segunda-feira, 30 de março de 2015

Funk é cultura popular carioca

Comentando a perseguição sofrida pelo funk em nosso Brasil




Para Algumas pessoas, o funk é um fenômeno artificial importado que não representa de fato a brasilidade.
Palavras fortes. Caso alguém ainda esteja esperando, adianto que algumas pessoas parece ter se esquecido de dizer por que nada disso pode ser cultura.
Cultura não é só aquilo de que gostamos. Cultura engloba toda uma gama de experiências sociais – algumas delas nós não estamos preparados para aceitar.
O mérito da qualidade cultural do funk nem entra aqui em questão. É fato que o funk é representação cultural, gostem ou não eu.
É desconcertante ver pessoas que deveriam possuir um pouco mais de sensibilidade cultural se curvarem a nacionalismos culturais toscos. Se o samba é expressão de brasilidade, o Nordeste e o Norte não devem ser muito Brasil, já que nestes lugares é gênero musical relativamente menor.
Quando se procura desenhar o panorama da formação cultural do Brasil, palavras como “diversidade” e “miscigenação” são frequentemente usadas para retratar a ampla confluência de etnias, credos e infindáveis culturas que acompanhou a ocupação do território nacional por indígenas, portugueses, africanos e milhões de imigrantes de toda parte do mundo. O samba nasceu de uma dessas misturas, no início do século XX, oriundo de diversas manifestações culturais africanas que os escravos trouxeram consigo ao Rio de Janeiro.
Abraçar o argumento da diversidade sem analisar a fundo nosso cenário cultural, entretanto, é um equívoco. Gêneros musicais que, como o samba há mais de cem anos, disseminam-se entre as classes menos abastadas são envoltos em um preconceito social – embasado em questões morais – que, por vezes, nada tem a ver com qualidade ou prestígio.
Neste panorama, o funk e o tecnobrega hoje despontam como vanguardas musicais no exterior enquanto lutam para ser aceitos no Brasil.
O baile todo
Dos morros de onde o samba começou a reverberar, palavra muito usada pelo meu amigo Caco Pereira, hoje se ouve o funk, o pagode e os “ritmos de ostentação”. Ao longo de um território brasileiro muito mais descentralizado econômica e culturalmente, porém, regiões outrora “isoladas” servem de berço para as novas vanguardas.

Mistura de ritmos locais como o caribó e o calypso com a temática “brega”, o tecnobrega nasceu no Pará e se espalhou país afora ao longo da década de 2000. Hoje despontando no mainstream com expoentes como Gaby Amarantos e o grupo Gang do Eletro, o ritmo já emplacou música-tema de novela, colecionou honrarias nacionais e internacionais (como uma indicação de Amarantos ao Grammy Latino) e ganha espaço em programações de festivais estrangeiros, como o “caçador de talentos” South by Southwest, realizado anualmente em Austin, no estado norte-americano do Texas.

Por situação parecida passou o funk carioca, há cerca de dez anos. Totalmente distinto do ritmo homônimo surgido nos Estados Unidos em meados dos anos 60, misturando ritmos como jazz, soul e rhythm and blues e tendo em James Brown seu principal símbolo, o popular “pancadão” das favelas foi herdeiro do miami bass e adequou a seu repertório elementos de freestyle, tornando-se conhecido internacionalmente, para efeitos de diferenciação, como “baile funk”. Mais sobre a história deste gênero pode ser conferida em outra reportagem da JPress, publicada em outubro de 2012
Aceitação que esses ritmos encontram, muitas vezes, mais facilmente no exterior do que em território nacional não são indícios de particularidade do preconceito tupiniquim, que “é igual aos tantos outros preconceitos que o ser humano tem, independente se brasileiro ou não”.
A rejeição causada pelas produções simples e letras superficiais – como no emergente “funk ostentação” – é colocada como questão de gosto, e, como diz a máxima, este “não se discute”.
No entanto, enquanto as iniciativas supracitadas buscam acabar com a segregação de gêneros em “cultura” e “subcultura” e despertar interesse do público mais “elitizado” para sons abnegados, as novas vanguardas caminham com as próprias pernas.

Ainda sobre o funk e o tecnobrega, digo a vocês, denota suas características em comum: “não dependem da aprovação de qualquer elite, financeira ou intelectual, para acontecer. São auto-sustentáveis: vivem perfeitamente dentro do seu gueto e ainda têm força para conquistar novos públicos, apesar de todo esse preconceito”.

Funk é cultura, goste você ou não

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