso do 3D enriquece a beleza do longa de um jeito que, quando os protagonistas pulam de asa-delta da Pedra da Gávea, dá para sentir o frio na barriga que antecede o pulo. As reproduções em 3D do Corcovado, Santa Teresa e a Vista Chinesa também não deixam a desejar.
Rio dá samba não só pelas montanhas e praias de pixels. O elenco de dubladores é talentoso. Todos foram orientados por Saldanha a soar como eles mesmos, evitando vozes cartunescas. “Cheguei ao estúdio implorando ao Carlos que me deixasse fazer um sotaque português… Ou o certo é dizer brasileiro?”, afirmou Anne Hathaway a ÉPOCA, se confundindo com as palavras. “Fiquei surpresa quando me disseram que eu deveria soar como eu mesma”. Por isso, o texto que as aves do filme falam foi construído de forma colaborativa e espontânea. Os atores não só tinham liberdade como eram encorajados a improvisar, ir além do roteiro. “Carlos sempre me encorajou a fazer piadas que não estavam previstas, usar a minha personalidade”, disse Eisenberg. O vilão Nigel é uma atração a parte e tem o carisma dos grandes vilões infantis. É uma cacatua feia que se alimenta de frango e foi um grande astro de telenovelas — até ser trocado por uma ave mais jovem e bonita. Seu número musical, com a canção “Pretty Bird” escrita pelo próprio dublador, é um dos melhores momentos do filme.

No carnaval de Saldanha, quem desfila na produção musical é o músico brasileiro Sérgio Mendes, com composições de Will.i.am (do Black Eyed Peas), Taio Cruz e Carlinhos Brown. Rio gravita do samba ao funk e tem músicas que contagiam. É o que se vê na nova de “Mas que nada”, que fez sucesso no exterior com o grupo Brasil ’66, liderado por Sérgio e é aparece na animação. Na primeira cena do filme o espectador dá de cara com um samba-enredo com uma percussão rica, valorizada pelo som de uma boa sala de cinema, e cantando em inglês. Rio tem suingue.

O filme, que no fim das contas se revela uma história de amor, vai agradar a crianças e adultos. Para o público carioca o filme terá um significado especial, por conta do momento de recuperação da auto-estima da cidade, que vai sediar os grandes eventos esportivos e tem recuperado territórios antes dominados pelo tráfico. Carlos Saldanha prova que, além de dar samba, o Rio dá cinemão de qualidade.

Redação Época

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...