segunda-feira, 11 de julho de 2011

Um ano depois, África do Sul sustenta manutenção de seus 'elefantes brancos'. E mesmo assim pensa em Olimpíada...

País gastou cerca de 27 bilhões de reais no evento, e deve torrar 23 milhões por ano só para manter estádios - que, em boa parte dos casos, não têm mais uso
O estádio Moses Mabhida, em Durban, que recebeu partidas da Copa do Mundo de 2010, na África do Sul
O estádio Moses Mabhida, em Durban: mais turistas do que torcedores (David Rogers/Getty Images)
O problema não chega a ser uma surpresa - o risco de transformação dos estádios milionários em elefantes brancos era comentado desde muito antes do começo da Copa
Há exatamente um ano, o goleiro Iker Casillas, capitão da campeã Espanha, subiu às tribunas do Estádio Soccer City, em Johannesburgo, e levantou a taça Fifa, encerrando a festa da primeira Copa do Mundo sediada na África. Nesta segunda-feira, 365 dias depois, o clima é bem menos festivo entre os sul-africanos - pelo menos entre os responsáveis por administrar os estádios construídos ou reformados para a competição. Dos dez locais que receberam partidas do Mundial, pelo menos quatro transformaram-se em representantes de uma nova espécie dentro da variada fauna africana: o elefante branco. Nesses quatro estádios - entre eles o mais caro de toda a Copa -, o fim do Mundial decretou também o início de um período de longa inatividade. Sem eventos esportivos e culturais capazes de encher as arquibancadas, eles só dão prejuízo. Calcula-se que a África do Sul tenha investido cerca de 27 bilhões de reais para realizar todas as obras ligadas à Copa do Mundo. O valor estimado para a manutenção dos estádios é equivalente a 23 milhões de reais por ano. O único caso de sucesso indiscutível entre os estádios da Copa é justamente o Soccer City, palco da abertura e do encerramento.
Mas outras construções muito elogiadas por quem acompanhou o Mundial de perto são, agora, verdadeiros abacaxis para o governo (confira no quadro abaixo). E isso não chega a ser uma surpresa - o risco de transformação dos estádios milionários em elefantes brancos era comentado desde muito antes do começo da Copa. Uma boa lição para o Brasil, que realiza obras faraônicas em cidades que não têm sequer um clube na primeira divisão, como Brasília, Cuiabá, Manaus e Natal. Depois de 2014, essas quatro cidades também deverão ter seus próprios elefantes brancos, com arquibancadas vazias e contas salgadas a pagar. E se no Brasil é tarde demais para resolver o problema - as obras, com uma avalanche de dinheiro público, já estão em andamento -, na própria África do Sul o exemplo negativo da Copa parece não ter sido absorvido. No fim de semana, o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge, elogiou o "grande sucesso" da Copa de 2010 e disse que o país está pronto para receber uma Olimpíada. E o país já prepara uma possível candidatura a sede dos Jogos de 2024, em Durban ou na Cidade do Cabo - justamente as cidades que têm os maiores elefantes brancos de 2010.

A manada de elefantes brancos da Copa da África

Green Point, Cidade do Cabo


Nenhum estádio de 2010 custou tanto quanto o espetacular Green Point, um colosso coberto de fibra de vidro, às margens do oceano, sob a sombra da Montanha da Mesa, principal cartão-postal da Cidade do Cabo. O investimento de 1 bilhão de reais, porém, só serviu para os oito jogos da Copa. Desde a semifinal entre Holanda e Uruguai, o estádio só abriu as portas doze vezes. Os clubes de futebol da cidade não têm torcida suficiente para enchê-lo. A equipe de rúgbi local costuma atrair grandes públicos, mas prefere jogar em seu estádio tradicional, o Newlands, mais adequado para a prática da modalidade. Cansada de amargar tantos prejuízos, a empresa que tinha a concessão para explorar o estádio devolveu o pepino à prefeitura. Autoridades municipais discutiram até a chance de derrubá-lo - ideia que foi abandonada por causa da repercussão negativa que certamente provocaria. Ninguém sabe como transformar o Green Point num negócio lucrativo.

Da Redação com Veja

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