segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

‘Estou tentando ficar tranquilo’, diz Gil Rugai ao chegar para julgamento

Acusado de matar pai e madrasta, estudante disse estar 'confiante'.
Júri acontece no fórum da Barra Funda, na Zona Oeste de SP.

Acusado de matar o pai e madrasta, o estudante e ex-seminarista Gil Rugai chegou por volta das 10h desta segunda-feira (18) ao Fórum da Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo. “Estou tentando ficar tranquilo. Estou confiante. As provas não dizem nada”, disse aos jornalistas. O réu, que atualmente tem 29 anos de idade, sempre negou o crime, ocorrido em março de 2004. Ele, que já chegou a ficar preso por dois anos durante o processo, responde em liberdade.

Na tentativa de despistar a imprensa, a defesa colocou o irmão de Gil Rugai, que se parece muito com o acusado, para passar próximo aos repórteres e organizou a entrada de Gil por uma porta lateral. Gil Rugai veste terno e gravata.
Caberá a sete jurados no Fórum da Barra Funda decidirem, a partir das provas da acusação e da defesa, se Gil Rugai matou ou não pai, Luiz Carlos Rugai, e a madrasta Alessandra de Fátima Troitino. O crime ocorreu por volta das 21h30 de 28 de março de 2004. Além do homicídio, Gil Rugai também é acusado do estelionato. Ele poderá ser condenado ou absolvido pelo júri popular.

O promotor Rogério Leão Zagallo afirmou nesta manhã, antes do início do julgamento, que tem provas de que o ex-seminarista cometeu o crime. Ele espera que os jurados condenem o réu e que a justiça aplique uma pena dura. “No meu entendimento, o crime de homicídio doloso tem que ser respondido à altura. Algo em torno de uma condenação de 30 de reclusão”, disse. Segundo a promotoria, caso seja condenado, Gil Rugai deverá sair preso do fórum. A defesa, no entanto, já adiantou que em uma eventual condenação irá pedir para o réu que, já responde ao processo em liberdade, continuar solto.

Ubirajara Mangini, advogado da família de Alessadra e assistente da acusação, contou que os seus clientes não devem comparecer ao júri. “Para mim, o crime não foi movido por vingança. Ele matou a Alessandra e Luiz porque foi descoberto pelo pai que ele desviou dinheiro da empresa, falsificou assinatura do pai e tinha medo de ser preso por conta disso”, afirmou.

Segundo Ubirajara, o desvio está comprovado nos autos. “Há prova de que houve desvio e de que o pai proibiu que ele fizesse qualquer movimentação dentro banco”, disse Ubirajara. Segundo o advogado, Alessandra assumiu a função de Gil como diretora financeira. Ubirajara destacou ainda que na segunda-feira Luiz iria tomar medidas judiciais contra o filho. “A vingança não está colocada no processo, mas veio um sentimento de revolta e o medo de ser preso.”
Casa onde ocorreu crime em Perdizes, na Zona Oeste (Foto: Arquivo/Kleber Tomaz/G1) 
Casa onde ocorreu crime em Perdizes,
na Zona Oeste (Foto: Arquivo/Kleber Tomaz/G1)
O casal foi morto com 11 tiros na residência em que morava na Rua Atibaia, em Perdizes, na Zona Oeste da cidade. No mesmo processo pelo homicídio, Gil Rugai responde ainda a acusação de ter dado um desfalque de mais de R$ 100 mil, em valores da época, à empresa do pai. Razão pela qual havia sido expulso do imóvel cinco dias antes do crime. Ele cuidava da contabilidade da ‘Referência Filmes’.
Contra o réu, a Promotoria diz ter como provas: a arma do crime, achada no prédio onde Gil Rugai mantinha um escritório e uma pegada na porta da casa das vítimas que foi arrombada pelo assassino. Quem acusa é o promotor do caso, Rogério Leão Zagallo. O G1 não conseguiu localizá-lo para comentar o assunto. A equipe de reportagem também não encontrou o advogado da família de Alessandra, Ubirajara Mangini Kuhn Pereira, assistente de acusação, para falar.
O julgamento de Gil Rugai já foi adiado por duas vezes, em 2011 e 2012, por causa de pedidos da defesa, que solicitou à Justiça a realização de um novo exame de DNA do sangue recolhido na cena do crime e do acusado. Além disso, pediu esclarecimentos de um perito.
O que alegam defesa e acusação no caso Gil Rugai
  Defesa Acusação
Horário do crime Disparos foram entre 21h54 e 22h13, quando ele estava no escritório dele, longe da cena do crime. Ligações telefônicas comprovam álibi Tiros ocorreram entre 21h15 e 21h30, quando Gil Rugai não comprovou onde estava e não apresentou álibi
Motivo do crime Relacionamento de Gil Rugai com pai e madrasta era bom e não houve desfalques financeiros na empresa Desviou mais de R$ 100 mil da produtora do pai, que o expulsou de casa
Pegada na porta Borrão não é do estudante, que não teria força suficiente para arrombá-la Polícia Técnico-Científica concluiu que borrão na porta arrombada da residência das vítimas era do estudante. Praticante de artes marciais, teria força para derrubar a porta, segundo um de seus professores de jiu-jitsu. Radiografia no pé do réu mostrou que ele teve fissura na região compatível com golpe aplicado na porta
Arma do crime Polícia Civil ‘plantou’ a pistola, ameaçou testemunhas e ‘mexeu’ na cena do assassinato para incriminar Gil Rugai Pistola PT 380 foi encontrada na caixa de retenção de água pluvial do prédio onde o acusado mantinha escritório da sua produtora
O risco de um novo adiamento é possível. Para isso, as partes envolvidas no processo teriam de alegar algum problema para a realização do júri. Por exemplo, a ausência de alguma das testemunhas.
Segundo o TJ, 15 testemunhas (5 de acusação, 9 de defesa e uma do juízo) serão ouvidas no julgamento. Os nomes não foram informados pela assessoria do tribunal.
Uma das testemunhas que serão ouvidas é o vigilante Domingos Ramos de Oliveira Andrade. No processo, ele relatou que viu Gil Rugai e uma outra pessoa não identificada saírem juntos da casa das vítimas na noite do crime.
A Polícia Civil, no entanto, só conseguiu apontar o estudante como o principal e único suspeito pelos assassinatos. A única pessoa investigada como suposta comparsa de Gil Rugai foi Maristela Greco, mãe do estudante. Mas como ela apresentou um álibi que convenceu os investigadores e foi descartada a participação dela no crime.
Em entrevista ao Fantástico em 2004, Gil Rugai negou ter matado as vítimas. "Nunca conseguiria fazer isso. Nunca conseguiria matar uma pessoa, imagina, é absurdo", disse o estudante naquela ocasião.
A estratégia da defesa no júri de Gil Rugai será a de desqualificar as provas apresentadas pelo Ministério Público, negando que seu cliente matou o pai e a madrasta ao afirmar que o relacionamento dele com as vítimas era bom. Também dirá que a pegada na porta não é do réu e que o estudante estava em seu escritório quando o crime ocorreu. Sobre a arma do assassinato, dirá que ela foi ‘plantada’ pela polícia.
Gil Rugai chegou a ficar preso entre 2004 e 2006, mas teve a liberdade concedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em 9 de setembro de 2008, no entanto, ele voltou à cadeia depois de ter o pedido de liberdade provisória revogado a pedido do Ministério Público, por ter mudado de cidade sem avisar o juiz. A defesa recorreu e o estudante foi solto em 10 de fevereiro de 2010.
Atualmente, o réu mora com a avó materna, Conceição, em uma casa no bairro do Sumarezinho. Procurados recentemente na residência, uma empregada afirmou que nenhum dos dois morava no local. Vizinho dizem que ele não estuda mais Teologia e nem trabalha. Sua rotina ser resumiria a ir à missa todos dias.
Julgamento Gil Rugai (Foto: Arte/G1)

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