quinta-feira, 27 de maio de 2010

Justiça autoriza professora a usar sêmen de marido morto no Paraná

Kátia Lenerneier quer ficar grávida por inseminação artificial em Curitiba.Médico que realizar a fertilização pode ser punido por conselho federal.
Kátia Lerneiner ao lado do marido Roberto Niels, que morreu 
em fevereiro deste ano
Kátia ao lado do marido Roberto, que morreu em
fevereiro deste ano (Foto: Arquivo pessoal)
O juiz Alexandre Gomes Gonçalves, da 13ª Vara Cível de Curitiba, concedeu liminar para a professora Kátia Lenerneier, 38 anos, poder usar o sêmen congelado do marido e fazer uma inseminação artificial.
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O posicionamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) é contrário ao da Justiça e pode punir o médico que realizar o procedimento, de acordo com a resolução 1.385 do órgão, que só autoriza a fecundação após a morte quando houver autorização por escrito do falecido.
Kátia disse ao G1 que, junto com o marido Roberto Jefferson Niels, procurou a Clínica e Laboratório de Reprodução Humana e Andrologia (Androlab) em 2008. "Isso foi antes dele [Roberto] receber o diagnóstico de câncer, em fevereiro de 2009. Desde aquela época pretendíamos ter um filho". Ele morreu em fevereiro deste ano, após complicações do tratamento de câncer.
De acordo com a assessoria de imprensa do Conselho Regional de Medicina (CRM) do Paraná, a regulamentação que impede o procedimento é reforçada pelo Código de Ética Médica, que proíbe a reprodução assistida sem o autorização dos dois cônjuges. Kátia não tem um documento por escrito do marido que permite a inseminação após a morte. A diretoria do CRM não foi localizada para comentar o caso.
Justiça autorizou a inseminação, mas Conselho Federal de 
Medicina pode punir o médico que realizar o procedimento 
Justiça autorizou a inseminação, mas Conselho Federal de Medicina pode punir o médico que realizar o procedimento (Foto: Arquivo pessoal)

O médico Lídio Jair Ribas Centa, da Androlab, disse que o casal passou por uma consulta, em 2008, para iniciar um tratamento de fertilização, e por outra consulta no ano passado. "Isso já indica que os dois pretendiam ter um filho. Não acredito que haja, neste caso, a necessidade de um documento formal para garantir que eles queriam um filho."
Ribas disse ao G1 que consultou o CFM e o departamento jurídico da clínica para garantir seus direitos profissionais caso realize a inseminação em Kátia. "Acredito que a decisão da Justiça é soberana". Ele afirmou ainda que a professora já está apta a iniciar o procedimento para a inseminação. "Basta ela procurar a clínica dois dias após a menstruação. A partir daí ela passa a receber medicação para ovular e, no 13º ou 14º dia seguinte fazemos a inseminação. O resultado sai em 14 dias", disse o médico.
A quantidade de sêmen de Roberto que foi congelado permitirá que Kátia tenha três tentativas de inseminação. "Em cada uma das tentativas, as chances de fertilização é de 15% a 25%. Somadas as três tentativas, ela tem cerca de 60% de chances de concretizar a fertilização", afirmou Ribas.
Sobre a possibilidade de punição ao médico que realizar a inseminação, a professora disse ao G1 que acha a medida contraditória. "Por qual motivo eu e meu marido congelaríamos o sêmen? Só pode ser para inseminação artificial. Nós, isso eu posso garantir, tínhamos esse desejo. Ter um filho de meu marido é como fazer com que ele continue vivo entre nós", disse Kátia.
Expectativa familiar
A família da professora está ansiosa pela realização do sonho de Kátia em ser mãe. "Eles tinham esse sonho e será maravilhoso que uma criança nasça do amor deles. Estamos torcendo para que dê tudo certo", disse a mãe de Kátia, dona Veneza Lenerneier.
"Os pais do Roberto estão querendo um neto. Eles estão adorando a ideia de serem avós mesmo depois de perder o filho. O  congelamento do sêmen se tornou uma garantia para nós, já que agressividade do tratamento contra o câncer poderia deixá-lo estéril", disse a professora.
Kátia disse ao G1 que se sentiria lesada duplamente caso seja impedida de realizar a inseminação. "Paguei R$ 300 pelo congelamento do sêmen e outros R$ 70 de manuntenção mensal. É um custo alto. Descartar o sêmen de meu marido seria um prejuízo mais do que financeiro. Tenho condições de criar e educar um filho. Essa possibilidade não pode ser retirada de mim."

Da Redação Com G1
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