
Jovem, famoso, bonito, rebolativo, desejado pelas garotas de sexta série, odiado por todos os meninos da classe. Justin Bieber? Não, Peter Frampton.
Peter, aos 26 anos, tinha dez anos de carreira quando se tornou o homem mais desejado pelas adolescentes do planeta, e de Piracicaba, meu mundo. Era 1976. Ouvindo hoje, até que as músicas eram bem boas. Seu rostinho pálido, peito peludo e cachinhos dourados eram melhores.
Peter Frampton: uma diva pré-rafaelita com calças boca-de-sino. Frampton Comes Alive, o álbum duplo, era presença obrigatória em todas as festinhas, na hora da lenta. Eu tinha blusa cacharel cor de vinho e camiseta Lighthing Bolt, mas morria de vergonha de tirar as meninas para dançar.
Não sabíamos dos quinze anos de currículo de Frampton, de seus cinco discos com o Humble Pie, de seus créditos em All Things Must Pass, o único álbum de George Harrison que todo mundo deve ter. E quem sabia? Não perdoava também.
Os irmãos mais velhos dos meus amigos - que, aos 15 anos, já nos pareciam velhos vividos e gurus do rock - estavam em outras: rock pauleira, Deep Purple, Kiss; rock progressivo, Genesis, Yes. Isso em casa.
Nas brincadeiras dançantes (!), no clube Coronel Barbosa, a discoteca imperava soberana, e se dava bem quem usasse camisa havaiana e soubesse dançar. John Travolta? Embalos de Sábado à Noite? Só um ano depois.
Frampton não tinha perdão para os machos, e não tinha defeito para as meninas. Estou em você, sussurrava nos ouvidinhos das garotas, você está em mim.
E depois? Logo depois de Peter veio Leif Garrett, ainda mais bonito, zero de talento. Hoje é a vez de Justin Bieber. Entre eles Jon Bon Jovi, Duran Duran, e outros talentosos, que ficaram. E New Kids on The Block, Backstreet Boys, N'Sync, Hanson, Zac Efron, tantos outros.
É normal que os garotos adolescentes gritem revoltados: Justin Bieber é um viadinho e a música dele é uma porcaria! Eu estava lá em 1976. Falava a mesma coisa. Algumas coisas nunca mudam. Ídolos adolescentes, por exemplo, e seu efeito em garotos e garotas.
Entre Frampton e Bieber foram muitos ídolos, uns talentosos, outros não; uns construíram carreiras, outros se foram rapidamente. Mas mesmo estes estão nas memórias das meninas e meninos que os amaram e odiaram.
Para as meninas, eles foram a primeira paixão e o primeiro tesão, amor perfeito e êxtase sem risco, o príncipe encantado, delicado, andrógino, ideal - porque impossível. Para os meninos, tudo que eles não seriam jamais.

Neste 2010, lançou seu 14º disco solo, abriu para o Yes em uma excursão americana, tocou semanas atrás em São Paulo. Vive de glórias passadas - quem não aos 60 anos, ou mesmo aos 40? Mas vive, e manda bem.
Que Justin Bieber possa ter tanto talento e fãs tão devotados quando for coroa e feioso.
Eu? Nunca serei fã de Peter Frampton. Só eu sei o mal que ele me fez aos doze anos. Mas já o perdoei faz tempo. Foi quando ele atirou pela janela os cachinhos, a pose de gatinho, e uma fortuna.
Lição para os jovens, ídolos ou não: o sucesso tem suas regras. Mas chega uma hora na vida que você tem que quebrar todas as regras.
Da Redação com André Forastieri
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