Os
policiais militares do 7º BPM (São Gonçalo) acusados de receberem
propina de traficantes sequestravam os criminosos e exigiam mais
dinheiro, além do que já era pago semanalmente, para que eles fossem
liberados. Em outros casos, os bandidos eram capturados quando o valor
da propina ainda não havia sido pago. Era uma forma de pressionar os
criminosos. Quando o valor exigido não era pago, os traficantes eram
levados para a delegacia e ficavam presos.
- Sequestravam como
forma de receber ainda mais rápido a propina, até mesmo aumentando o seu
valor. Faziam para que não houvesse inadimplência - afirmou o delegado
Fábio Barucke, titular da Delegacia de Homicídios de Niterói e São
Gonçalo (DHNSG), responsável pelas investigações, durante coletiva de
imprensa no Centro Integrado de Comando e Controle.
As
investigações demonstraram que os policiais recebiam propina para não
combater o tráfico de drogas nas comunidades de São Gonçalo. Além disso,
revendiam armas e drogas apreendidas nas operaçãoes para os bandidos.
Numa situação, um dos policiais chegou a oferecer escolta para um
“bonde” (grupo) de criminosos se deslocar, após um traficante ter
perguntado a ele se era possível alugar um fuzil da própria Polícia
Militar para o tráfico.
Os valores eram pagos a diferentes
equipes, todas operacionais - Grupo de Ações Táticas (GAT), Serviço
Reservado (P2) e Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO). De acordo
com a polícia, a quantia repassada variava de acordo com o grupo.
Todos
os agentes alvos da operação são praças e foram lotados no 7º BPM (São
Gonçalo) entre 2014 e 2016. A quantidade de policiais acusados de
corrupção representa cerca de 15% do efetivo da unidade, composta por
pouco mais de 700 homens. De acordo com a investigação, semanalmente os
agentes recebiam cerca de 250 mil reais de propina do tráfico. Segundo a
Polícia Civil, essa é a maior operação de combate à corrupção policial
já feita no Estado do Rio.
Até o início da tarde desta
quinta-feira, 62 policiais militares já tinham sido presos, além de 22
traficantes. Dos PMs que tiveram a prisão decretada, 41 estavam
atualmente no 7º BPM (São Gonçalo), 20 no 12º BPM (Niterói) e 15 do 35º
BPM (Itaboraí). O restante está lotado em outras unidades da PM.
A ação foi batizada de operação Calabar — em referência a Domingos Fernandes Calabar,
considerado o maior traidor da história brasileira. Além dos PMs, a
Justiça expediu também mandados de prisão contra traficantes. No total,
são 184 mandados de prisão. O esquema movimentava cerca de um milhão de
reais por mês.
Investigação
A investigação
começou em fevereiro de 2016, quando agentes da Delegacia de Homicídios
de Niterói e São Gonçalo (DHNSG) prenderam um suspeito em flagrante, com
três armas de fogo e dinheiro em espécie. A partir de então, o homem —
apontado como uma espécie de "gerente da propina" do tráfico do
município, responsável por centralizar o transporte do dinheiro e o
pagamento a diferentes grupos de policiais — aceitou colaborar com os
agentes em troca de uma diminuição em sua pena. Ele está sob proteção do
estado. De acordo com informações da polícia, há outro traficante que
também está negociando fazer uma delação premiada.
Numa série de
depoimentos prestados na especializada, ele esmiuçou como era o esquema
de distribuição de propina do tráfico entre os PMs do 7º BPM, apontou os
nomes de 96 agentes que recebiam valores semanalmente e entregou uma
lista de números de telefones utilizados por policiais e por traficantes
responsáveis pelos pagamentos. Segundo o relato do colaborador, o
tráfico distribuía cerca de 250 mil reais semanalmente entre PMs que
trabalhavam nos Grupos de Ação Tática (GATs),
na P-2 (Serviço Reservado)
do batalhão, em Destacamentos de Policiamento Ostensivo (DPOs) nos
bairros do Salgueiro, de Santa Luzia, de Santa Izabel, do Jockey, do
Jardim Catarina, e as ocupações dos morros da Coruja e do Alto dos
Mineiros. A entrega do dinheiro era feita, geralmente, nas noites de
sábado.
Em troca do pagamento, os policiais deveriam evitar
operações em 44 favelas de São Gonçalo dominadas pela maior facção do
Rio. A divisão era feita de acordo com a lotação dos policiais e com o
perigo que esses agentes representavam para a facção. Por exemplo: cada
GAT — grupos de agentes responsáveis por incursões em favelas — recebia
R$ 20 mil por semana; já PMs baseados em cada um dos DPOs recebiam R$
7,5 mil.
O dinheiro da propina era entregue para Daniel Soares e Renato Amarelo. Eles repassavam as quantias para os policiais militares.
Da Redação com EXTRA
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