sábado, 12 de setembro de 2009

Balões da Leis Seca estariam ajudando motoristas a escapar das blitz

Foto: Divulgação

RIO DE JANEIRO - Há cerca de dez dias, o engenheiro Lauro Esteves, 49, voltava para casa pela Rua Pinheiro Guimarães, em Botafogo, quando, de longe, avistou suspenso a uma altura de mais ou menos dez metros, o imponente balão branco das blitz da Lei Seca.

– Se eu estivesse embriagado, bastaria dobrar à direita e seguir para o Túnel Velho, em vez de passar pela Rua São João Batista, onde estava armada a blitz – conta o engenheiro.

– Como eu estava sóbrio, segui em frente e ainda comentei com um dos PMs que aquele balão era a maior bandeira e que os bêbados poderiam facilmente escapar da barreira ao avistá-lo de longe.

Segundo Esteves, o policial militar apenas sorriu sarcasticamente e balançou a cabeça como se também desaprovasse a parafernália.

Não faltam relatos de fugas da fiscalização, que, só no último mês de julho, contribuiu para uma redução de 20,6% no número de vítimas de acidentes de trânsito no Rio em relação ao mesmo mês de 2008. Apesar da melhora, muita gente concorda que a quantidade de motoristas alcoolizados flagrados pelos etilômetros poderia ser muito maior se não houvesse o chamativo balão.

A Secretaria de Governo do Estado, responsável pelas blitzes da Lei Seca, informou que o balão funciona como um aviso para que o motorista reduza a velocidade do veículo e evite acidentes. Alegou ainda, que, mesmo com as informações de que motoristas desviam ao avistar o balão, ele permanecerá por ser um elemento fundamental para a segurança das operações.

Além do balão, o twiter é outro aliado daqueles que com certeza ficariam detidos nas barreiras, correndo o risco de, além de pagar multa de R$ 957,70 perder a carteira de motorista por 12 meses.

Internautas utilizam o microblog para trocar informações sobre a localização das operações e, assim, fugir delas. Até o momento em que esta reportagem era produzida, o twitter contra a Lei Seca contava com 6.522 seguidores, que também informa sobre condições de trânsito e acidentes.

Na opinião do advogado Luiz Guilherme Natalizi, a divulgação das blitz na internet está longe de ser criminosa.

– Do ponto de vista da legislação penal, não é crime divulgar informações de localização de blitz. Proibir ou censurar pode violar a liberdade de expressão.

A química Roberta Oliveira, 30, diz que utiliza os serviços do “Lei Seca é o cacete”, no twitter, por achar que a lei é rigorosa com aqueles que “sabem beber”.

– É prático, eu vejo o twitter pelo celular e fujo das blitz. Consigo beber e ficar tranquila, mas, infelizmente, as pessoas exageram.

Para fugir da Lei Seca o estudante, X, 22, também recorre ao twitter.

– Dificilmente vão acabar com isso. Além do twitter, tem o balão para avisar. Sempre dá para fugir.

Outro estudante diz que seu maior aliado é o balão:

- Outro dia, quando o vi, entrei na garagem de um prédio e fiquei lá até a blitz acabar – conta D., 23.

PM diz que fará mais operações este ano

Apesar da ocorrência de muitas falsas blitz promovidas por marginais, a Secretaria de Governo do estado nega que os balões da Lei Seca tenham a função de avisar aos motoristas que trata-se de uma ação legalizada.

A Polícia Militar, que apóia as operações contra o álcool, comemora o saldo de, em suas próprias blitz, ter retirado das ruas só este ano 13.696 motocicletas ilegais na região metropolitana do Rio.

Segundo a assessoria de comunicação da Polícia Militar, os batalhões possuem uma seção de planejamento, responsável pelas blitz da unidade.

Quem determina quando e onde elas vão acontecer é o comandante do batalhão, a partir do planejamento prévio, que leva em consideração os índices criminais e as informações do setor de inteligência.

Tendência é aumentar

Com a determinação do comandante-geral da PM, Mário Sérgio Duarte, de enxugar o efetivo administrativo nos batalhões, as blitz tendem a aumentar este ano em relação a 2008.

A Polícia Militar afirma que toda ação de abordagem, antes de ser efetuada, deve ser analisada e inclusive com a escolha do momento certo e do local adequados.

Ainda segundo a Polícia Militar, as blitz podem ser programadas (com planejamento prévio) ou inopinadas (avaliação de necessidade). As revistas programadas são feitas com três viaturas ou mais, entretanto, uma blitz pode ser feita por um único veículo, desde que sejam seguidas as orientações específicas.

Nas operações de revista programadas, normalmente há a presença de um oficial. Nas demais, nem sempre.

REPORTAGEM: MARIO CARIOCA
EDIÇÃO DE TEXTO:RAFAELA SOARES
FOTOS: CENTRAL CONDE DE JORNALISMO

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