Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
No Carnaval, um adolescente de 14 anos morreu e outros quatro homens ficaram feridos durante um intenso tiroteio entre traficantes e policiais militares da UPP São Carlos na esquina da rua São Carlos e Ladeira São Diniz, no Morro São Carlos. A troca de tiros aconteceu quando mais de 500 pessoas participavam do Bloco Boi Sem Chifre, o que provocou pânico, correria e revolta na comunidade. Uma viatura da Polícia Militar foi incendiada.
A intensa troca de tiros provocou a morte de Wendell Timóteo Rodrigues Nunes, 14 anos, atingido por um tiro de pistola que perfurou o pulmão. "Meu neto gostava de se divertir como todas as crianças da idade dele. A minha vida ficou muito mais triste. Esse Carnaval será de grande tristeza", lamentou Eliane Rodrigues, avó da vítima.

Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia
Viatura da PM foi incendiada durante o Carnaval | Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia
O mototaxista Diego Gonçalves dos Santos, 25, levou um tiro nas costas. Os dois e um terceiro homem ainda não identificado foram socorridos no Hospital Central da Policia Militar.Entre os feridos estão Marcílio Cheru de Oliveira, o Cheru, 24 anos, e Paulo Roberto Barros dos Santos, 24, o Dorei, apontados como os principais líderes do tráfico de drogas no morro, segundo a Polícia Militar. Uma denúncia levou os PMs até o Bar da Loura, na esquina da Rua São Carlos com Ladeira São Diniz, onde estariam Cheru e Dorei. Após reconhecer os suspeitos, os policiais deram voz de prisão a Cheru, o que provocou a reação dos seus comparsas.
Marcílio Cheru de Oliveira, o Cheru, é procurado pela polícia | Foto: Divulgação
Marcílio Cheru de Oliveira, o Cheru, é procurado pela polícia | Foto: Divulgação
Já os líderes do tráfico, Cheru e Dorei, foram atingidos na perna e deram entrada no Hospital Souza Aguiar. "Tenho quase certeza de que os tiros que pegaram neles foram dados por seus comparsas, porque sete PMs ficaram com eles, trocando tiros, enquanto eu e mais dois estávamos encurrados em outra posição", revelou um dos policiais da UPP que participou do confronto. Dez policiais participaram do confronto. Todos os feridos levaram tiros de pistola.
Na tentativa de sair do cerco dos traficantes, os PMs abandonaram uma das viaturas que pertencia ao Grupo de Ações Táticas do Comando da UPP. "Não teve jeito. A população ali, infelizmente, ainda é muito ligada aos traficantes. O Cheru e o Dorei eram queridos e estavam bem protegidos. Um outro grupo armado apareceu no topo da Rua Sãoo Carlos, o que acelerou a nossa retirada do local, caso contrário mais pessoas iriam ser feridas ou morrer ", contou um soldado da UPP.
A revolta dos frequentadores do Bloco Boi Sem Chifre foi tão intensa quanto o tiroteio. Após queimar a viatura na Rua São Carlos, algumas pessoas atiraram garrafas e pedaços de paus contra os policiais, que responderam com spray de pimenta. Alguns moradores disseram que os policiais entraram atirando no meio do bloco. Bombeiros do quartel da Tijuca e Vila Isabel aguardaram o reforço do 4º BPM (São Cristóvão) e do Batalhão de Choque para subir o morro e apagar o fogo da viatura.
O confronto aconteceu uma semana após agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Federa prenderem 11 envolvidos com o tráfico de drogas no Morro São Carlos, entre eles o ex-comandante da UPP, capitão Luís Piedade, e o soldado Alexandre Duarte, da UPP Fallet/Fogueteiro. Ambos são suspeitos de receberem propina para liberar a venda de drogas nas comunidades.
Ex-comandante da UPP é preso
O ex-comandante da UPP do Morro do São Carlos, capitão Adjaldo Luiz Piedade, e um ex-soldado da unidade foram presos na última semana na Operação Boca Aberta, desencadeada pela Polícia Federal (PF) e Subsecretaria de Inteligência do Estado. Outras nove pessoas acusadas de envolmento com tráfico de drogas também foram presas.
Foto: Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia

 Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia
Segundo as investigações, os policiais receberiam propina do traficante Sandro Luiz de Paula Amorim, o Peixe, preso pouco antes da ocupação da Favela da Rocinha, para facilitar a venda de entorpecentes na comunidade. Ainda segundo as investigações, o capitão Piedade recebia R$ 15 mil por mês do criminoso.

Da Redação com O Dia