sexta-feira, 30 de junho de 2017

PMs acusados de receber propina sequestravam traficantes e cobravam dinheiro para que eles fossem libertados


Os policiais militares do 7º BPM (São Gonçalo) acusados de receberem propina de traficantes sequestravam os criminosos e exigiam mais dinheiro, além do que já era pago semanalmente, para que eles fossem liberados. Em outros casos, os bandidos eram capturados quando o valor da propina ainda não havia sido pago. Era uma forma de pressionar os criminosos. Quando o valor exigido não era pago, os traficantes eram levados para a delegacia e ficavam presos.

- Sequestravam como forma de receber ainda mais rápido a propina, até mesmo aumentando o seu valor. Faziam para que não houvesse inadimplência - afirmou o delegado Fábio Barucke, titular da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG), responsável pelas investigações, durante coletiva de imprensa no Centro Integrado de Comando e Controle.

As investigações demonstraram que os policiais recebiam propina para não combater o tráfico de drogas nas comunidades de São Gonçalo. Além disso, revendiam armas e drogas apreendidas nas operaçãoes para os bandidos. Numa situação, um dos policiais chegou a oferecer escolta para um “bonde” (grupo) de criminosos se deslocar, após um traficante ter perguntado a ele se era possível alugar um fuzil da própria Polícia Militar para o tráfico.

Os valores eram pagos a diferentes equipes, todas operacionais - Grupo de Ações Táticas (GAT), Serviço Reservado (P2) e Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO). De acordo com a polícia, a quantia repassada variava de acordo com o grupo.

Todos os agentes alvos da operação são praças e foram lotados no 7º BPM (São Gonçalo) entre 2014 e 2016. A quantidade de policiais acusados de corrupção representa cerca de 15% do efetivo da unidade, composta por pouco mais de 700 homens. De acordo com a investigação, semanalmente os agentes recebiam cerca de 250 mil reais de propina do tráfico. Segundo a Polícia Civil, essa é a maior operação de combate à corrupção policial já feita no Estado do Rio.

Até o início da tarde desta quinta-feira, 62 policiais militares já tinham sido presos, além de 22 traficantes. Dos PMs que tiveram a prisão decretada, 41 estavam atualmente no 7º BPM (São Gonçalo), 20 no 12º BPM (Niterói) e 15 do 35º BPM (Itaboraí). O restante está lotado em outras unidades da PM.
A ação foi batizada de operação Calabar — em referência a Domingos Fernandes Calabar, considerado o maior traidor da história brasileira. Além dos PMs, a Justiça expediu também mandados de prisão contra traficantes. No total, são 184 mandados de prisão. O esquema movimentava cerca de um milhão de reais por mês.

Investigação
A investigação começou em fevereiro de 2016, quando agentes da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG) prenderam um suspeito em flagrante, com três armas de fogo e dinheiro em espécie. A partir de então, o homem — apontado como uma espécie de "gerente da propina" do tráfico do município, responsável por centralizar o transporte do dinheiro e o pagamento a diferentes grupos de policiais — aceitou colaborar com os agentes em troca de uma diminuição em sua pena. Ele está sob proteção do estado. De acordo com informações da polícia, há outro traficante que também está negociando fazer uma delação premiada.

Numa série de depoimentos prestados na especializada, ele esmiuçou como era o esquema de distribuição de propina do tráfico entre os PMs do 7º BPM, apontou os nomes de 96 agentes que recebiam valores semanalmente e entregou uma lista de números de telefones utilizados por policiais e por traficantes responsáveis pelos pagamentos. Segundo o relato do colaborador, o tráfico distribuía cerca de 250 mil reais semanalmente entre PMs que trabalhavam nos Grupos de Ação Tática (GATs),
 na P-2 (Serviço Reservado) do batalhão, em Destacamentos de Policiamento Ostensivo (DPOs) nos bairros do Salgueiro, de Santa Luzia, de Santa Izabel, do Jockey, do Jardim Catarina, e as ocupações dos morros da Coruja e do Alto dos Mineiros. A entrega do dinheiro era feita, geralmente, nas noites de sábado.

Em troca do pagamento, os policiais deveriam evitar operações em 44 favelas de São Gonçalo dominadas pela maior facção do Rio. A divisão era feita de acordo com a lotação dos policiais e com o perigo que esses agentes representavam para a facção. Por exemplo: cada GAT — grupos de agentes responsáveis por incursões em favelas — recebia R$ 20 mil por semana; já PMs baseados em cada um dos DPOs recebiam R$ 7,5 mil.
O dinheiro da propina era entregue para Daniel Soares e Renato Amarelo. Eles repassavam as quantias para os policiais militares.

Da Redação com  EXTRA

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